Com 251 votos, Câmara retira da pauta a MP que incluía taxação de apostas e aplicações — e nove deputados pernambucanos votam a favor da retirada
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 10/10/2025, às 07h54
A Câmara dos Deputados aprovou, na quarta-feira (8), requerimento para retirar da pauta a Medida Provisória 1303/2025, que previa tributar rendimentos de aplicações financeiras e apostas esportivas para compensar revogação de decreto que endureceria o IOF. Com isso, a MP caducou por perder a eficácia legal.
No total, 251 parlamentares votaram a favor de tirar a medida da pauta, enquanto 193 foram contra. Entre os votos favoráveis, nove vieram de deputados de Pernambuco: André Ferreira (PL), Clarissa Tércio (PP), Coronel Meira (PL), Eduardo da Fonte (PP), Fernando Coelho (União Brasil), Fernando Rodolfo (PL), Lula da Fonte (PP), Mendonça Filho (União Brasil) e Pastor Eurico (PL).
Outros deputados pernambucanos se abstiveram da votação: Felipe Carreras (PSB), Guilherme Uchua Junior (PSB), Luciano Bivar (União Brasil) e Pastor Ossesio (Republicanos).
No texto original, a MP previa taxar produtos como LCA, LCI e LCD, bem como rendimentos de apostas (bets), com alíquotas entre 12% e 18%, além de tributar juros sobre capital próprio. O relatório estimava inicialmente arrecadar R$ 10,5 bilhões em 2025 e R$ 21 bilhões em 2026, embora negociações reduziriam a previsão para R$ 17 bilhões.
A MP também estipulava que essas receitas seriam usadas para cumprir a meta de superávit no Orçamento 2026, fixada em R$ 34,3 bilhões.
O relator da proposta, Carlos Zarattini (PT-SP), afirmou que o texto entregue ao Congresso passou por ajustes com base em demandas de parlamentares.
“Trabalhamos nesses 120 dias para garantir a aprovação da MP. Avançamos em alguns pontos, atendemos muitas reivindicações, fizemos um texto que teria todas as condições de ser aprovado nessa Casa e de ser sancionado pelo presidente da República, um texto de consenso”, disse.
Antes da votação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o acordo entre governo e Congresso para aprovação da MP, lembrando que houve negociações com parlamentares.
Com a retirada da MP, o governo federal terá de revisar o Orçamento de 2025 e buscar alternativas para compensar perdas estimadas na arrecadação de cerca de R$ 35 bilhões em 2026.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, qualificou a retirada da medida como um desrespeito às negociações já firmadas:
“Consideramos o que está acontecendo aqui hoje um ato de sabotagem contra o Brasil. [...] ficou claro que a vontade era impor uma derrota política para o Brasil, não para o presidente Lula”, afirmou.
Outros parlamentares, como Talíria Petrone (Rede-PSOL), também criticaram o movimento como antecipação eleitoral e ataque ao interesse público.
O oposicionista Mendonça Filho (União-PE) caracterizou a proposta como “MP da mentira”, observando que o aumento no IOF já havia sido derrubado, mas depois restabelecido por decisão judicial.
“Na origem ela era para substituir o aumento de IOF, que foi derrubado nessa Casa no Congresso Nacional, e que o governo recorreu [...] por decisão monocrática de um ministro do STF foi restabelecido”, afirmou.
O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, comentou que a medida era de “justiça fiscal” e criticou o poder de influência de lobbies no Legislativo:
“Nunca vi um lobby tão poderoso no Congresso Nacional quanto vi nessas duas semanas. Lobby que contou, inclusive, com a luxuosa participação de governadores de Estado.”