João Campos marca território em evento do PT em gesto para apoio de Lula contra Raquel Lyra

Desde o início de sua gestão, Raquel Lyra tem se aproximado do governo Lula, chegando a mudar de partido para ficar próxima da base do presidente

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 04/08/2025, às 13h34 - Atualizado às 14h18

João Campos quer garantir apoio exclusivo de Lula na eleição de 2026 contra Raquel Lyra
João Campos quer garantir apoio exclusivo de Lula na eleição de 2026 contra Raquel Lyra

Com as movimentações para 2026 já em curso, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), usou o 17º Encontro Nacional do PT, em Brasília, para reforçar seu alinhamento com o presidente Lula (PT).

O gesto ocorre no momento em que o PSB articula a candidatura de João ao governo de Pernambuco e busca garantir o apoio petista exclusivo, mesmo com a aproximação recente de Raquel Lyra (PSD) com o Planalto.

Durante o evento, João destacou publicamente o papel do senador Humberto Costa (PT), que encerrava seu período à frente do partido nacionalmente. O reconhecimento caiu bem entre os petistas, especialmente porque a sigla já estabeleceu como prioridade local a reeleição do senador ao Senado.

Ao assumir posição de aliado prioritário, João tenta barrar qualquer chance de palanque duplo com a governadora.

Nos bastidores, setores do PT defendem que o apoio ao PSB seja condicionado à permanência de Humberto no Senado, por ser uma das principais vozes do partido contra o bolsonarismo na Casa Alta.

A pressão cresce porque João Campos tem cinco nomes disputando duas vagas ao Senado. A equação envolve pesos pesados: além de Humberto Costa, estão no páreo Marília Arraes (Solidariedade), Miguel Coelho (União Brasil), Silvio Costa Filho (Republicanos) e Gonzaga Patriota (PSB), cada um deles com uma vantagem para o socialista: 

  • Humberto Costa já declarou que a eleição de Lula é a prioridade da legenda, mas que o Senado será estratégico para o campo progressista. A defesa de seu nome, portanto, é também uma defesa da presença do PT num espaço de protagonismo nacional.
  • Marília Arraes, ex-petista e prima de João, carrega o recall da eleição de 2022 e força no interior. Apesar da rivalidade recente com o prefeito, tem voltado a dialogar com a base lulista e pode viabilizar pontes políticas importantes.
  • Miguel Coelho representa o Vale do São Francisco, assegura parte da federação União Progressista e garante o apoio do clã Coelho, interlocutores relevantes na direita mais centrista.
  • Silvio Costa Filho, ministro de Lula, oferece capilaridade nacional, presença no Executivo federal e apoio do Republicanos.

O nome do próprio PSB na disputa é Gonzaga Patriota, ex-deputado federal que tenta emplacar sua candidatura como forma de garantir uma vaga institucional à legenda. Apesar da tradição, é considerado o menos provável, já que João vem sinalizando a preferência por uma composição mais jovem e diversa.

O gesto político de João ao PT também serve como resposta aos movimentos de Raquel Lyra. A governadora deixou o PSDB e se filiou ao PSD, partido da base de Lula, para estreitar os laços com o Planalto. Integrantes do PT como Carlos Veras já disseram que qualquer liderança que apoie Lula pode ser bem-vinda no partido, o que inclui Raquel.

Apesar da simpatia de setores do PT por Raquel, João Campos trabalha para impedir que o apoio presidencial seja dividido. “O desejo do presidente será o desejo do PT estadual”, disse Veras, indicando que a decisão final caberá a Lula.