Catolicismo segue como o maior grupo religioso em Pernambuco; evangélicos seguem crescendo e outras crenças mostram maior inserção social
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 08/06/2025, às 11h29
O Censo Demográfico de 2022 mostrou que a fé dos pernambucanos ainda é majoritariamente católica, mas as transformações religiosas no estado seguem a tendência nacional de diversificação. Segundo o IBGE, 58,82% da população de Pernambuco se identifica como católica apostólica romana, enquanto 25,18% se declara evangélica. Outros grupos incluem espíritas (1,23%), umbandistas e candomblecistas (0,46%), seguidores de tradições indígenas (0,1%) e pessoas sem religião (10,39%). Apenas 0,17% dos pernambucanos não souberam ou preferiram não responder.
Desde 1890, quando passou a ser registrado nos censos, o número de evangélicos crescia sem pausas. A aceleração mais expressiva ocorreu entre 1991 e 2010, com um salto que chamou atenção de pesquisadores. Porém, pela primeira vez em décadas, o Censo de 2022 aponta uma desaceleração nesse crescimento.
Ainda que o número absoluto de evangélicos tenha aumentado, a velocidade com que esse grupo avançava se reduziu. Silvia Fernandes, cientista social da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), já alertava em 2022 para essa tendência. Segundo ela, à BBC News Brasil o desgaste do “efeito novidade” das igrejas pentecostais e neopentecostais, a competição entre denominações e o descontentamento de fiéis com promessas não cumpridas de cura, prosperidade e salvação moral levaram a um esvaziamento parcial.
“Desigrejados” — pessoas que deixam a igreja, mas não o cristianismo — passaram a figurar entre os “sem religião” ou “outras religiosidades”, distorcendo o mapeamento mais tradicional.
Enquanto os evangélicos perdem impulso, o catolicismo desacelera sua perda de fiéis. Entre 2000 e 2010, a queda foi de 9 pontos percentuais. Já de 2010 a 2022, a queda foi de 8,4 pontos — ainda significativa, mas menor que o pico anterior. Em Pernambuco, a fé católica continua predominante, com destaque para o Sertão. Manari, por exemplo, tem 93,44% da população católica, seguido de Calçado (92,45%) e Ingazeira (91,06%).
O crescimento mais expressivo entre 2010 e 2022 foi o das religiões de matriz africana. Os seguidores de umbanda e candomblé passaram de 0,3% para 1% da população brasileira, um salto de 252%. Em Pernambuco, os destaques são:
A analista do IBGE, Maria Goreth Santos, credita esse crescimento à redução do preconceito e à afirmação pública de fiéis que antes temiam se declarar praticantes dessas religiões. Regina Novaes, do ISER, também associa esse avanço à valorização da identidade negra e da ancestralidade entre os jovens.
No espiritismo, o epicentro pernambucano é o litoral. Olinda (3,46%), Fernando de Noronha (3,37%), Recife (3,1%) e Paulista (2,68%) lideram. Em cidades do interior, o espiritismo aparece timidamente, como em Caruaru (1,13%) e Petrolina (0,79%).
Com 0,1% da população de Pernambuco declarando seguir tradições indígenas, esses valores permanecem fortemente em locais com presença de povos originários:
Essa fé permanece viva principalmente entre os povos Pankararu, Truká, Pipipã e Fulni-ô.
Em Pernambuco, 10,39% da população afirmou não ter religião. Nacionalmente, esse grupo passou de 7,9% (2010) para 9,3% (2022), totalizando 16,4 milhões de pessoas. Segundo Silvia Fernandes, muitos desses “sem religião” não são ateus nem agnósticos, mas pessoas espiritualmente ativas que rejeitam instituições religiosas.
“Muitos desses sujeitos são sincréticos ou espiritualistas informais, que oram, creem, mas não pertencem a igrejas”, explicou a pesquisadora. Em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, os “sem religião” já superam católicos e evangélicos entre os mais jovens.
O Censo Demográfico de 2022 mostrou a consolidação das mudanças do perfil religioso do Brasil. O catolicismo apostólico romano, que em 2010 concentrava 65,1% (105,4 milhões) da população de 10 anos ou mais, passou a representar 56,7% (100,2 milhões) em 2022, uma redução de 8,4 pontos percentuais. Por outro lado, observou-se o aumento de 5,2 pontos na proporção de evangélicos, que saltaram de 21,6% (35 milhões) para 26,9% (47,4 milhões).
As pessoas sem religião passaram de 7,9% para 9,3%, enquanto religiões de matriz africana cresceram de 0,3% para 1,0%. A presença de tradições indígenas foi de 0,1%.
Segundo a analista Maria Goreth Santos, "em 150 anos de recenseamento de religião, muita coisa mudou no país e na sociedade como um todo". Ela lembra que, no primeiro Censo, em 1872, só havia a distinção entre "católico" e "acatólico", e até os escravizados eram registrados como católicos conforme os senhores.
Hoje, o levantamento contempla mais de 70 grupos religiosos e suas subdivisões, adaptando-se a uma sociedade cada vez mais plural.