Isenção do IPVA vira impasse entre base de Raquel Lyra e oposição, Gouveia tenta meio termo

Oposição defende isenção do IPVA de olho em 2026. Marcelo Gouveia diz que ação precisaria compensar municípios por diminuir arrecadação

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 06/11/2025, às 10h03 - Atualizado às 10h37

Imposto IPVA é anual
IPVA foi foco de embate entre governistas e oposição - Internet

A Comissão de Finanças da Alepe debateu 11 projetos de isenção de IPVA, com impacto estimado em R$ 500 milhões anuais.

A oposição, liderada por Antonio Coelho (União), defende a aprovação, citando baixo impacto (0,8%) no orçamento total de R$ 62 bilhões.

O Governo do Estado é contra e alega que o orçamento de 2026 não prevê a renúncia fiscal.

O presidente da Amupe, Marcelo Gouveia, alertou que os municípios perderão R$ 200 milhões (mais R$ 100 milhões do Fundeb) e exigiu compensação.

O deputado governista Antonio Moraes (PP) criticou os projetos por não indicarem a fonte da renúncia e sugeriu que a oposição visa criar dificuldades para a governadora.

A isenção do IPVA para diversas categorias se tornou o novo campo de batalha entre a oposição e a base do governo Raquel Lyra (PSD) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O clima de embate dominou uma audiência pública na Comissão de Finanças na quarta-feira (05).

A oposição, liderada pelo presidente da comissão, Antonio Coelho (União), defende a aprovação de 11 projetos que tramitam na Casa, alegando justiça social. Quatro dessas propostas já têm análise de impacto fiscal, somando uma renúncia de R$ 500 milhões anuais.

Enquanto a bancada do governo se ausentou da audiência, o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), Marcelo Gouveia, adotou um tom de cautela. Ele alertou que, sem compensação, as prefeituras podem perder R$ 200 milhões em repasses diretos, além de outros R$ 100 milhões do Fundeb.

A audiência debateu propostas que incluem isenção para motocicletas até 170 cilindradas (impacto de R$ 160 milhões), veículos com motor elétrico ou híbrido e com mais de 15 anos (R$ 279 milhões) e motoristas de aplicativo (R$ 48 milhões).

Oposição defende absorção do impacto

A investida da oposição se ampara em uma PEC aprovada em 2023, que permite aos deputados legislar sobre matéria financeira e tributária.

Antonio Coelho (União) argumentou que o impacto das renúncias fiscais pode ser absorvido pelo orçamento estadual, projetado em R$ 62 bilhões para 2026. As propostas em debate representariam cerca de R$ 500 milhões, o equivalente a apenas 0,8% desse total. Chegou o momento de valorizarmos, de forma mais justa, o esforço do trabalhador pernambucano”, afirmou.

Representantes das categorias beneficiadas reforçaram o discurso. O presidente do Sindicato dos Entregadores (Seambape), Rodrigo Lopes, defendeu a isenção como reconhecimento. Muitos de nós precisam escolher entre pagar o IPVA ou colocar comida na mesa”, disse.

Coelho defendeu que as propostas sejam priorizadas e votadas em plenário na próxima semana.

Governo e Amupe alertam para rombo

O governo estadual é contrário aos projetos. A secretária executiva da Sefaz, Cindy Barbosa, destacou que o Estado já reduziu a alíquota do IPVA (de 4% para 2% em média) e parcelou o pagamento em 10 vezes.

Ela explicou que o orçamento de 2026 foi elaborado considerando a arrecadação atual e que as isenções "poderiam comprometer a execução das ações em 2026 e nos anos seguintes. A secretária lembrou que a lei exige uma compensação, seja por aumento de outros tributos ou redução de despesas.

O presidente da Amupe, Marcelo Gouveia, focou no impacto municipal, já que 50% do IPVA é destinado às prefeituras. A Amupe não é contra benefícios aos trabalhadores, mas é preciso que venham acompanhados de medidas compensatórias. Quando se reduz a arrecadação dos municípios, faltam recursos para áreas que atendem justamente esses trabalhadores”, alertou Gouveia.

Em declaração ao Blog da Terezinha Nunes, o deputado Antonio Moraes (PP), da base governista, disse que os projetos "começaram errados" por não indicarem a fonte da renúncia fiscal. Ele ironizou a oposição: “Acho que o PSB... está prevendo a derrota de João Campos na eleição e já criando dificuldades para a governadora a partir de 2027.

Antonio Coelho rebateu o argumento do governo sobre o orçamento, afirmando que a Lei Orçamentária Anual (LOA) ainda não foi apreciada e, portanto, "está em aberto e pode ser modificada".