Exclusivo: TCU abre processo sobre curso de Medicina da UFPE destinado a assentados

Parlamentares de direita como Thiago Medina reclamaram que curso de medicina sem vestibular beneficia apenas membros do MST. TCU abre processo

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 26/09/2025, às 06h23 - Atualizado às 07h00

Bandeiras do MST em protesto por terra em estrada de terra
MST volta a virar alvo de oposição à direita - Marco Zero Conteúdo/internet

O Tribunal de Contas da União (TCU) formalizou, nesta quarta-feira (24), um processo de representação para analisar "possíveis irregularidades em processo seletivo ao curso de medicina exclusivo a beneficiários do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)". O site Jamildo.com teve acesso exclusivo ao processo 018.493/2025-4, em primeira mão.

O processo pede a suspensão da seleção de 80 vagas de Medicina para o Agreste pernambucano, destinadas exclusivamente a assentados rurais.

Segundo o TCU, o processo foi distribuído ao ministro Benjamin Zymler, que será o relator dos autos. A procuradora geral Cristina Machado também foi sorteada para atuar no processo representando o Ministério Público de Contas junto ao TCU.

Ainda não houve análise dos auditores do TCU, nem decisão do relator nos autos.

Além do questionamento do TCU, vários parlamentares de direita prometeram denunciar o edital na Justiça Federal e no Ministério Público Federal. Não há notícia de manifestação destes órgãos sobre as denúncias dos parlamentares.

REITOR DA UFPE DIZ QUE HÁ OPORTUNISTAS CRITICANDO A INICIATIVA

O reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alfredo Gomes, defendeu a criação de uma turma especial de Medicina destinada a moradores de assentamentos rurais. A posição do reitor ocorreu em entrevista a uma rádio local, nesta quinta-feira (29).

A iniciativa da UFPE, que gerou polêmica e críticas de entidades médicas, foi classificada pelo reitor como uma ação importante para a inclusão e reparação social.

"O programa é destinado a um grupo bem mais amplo do que aqueles que vêm a público, de forma oportunista e às vezes com desinformação", afirmou o reitor sobre as críticas de políticos como do vereador Tiago Medina (PL).

O reitor esclareceu que não se trata de um novo curso de Medicina, mas sim de uma "turma extra com 80 vagas" que será oferecida uma única vez, em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

"Essa turma inicia e finaliza, e a nossa parceria com o Pronera dentro deste curso finaliza", explicou Gomes, diferenciando a iniciativa dos cursos regulares da universidade.

O público-alvo, segundo o reitor, é mais amplo do que apenas membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O programa atende a beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária, do Programa Nacional de Crédito Fundiário, educadores que atuam nessas áreas, egressos de cursos do Incra e também pessoas acampadas e quilombolas, segundo o professor.

Houve forte repercussão negativa da medida, como do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, da Associação Paulista de Medicina e de parlamentares. Até o ex-governador de Pernambuco, deputado federal Mendonça Filho (União), ex-ministro da Educação, criticou a iniciativa.