A crise no sindifisco escala. Com apoio de seis ex-secretários da Fazenda e 90% da categoria, nova diretoria isola pequeno grupo de oposição
por Jamildo Melo
Publicado em 14/07/2025, às 07h16 - Atualizado às 07h56
A batalha pelo controle do Sindicato dos Auditores Fiscais de Pernambuco (Sindifisco-PE) atingiu um novo patamar. Em um movimento de simbolismo, todos os seis ex-secretários da Fazenda oriundos da categoria declararam apoio à nova Diretoria Colegiada (DC), liderada pelo auditor Nilo Otaviano.
O gesto une nomes como Luiz Otávio Cavalcanti, Admaldo Matos, José Carlos Lapenda, Maria José Briano, Djalmo Leão e Décio Padilha, conferindo legitimidade à nova gestão e isolando politicamente o grupo do ex-presidente Francelino Valença. Além disso, dos 8 ex-presidentes do SINDIFISCO-PE, apenas um está apoiando o ex-presidente destituído.
Enquanto a nova diretoria se ampara no apoio de ex-comandantes da pasta e do sindicato, a gestão destituída, segundo seus próprios membros, diz ter o "apoio irrestrito" do atual secretário da Fazenda, Wilson de Paula.
No último dia 3, o secretário de Raquel Lyra recebeu uma carta de apoio assinada por membros da diretoria destituída e mais 200 apoiadores, apesar de não ter respondido a quatro solicitações de reuniões da diretoria atual, o que foi festejado pelos 200 signatários da referida carta.
"Se confirmada, a aliança coloca o Palácio do Campo das Princesas em uma posição delicada: a de, supostamente, apoiar um grupo de "inconformados", sem mandato e sob investigação da Polícia Federal por desobediência judicial, em detrimento de uma diretoria eleita em assembleia por 357 a 4 votos e que agora detém o respaldo de quase 90% da categoria e da quase totalidade dos seus antecessores no cargo", compara a nova gestão.
A nova diretoria, liderada pelo experiente auditor fiscal Nilo Otaviano, tem agido com extrema cautela.
Perguntado sobre o alardeado apoio do secretário da Fazenda ao grupo destituído, ele responde. "Vemos esse suposto apoio como um simples blefe da diretoria destituída. Não acreditamos que o secretário Wilson de Paula esteja tomando partido de quem não mais detém o mandato."
Indagado quanto aos pedidos de reunião, ignorados pelo secretário, ele responde com tranquilidade.
"A relação entre um secretário de Estado e o sindicato de uma categoria da sua pasta envolve sempre uma maturidade política de ambas as partes. Por sermos um novo grupo na direção do sindicato, o secretário deve estar buscando maiores informações sobre quem somos, qual o nosso perfil e o que pode esperar de nós. Com certeza, faremos essa reunião nos próximos dias, pois as informações que têm chegado a ele são as melhores possíveis, acerca de mim e dos 10 diretores que me acompanham na tarefa de unir a categoria novamente. Ele já sabe quem é cada um e, por estar integrando um governo com o perfil das governadoras Raquel Lyra e Priscila Krause, sua atitude frente aos representantes dos auditores fiscais e julgadores tributários serão, por certo, transparentes e republicanas. Ninguém nos tira essa certeza", declara, ao site Jamildo.com.
Quanto à reiteração dos pedidos de reunião com o secretário Wilson, ele respondeu que será feita na tarde da terça-feira próxima, dia 15, após a deliberação da categoria na assembleia que ocorrerá na manhã desse dia.
Para quem não acompanhou a refrega sindical, a crise começou com a rejeição de um acordo salarial tido como prejudicial a 95% da categoria, expondo as supostas contradições do grupo destituído.
No plano nacional, o ex-presidente Francelino Valença preside a Federação Nacional do Fisco (Fenafisco), mas parece começar a enfrentar um crescente questionamento dessa posição.
"Além de não ter mais o apoio do SINDIFISCO-PE, a sua continuidade no cargo enfrenta resistência dos sindicatos dos Estados de SP, MG, PI, MT, MS, TO e AM, que lançaram, em abril o MANIFESTO DE SÃO PAULO, que aponta o que consideram uma gestão autoritária e pouco transparente, com acusações de que ele estaria inflando a federação com categorias não fiscais para garantir votos em uma futura reeleição. Até o final de agosto, quando o conselho deliberativo da entidade se reunirá novamente, deverão ser somar a essas 7 entidades, ao menos, outras 5, podendo ocorrer a saída das 12 entidades da FENAFISCO", diz Nilo Otaviano.
Na avaliação do novo comando do Sindifisco, o objetivo de se reeleger no final do ano já teria ido por água abaixo. "O estatuto da Fenafisco impede a candidatura de quem foi destituído de seu sindicato de base, o que o torna inelegível. Há outra hipótese de inelegibilidade em que Francelino incorreu, segundo o Estatuto da Fenafisco: em março passado, a diretoria destituída teve as contas do ano de 2024 rejeitadas na assembleia geral ordinária de prestação de contas".
Neste cenário, a estratégia da nova diretoria do Sindifisco-PE tem sido clara: isolar o que consideram ser um "núcleo golpista de uns 40 fazendários" e dialogar com todo o restante da categoria, cerca de 1800 associados.
Já as alegações de Francelino e seus apoiadores se baseia em um "golpe" contra uma diretoria legitimamente eleita. O grupo informou ao site que sempre agiu dentro da legalidade.
"Os fatos revelam uma cronologia diferente. A aprovação do acordo prejudicial se deu em uma assembleia com apenas 155 participantes. Oito meses depois, uma nova assembleia, com 631 presentes, determinou por unanimidade que a diretoria buscasse a revisão do acordo – um mandato que foi ignorado por meses. O clímax veio em abril de 2025, quando, em nova AGE, o então presidente confessou que não defenderia a pauta da paridade, selando seu destino. A destituição, portanto, não foi um ato de ruptura, mas a consequência de um "réu confesso" que traiu a deliberação máxima de sua categoria", rebate Nilo Otaviano.
"A nova diretoria, eleita para um mandato tampão até as eleições ordinárias no fim do ano, agora se vê diante de um pequeno grupo que quer ser passar por oposição, mas, ciente de sua ínfima chance eleitoral, parece apostar no caos. A tentativa de atrapalhar as negociações para reverter o acordo espúrio é vista pela maioria da categoria como uma vingança de quem não aceita o veredito da democracia sindical e da Justiça".
Nunca é demais relembrar, o site Jamildo.com valoriza o contraditório e sempre estará aberto a esclarecimentos adicionais por parte das partes envolvidas ou citadas. A divulgação das informações sobre a refrega não implica tomada de partido.