Vestibular de Medicina em Caruaru para quilombolas e assentados vira alvo de críticas; UFPE defende autonomia em turma extra

UFPE defende que por ser uma turma extra, tem autonomia para desenvolver um edital voltado para beneficiários da reforma agrária e quilombolas

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 24/09/2025, às 09h43 - Atualizado às 10h00

Fachada do Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru
Curso deve ser ofertado no Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru

Após a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) divulgar o edital de seleção para uma turma extra ao curso de Medicina no Campus de Caruaru, as principais entidades médicas de Pernambuco criticaram e se posicionaram contra o processo de seleção exclusivo para pessoas integrantes da Reforma Agrária e quilombolas. 

As inscrições para o processo seletivo acabaram no sábado (20). No edital, a UFPE definia que poderiam se candidatar: 

  • Pessoas assentadas da reforma agrária e integrantes de famílias beneficiárias do Crédito Fundiário
  • Pessoas quilombolas
  • Alunos egressos de cursos promovidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)
  • Pessoas acampadas com cadastro no Incra
  • Educadores em atuação com famílias beneficiárias do Crédito Fundiário 

O objetivo seria ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em áreas rurais. 

Em nota conjunta divulgada na segunda-feira (22), o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), a Associação Médica de Pernambuco (Ampe) e a Academia Pernambucana de Medicina (APM) afirmaram que a medida desrespeita o princípio de igualdade de condições para o acesso ao ensino superior, previsto na Constituição.

O principal ponto da crítica é a não utilização do Enem e do Sisu como critério de seleção e a presença de um processo seletivo que apenas pessoas assentadas podem participar, o que, para as entidades, cria um precedente perigoso para a educação médica no país.

Não somos contra políticas de inclusão. Pelo contrário, acreditamos que devem existir e ser fortalecidas. Mas é fundamental que sejam justas, proporcionais e alinhadas aos marcos legais vigentes”, afirmam as entidades no documento.

Em resposta, a UFPE defendeu a legalidade do processo e a sua autonomia universitária. A instituição esclareceu que as 80 vagas são extras e não afetam a oferta regular de vagas do curso via Sisu

A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), uma política pública federal executada em parceria com o Incra.

A universidade argumenta que, com base na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tem autonomia para criar cursos e fixar o número de vagas, especialmente quando associadas a políticas afirmativas.

Segundo a instituição, o modelo de seleção que utiliza uma redação e a análise do histórico escolar do ensino médio já é aplicado em outros vestibulares específicos da UFPE, como o indígena e o quilombola.