Ainda em tensão com Gilson Machado, Anderson Ferreira está em andanças pelo estado e não compareceu ao evento no Recife
por Cynara Maíra
Publicado em 04/08/2025, às 07h22 - Atualizado às 08h04
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizaram um ato, na tarde de domingo (3), na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
O protesto, intitulado “Reaja Brasil”, ocorreu em várias capitais como um ato em defesa do ex-presidente, que está impedido de sair de casa nos fins de semana por decisão do STF e usa tornozeleira eletrônica desde julho.
Com bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e de Israel, cartazes contra o comunismo e pedidos de anistia aos condenados do 8 de janeiro de 2023, o grupo marchou da Padaria Boa Viagem em direção à Praia do Pina, sob discursos inflamados contra o ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro acompanhou os atos à distância, por videochamada.
No Recife, a manifestação contou com dois trios elétricos e telões de LED que exibiram falas de lideranças da direita, como o pastor Silas Malafaia e políticos locais. Também cumprindo medidas cautelares, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto participou do evento.
“Somos um povo livre! Não aceitamos censura. Esse movimento não é de nenhum partido político, é um movimento do povo e pela nossa liberdade. Anistia já! Supremo é o povo”, gritou a Cabo Aênia durante a passeata.
O deputado estadual Coronel Alberto Feitosa (PL), aliado de Gilson, lembrou o episódio da prisão de Gilson Machado no início de julho. “
Jamais imaginei que ia até o Cotel ver Gilson preso sem a defesa dele sequer ter tido acesso ao processo no momento da prisão. Vocês estão acompanhando essas atitudes contra lideranças da Direita. Isso tem que acabar! O pernambucano é um povo guerreiro e eu não esperava nada menos que essa presença. O Brasil reagiu!”, discursou, sob aplausos.
O vereador do Recife Thiago Medina (PL) também criticou o ambiente institucional: “Sentimos que o Brasil não vive uma democracia de verdade. Os cidadãos têm medo de falar, de criticar uma autoridade. Esse é um ato de coragem”.
Apesar da convocação nacional, nenhum Ferreira compareceu ao evento. Anderson Ferreira, presidente estadual do PL, estava em agenda no interior e não participou da manifestação na capital.
A divisão no PL de Pernambuco espelha a cisão nacional entre os que orbitam em torno de Valdemar Costa Neto, presidente da sigla, e o grupo fiel a Jair Bolsonaro. No estado, a tensão se concentra entre Gilson Machado, nome de confiança do ex-presidente, e Anderson Ferreira, que tenta preservar a articulação partidária e já se aproximou da governadora Raquel Lyra (PSD).
Essa aproximação inclui a filiação de Andrea Medeiros, primeira-dama de Jaboatão dos Guararapes, ao PSD, partido de Raquel.
Tanto Anderson quanto Gilson querem disputar uma vaga ao Senado Federal em 2026. O embate se tornou público quando Gilson Machado se lançou como pré-candidato em entrevistas à Veja e ao PodJá, o podcast do Jamildo.com.
A reação de Anderson veio em entrevista à Rádio Folha, classificando a atitude como “equivocada”. “Um projeto pessoal não pode se sobrepor a um projeto partidário e de direita”, disse ele.
Gilson rebateu dizendo que há duas vagas ao Senado e que Bolsonaro já o havia indicado como nome do PL em Pernambuco. “É legítimo ele [Anderson] se candidatar. O presidente Bolsonaro tem um acordo com Valdemar Costa Neto de que quem indicará os candidatos ao Senado será ele mesmo. Aqui, ele já indicou que sou eu”, afirmou.
A crise interna já vinha das eleições municipais de 2024, com troca de acusações sobre falta de apoio financeiro à candidatura de Gilson à Prefeitura do Recife. O grupo de Gilson reclamava do direcionamento de recursos para o vereador Fred Ferreira, enquanto aliados de Anderson alegavam que o ex-ministro priorizava a campanha do vereador Gilson Filho em detrimento de outros nomes.