Parte do PT de Pernambuco apoia João Campos, outra quer aliança com Raquel Lyra, enquanto outros desejam liderança da legenda para 2026
por Cynara Maíra
Publicado em 09/11/2025, às 11h56 - Atualizado às 12h38
Raquel Lyra (PSD) elogiou Lula (PT) neste sábado (8), citando a "retomada de obras" federais no estado.
O elogio ocorre após Carlos Veras (PT) criticar a governadora por não receber Lula em agosto. Na mesma ocasião, João Campos (PSB) se declarou "soldado" do presidente.
O PT está dividido: a base do Recife pende para João Campos, enquanto a ala de João Paulo articula apoio a Raquel.
A articulação de Raquel foi dificultada por Gilberto Kassab (PSD), que excluiu Lula dos planos presidenciais do partido para 2026.
A disputa por alianças segue no MDB (com a convenção de Raul Henry suspensa judicialmente) e no União Brasil (dividido entre Miguel Coelho e Mendonça Filho).
A governadora Raquel Lyra (PSD) aproveitou uma agenda em Fernando de Noronha, no sábado (08), para elogiar publicamente o presidente Lula (PT).
A fala da governadora, que agradeceu ao presidente pela "retomada de obras paralisadas no estado", ocorre em um momento de indefinição na sua relação com o Partido dos Trabalhadores.
Na mesma semana, o presidente estadual do PT, Carlos Veras, fez críticas à governadora por ela não ter recebido Lula em sua última visita ao estado, em agosto.
Para complicar o cenário, o presidente nacional do PSD (partido de Raquel), Gilberto Kassab, excluiu Lula de sua lista de presidenciáveis para 2026, dificultando a articulação da governadora com o Planalto.
Durante o lançamento de um programa de energia em Noronha, Raquel Lyra citou obras como a Ferrovia Transnordestina, Adutora do Agreste, rodovias e o Minha Casa Minha Vida, além do debate sobre o Metrô do Recife. "Grande parte de tudo o que está acontecendo [...] vem de decisões políticas", disse a governadora.
O gesto de Raquel ocorre dias após Carlos Veras (PT) classificar a ausência dela na visita de Lula em agosto como "uma escolha errada". Veras, que é ligado ao senador Humberto Costa (PT), cobrou um alinhamento claro.
"Tenho dito que, se ela quer continuar sendo governadora, é melhor governar Pernambuco com Lula presidente. Então é bom que ela também nos ajude a elegê-lo", disse Veras.
Naquela visita de agosto a Brasília Teimosa, o prefeito João Campos (PSB) aproveitou a ausência da governadora.
O socialista se colocou como "soldado" do presidente e alfinetou a adversária, lembrando que seu pai, Eduardo Campos, "recebeu o presidente Lula todas as oito vezes" que ele veio a Pernambuco como governador.
Na polarização João Campos versus Raquel Lyra, o Partido dos Trabalhadores (PT) é uma das peças mais desejadas em um estado que massivamente vota no presidente Lula (PT).
Apesar de João Campos ter a vantagem com a base petista do Recife, o grupo do deputado estadual João Paulo (PT) e outros nomes trabalham para garantir maior espaço para Raquel. O mundo ideal dos petistas seria um palanque duplo de Lula em Pernambuco, com os dois maiores nomes na disputa pelo estado defendendo a sua reeleição.
O impasse é que isso não traria vantagens para João Campos, aliado mais consolidado do PT por compor o PSB, partido do vice-presidente da República, e legenda que coliga com o PT de maneira consistente desde 2018.
Segundo a jornalista Terezinha Nunes, do Blogdellas, o receio da ala petista pró-Raquel é que "na demora, o partido acabe mesmo fechando com o prefeito João Campos".
O movimento de Raquel Lyra para agradar o PT (elogiando Lula) e a pressão de petistas (como Veras) ocorrem em um cenário nacional desfavorável para a governadora. Na quinta-feira (6), seu chefe partidário, Gilberto Kassab (PSD), listou Tarcísio (Republicanos), Ratinho Jr. (PSD) e Eduardo Leite (PSD) como opções para 2026, excluindo Lula.
A exclusão acontece mesmo com o PSD ocupando três ministérios no governo federal. A fala de Kassab dificulta a articulação de Raquel, que migrou para o PSD justamente para se aproximar do Planalto.
Além do PT, a guerra fria por alianças passa por partidos como o MDB e União Brasil. O Movimento Democrático Brasileiro, inclusive, enfrenta uma disputa judicial no estado.
No dia 30 de outubro, a Justiça suspendeu a convenção estadual que reelegeu o secretário de João Campos, Raul Henry, na presidência do MDB.
Em maio, Henry venceu o deputado Jarbas Filho com 65 votos contra 49. O processo movido pelo prefeito de Bodocó, Otávio Pedrosa, e a vereadora de Paulista Kelly Tavares, afirmava que ocorreram violações no estatuto do partido.
O grupo de Jarbas Filho (aliado de Raquel Lyra) tenta articular com o comando nacional para que o senador Fernando Dueire assuma interinamente o diretório, o que "traria vantagem para os raquelistas". A mesa diretora presidida por Henry afirma que toma todas as medidas cabíveis para reverter a decisão que considera "estranha e surpreendente".
No União Brasil o impasse está entre duas figuras: o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho, presidente da legenda no estado, e o deputado Mendonça Filho, vice-presidente do UB. Enquanto Miguel apoia João Campos, Mendonça é aliado de Raquel Lyra.
Apesar de Miguel liderar o partido, a federação entre o União e o PP trouxe vantagens para os raquelistas do partido, já que o PP é uma das maiores legendas aliadas da governadora no estado e os Progressistas conseguiram a presidência da federação em Pernambuco, o que garante vantagem do grupo nas decisões.
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