Mesmo com CPI, oposição mobiliza acenos para Raquel Lyra após pagamento de emendas

Instalação da CPI ocorre após meses de impasse, mas clima político sinaliza transição para articulações menos hostis entre Raquel e deputados

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 06/08/2025, às 07h47 - Atualizado às 08h44

Raquel Lyra em discurso na Alepe. A governadora pagou mais valores das emendas parlamentares poucos dias antes do retorno das atividades da Alepe. Na segunda (04), Assembleia instalou CPI que investigaria a gestão - Amaro Lima/ Alepe
Raquel Lyra em discurso na Alepe. A governadora pagou mais valores das emendas parlamentares poucos dias antes do retorno das atividades da Alepe. Na segunda (04), Assembleia instalou CPI que investigaria a gestão - Amaro Lima/ Alepe

Mesmo com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o contrato publicitário de R$ 1,2 bilhão do Governo do Estado, o segundo dia de retorno da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) indicou movimentações mais amenas da oposição em relação à governadora Raquel Lyra (PSD).

A mudança de tom ocorre dias após o Executivo apresentar um pacote de medidas voltadas aos parlamentares. No dia 31 de julho, quatro dias antes da retomada oficial da Alepe, a gestão estadual anunciou o repasse das emendas impositivas com pendências resolvidas e apresentou uma nova plataforma de acompanhamento dos trâmites.

O gesto veio após meses de cobranças por parte dos deputados, que alegavam lentidão e falhas operacionais por parte do governo.

Já na primeira reunião da Comissão de Justiça, o presidente do colegiado, deputado Alberto Feitosa (PL), marcou a sabatina do novo administrador de Fernando de Noronha, Virgílio Oliveira, para o dia 12.

O deputado do PL também distribuiu o novo pedido de empréstimo do Executivo, no valor de R$ 1,7 bilhão, para análise dos parlamentares. Em paralelo, o deputado Waldemar Borges (PSB) anunciou que apresentará na semana seguinte o parecer favorável ao projeto de R$ 1,5 bilhão que estava travado desde março.

Nos bastidores, parlamentares admitem que o anúncio das emendas reduziu a tensão com o Executivo. Um oposicionista afirmou ao BlogDellas que a decisão do governo “resolve parte da ansiedade” da base e pode facilitar o destrave das pautas.

A liberação dos recursos e o lançamento da plataforma de acompanhamento foram interpretados como um esforço de reaproximação.

Ainda que a crise entre Raquel Lyra e Álvaro Porto tenha marcado o primeiro semestre, a sinalização de aliados e movimentos da oposição indicam uma tentativa de reorganização do tabuleiro político. Resta saber se a trégua será suficiente para garantir a retomada da agenda governamental.

PL pode definir composição da CPI

A formação da CPI, no entanto, continua sendo alvo de disputa. O governo aposta na divisão interna da bancada do PL para obter maioria na comissão, cuja composição deve ser oficializada nos próximos dias.

Dos cinco deputados do partido, três assinaram a criação da CPI: Alberto Feitosa, Abimael Santos e Joel da Harpa.

Segundo apuração da jornalista Betânia Santana, da Folha de Pernambuco, Abimael Santos e Joel da Harpa já teriam sido convencidos pelo resto da bancada a recuar. 

Com apoio de Renato Antunes e Nino de Enoque, que devem garantir posição pró-governo, o Palácio do Campo das Princesas acredita ter condições de isolar Feitosa e equilibrar a correlação de forças. Hoje, sem o PL, a comissão ficaria com quatro membros governistas e quatro da oposição. A bancada governista também conta com blocos como PP, PSDB, MDB, Solidariedade, PT e PV, totalizando 24 deputados.

CPI mira contrato de publicidade

A CPI foi proposta pela deputada Dani Portela (PSOL), com apoio de 19 parlamentares, incluindo o presidente da Casa, Álvaro Porto (PSDB). O objetivo é investigar possíveis irregularidades no contrato firmado com agências de publicidade para prestação de serviços por até dez anos.

O processo chegou a ser suspenso por medida cautelar do Tribunal de Contas do Estado, mas foi liberado por decisão do Tribunal de Justiça. O desembargador Fernando Cerqueira argumentou que não havia “fundado receio de grave lesão ao erário”, justificando a continuidade da contratação.

O TCE até tentou retomar entrave, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu a liberação das ações publicitárias

Em nota, o governo afirmou que “todo o processo licitatório foi conduzido de acordo com a legislação vigente” e que segue os parâmetros estabelecidos pela nova Lei de Licitações.

Entenda impasse com as emendas

O grupo de trabalho sobre emendas parlamentares foi criado por decreto em janeiro, em meio à crise entre o Legislativo e o Executivo.

Ao apresentar os resultados, o governo alegou que a maioria das pendências era de responsabilidade dos parlamentares.

A Seplag listou 829 impedimentos, a maioria por documentação incompleta ou falhas no plano de trabalho. Deputados, por sua vez, afirmaram que caberia ao governo garantir meios técnicos para superar os entraves e cumprir o orçamento aprovado.