Relatório da Campanha Despejo Zero aponta mais de 60 mil famílias em risco de despejos no estado; alto custo do aluguel agrava crise
por Cynara Maíra
Publicado em 17/09/2025, às 09h00 - Atualizado às 09h37
Pernambuco é o segundo estado do Brasil com o maior número de pessoas ameaçadas de despejo e remoções forçadas. O levantamento é da Campanha Despejo Zero, que identificou 62.381 famílias ameaçadas.
O estado fica atrás apenas de São Paulo no ranking nacional. Em todo o Brasil, mais de 2 milhões de pessoas vivem sob a ameaça de remoção.
O relatório, divulgado na terça-feira (16) em ocasião dos cinco anos da campanha, também aponta que a crise habitacional afeta de forma desproporcional mulheres e a população negra. Em todo o país, quase 1,4 milhão de pessoas negras e mais de 1,3 milhão de mulheres estão sob ameaça.
Os casos em Pernambuco se dividem entre conflitos urbanos e rurais. Na Região Metropolitana do Recife, predominam as ameaças de despejo por especulação imobiliária e o endividamento com aluguel. No interior, os conflitos agrários e disputas por terra são as principais causas.
A situação se soma a um déficit habitacional de mais de 380 mil moradias no estado. Segundo dados da Fundação João Pinheiro, o principal fator deste déficit é o ônus excessivo com aluguel, que ocorre quando uma família compromete mais de 30% de sua renda com a moradia. Esta condição afeta 46.150 famílias apenas no Recife.
A pressão sobre as famílias que vivem de aluguel piora com a alta dos preços na capital. O Recife registrou um aumento de 1,37% no valor do aluguel em agosto, com o preço médio atingindo R$ 60,65 por metro quadrado.
O valor coloca a cidade como a segunda capital com o aluguel mais caro do Brasil, atrás apenas de São Paulo (R$ 61,69/m²), de acordo com o Índice FipeZAP. No acumulado de 12 meses, a alta no Recife chega a 13,97%. Bairros como Pina (R$ 76,8/m²) e Parnamirim (R$ 72,5/m²) lideram os valores na cidade.
A Campanha Despejo Zero também alerta para um movimento de criminalização da luta por moradia no país. O relatório identificou 108 projetos de lei em diversos estados que visam punir ocupantes de imóveis.
No Rio Grande do Sul, uma lei já aprovada proíbe que pessoas que participem de ocupações recebam auxílios ou sejam nomeadas para cargos públicos. A norma é alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF). Em Goiás e no Mato Grosso, propostas semelhantes também avançaram.
A Campanha Despejo Zero é uma articulação de mais de 175 entidades e movimentos populares, como a Habitat para a Humanidade Brasil, e monitora os casos de despejo no país há cinco anos.