Reitor da UFPE chama de "oportunistas" políticos que criticaram novo curso de Medicina

Parlamentares de direita acusam ser curso de Medicina sem vestibular para membros do MST

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 25/09/2025, às 13h07 - Atualizado às 13h17

Thiago Medina fala em plenário da Câmara do Recife
Thiago Medina foi um dos políticos que criticaram o concurso para os quilombolas - Câmara do Recife

O reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alfredo Gomes, defendeu a criação de uma turma especial de Medicina destinada a moradores de assentamentos rurais.

A posição do reitor ocorreu em entrevista a uma rádio local, nesta quinta-feira (29).

A iniciativa da UFPE, que gerou polêmica e críticas de entidades médicas, foi classificada pelo reitor como uma ação importante para a inclusão e reparação social.

"O programa é destinado a um grupo bem mais amplo do que aqueles que vêm a público, de forma oportunista e às vezes com desinformação", afirmou o reitor sobre as críticas de políticos, como do vereador Tiago Medina (PL), conforme registrou o site Jamildo.com.

O reitor esclareceu que não se trata de um novo curso de Medicina, mas sim de uma "turma extra com 80 vagas" que será oferecida uma única vez, em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

"Essa turma inicia e finaliza, e a nossa parceria com o Pronera dentro deste curso finaliza", explicou Gomes, diferenciando a iniciativa dos cursos regulares da universidade.

O público-alvo, segundo o reitor, é mais amplo do que apenas membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O programa atende a beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária, do Programa Nacional de Crédito Fundiário, educadores que atuam nessas áreas, egressos de cursos do Incra e também pessoas acampadas e quilombolas, segundo o professor.

Um dos pontos mais criticados, o processo seletivo diferenciado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), foi confirmado pelo reitor.

A seleção para esta turma especial é baseada em uma redação e na análise do histórico escolar do ensino médio dos candidatos.

"O processo de ingresso é diferente", admitiu Gomes, justificando que a medida visa "promover a oportunidade desse grupo específico de estudar em um curso que tradicionalmente tem sido dos grupos mais privilegiados".

Questionado sobre o fato de 80 vagas, que poderiam ser abertas para a ampla concorrência, serem destinadas a um público restrito com um processo seletivo menos rigoroso, o reitor respondeu que as vagas são "extranumerárias", ou seja, adicionais às 80 já oferecidas regularmente pelo curso de Medicina no campus do Agreste.

O professor ressaltou que a universidade está dobrando seu esforço docente e técnico-administrativo para viabilizar a turma.

Gomes também contextualizou a iniciativa como uma forma de enfrentar a dificuldade histórica de levar médicos para zonas rurais.

"Existe um problema histórico no Brasil e a gente está rompendo também com essa lógica de distribuição e de formação do pessoal", declarou.

Houve forte repercussão negativa da medida, como do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, da Associação Paulista de Medicina e de parlamentares. Até o ex-governador de Pernambuco, deputado federal Mendonça Filho (União), ex-ministro da Educação, criticou a iniciativa.

As críticas apontam a curta duração do edital, que teria sido aberto e encerrado em apenas 10 dias, e o fato de a estrutura de uma universidade pública, financiada por todos, ser utilizada para uma turma com acesso restrito.

O reitor defendeu a seriedade da UFPE, uma instituição com quase 200 anos, e afirmou acreditar no "poder transformador do conhecimento e da educação". Segundo ele, os alunos selecionados passarão por uma formação de mais de 8.000 horas ao longo de seis anos, com dois anos de internato, e sairão qualificados.

"Não dá para reduzir simplesmente o processo formativo à questão do ingresso", concluiu Alfredo Gomes.