Após polêmica com Concurso Unificado, Alepe aprova obrigatoriedade de cotas raciais em seleções estaduais

Alepe unificou projetos de deputados sobre cotas raciais nas seleções, em substituição ao pedido de Raquel Lyra, que ainda demoraria a ser pautado

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 16/10/2025, às 07h41 - Atualizado às 08h32

Plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco
Alepe aprova lei que determina 30% das vagas para cotas raciais em concursos e seleções do estado de Pernambuco - DIVULGAÇÃO

Aprovação: A Alepe aprovou a reserva de 30% de vagas para cotas raciais em concursos e seleções simplificadas em Pernambuco.

Contexto: A votação foi uma resposta à polêmica gerada pelo edital do Concurso Público Unificado, que foi suspenso por não prever as cotas.

Distribuição: As vagas serão divididas em 25% para pessoas pretas e pardas, 3% para indígenas e 2% para quilombolas.

Tramitação: Para acelerar a aprovação, os deputados unificaram projetos antigos da oposição e os adaptaram com os percentuais propostos pelo governo, evitando o prazo regimental de dez dias do projeto do Executivo.

Próximos Passos: O projeto de lei agora aguarda a sanção do Governo de Pernambuco que tem 15 dias úteis para analisar o texto.

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou, na quarta-feira (15), um projeto de lei que estabelece uma cota racial de 30% em todos os concursos públicos e seleções simplificadas do Estado.

A aprovação ocorre uma semana após o Governo de Pernambuco suspender as inscrições do Concurso Público Unificado (CPU), cujo edital foi publicado sem a previsão de reserva de vagas.

A proposta, que agora segue para a sanção da governadora Raquel Lyra (PSD), determina que as vagas sejam distribuídas da seguinte forma:

  • 25% para pessoas pretas e pardas;

  • 3% para indígenas;

  • 2% para quilombolas.

O projeto foi aprovado com 36 votos favoráveis e uma abstenção. Se sancionada, a lei terá validade imediata para concursos e um prazo de 120 dias para ser aplicada em seleções simplificadas.

A aprovação em plenário teve apenas a abstenção do deputado Renato Antunes (PL). Ele se declarou contrário a políticas de cotas sem prazos definidos, defendendo que o foco deveria ser na vulnerabilidade socioeconômica, e não na questão racial.

Não se tem política social ad aeternum. A gente tem que dar condição para que aquele que tem o benefício tenha dignidade um dia, e que a gente não precise mais das cotas”, argumentou.

A deputada Dani Portela, uma das autoras do projeto original, rebateu a fala.

Negar isso é negar 500 anos da história do nosso País, uma história de extermínio, expropriação e morte”, disse.

Ela destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) já reconheceu a constitucionalidade das cotas e comemorou a mobilização popular. “Cotas raciais não são privilégios, são ferramentas de justiça que abrem as portas do Estado para povos e pessoas marginalizadas historicamente”, concluiu.

Com Raquel em viagem internacional, a vice-governadora Priscila Krause (PSD) deve sancionar o projeto rapidamente para retomar as inscrições do concurso unificado do estado. 

A polêmica do Concurso Unificado

A votação na Alepe foi uma resposta direta à crise gerada pela publicação do edital do CPU no dia 9 de outubro.

O documento, que previa 460 vagas, não continha a reserva de vagas para cotas raciais, o que gerou críticas de movimentos sociais e da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Pernambuco (OAB-PE).

As entidades apontaram que a ausência das cotas desrespeitava o Estatuto da Igualdade Racial de Pernambuco, sancionado pela própria governadora Raquel Lyra em 2023. O estatuto determina que o poder público deve promover ações para assegurar a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população negra.

Inicialmente, a Secretaria de Administração do Estado (SAD) justificou a ausência das cotas afirmando que não havia uma norma estadual que definisse o percentual de vagas a ser reservado.

A manobra legislativa para acelerar a aprovação das leis sobre cotas raciais

Pressionado pela repercussão negativa, o Governo do Estado suspendeu as inscrições do concurso no dia seguinte, 10 de outubro, e enviou à Alepe um projeto de lei (nº 3435/2025) com a proposta dos 30% de cotas.

No entanto, mesmo com pedido de urgência, o projeto do Executivo precisaria aguardar um prazo regimental de dez dias úteis para poder ser votado.

Para acelerar a tramitação, os deputados optaram por resgatar e unificar três projetos de lei de 2023 sobre o mesmo tema, de autoria dos deputados Dani Portela (PSOL), João Paulo Costa (PCdoB) e Rosa Amorim (PT).

Os parlamentares então alteraram o texto unificado para que os percentuais de cotas coincidissem  com os solicitados pela governadora, viabilizando uma votação imediata.