Ricardo Leitão: O futuro (?) de Jair Bolsonaro

Ricardo Leitão | Publicado em 02/12/2024, às 09h46

Qual será o futuro de Jair Bolsonaro? - Fernando Frazão/Agência Brasil
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*Por Ricardo Leitão

O relatório de 884 páginas da Polícia Federal sobre a tentativa golpista de dezembro de 2022 registra 642 vezes o nome de Jair Bolsonaro.

Segundo a PF, o ex-presidente “planejou, atuou e teve o domínio, de forma direta e efetiva, dos atos executivos realizados pela organização criminosa que objetivavam a concretização de um golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito”.

Bolsonaro foi indiciado com mais 36 golpistas, entre os quais 25 oficiais militares. O relatório encontra-se agora na Procuradoria Geral da República. Caso sejam condenados a penas máximas, os indiciados poderão pegar até 28 anos de prisão.

Demonstram as investigações que a participação de Bolsonaro na trama golpista foi intensa e permanente.

Ele disseminou a narrativa falsa da vulnerabilidade do sistema eleitoral brasileiro; tinha pleno conhecimento do plano de assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice eleito Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes; elaborou decreto que daria “sustentação legal” ao golpe; pressionou comandantes militares para aderir à trama; em várias oportunidades colocou em dúvida a lisura da eleição de 2022 e apoiou as concentrações de bolsonaristas em frente aos quartéis, exigindo “a volta da ditadura”. 

Todas essas ações, descritas no relatório, estão estribadas em indícios, provas e depoimentos – entre esses os do então comandante do Exército e do então comandante da Aeronáutica, que se recusaram a aderir ao golpe.

Com 69 anos, sem mandato e diante da possibilidade de ir para a cadeia, haverá futuro político para Jair Bolsonaro?

A primeira resposta será dada pelos ministros do STF, a que caberá julgar e sentenciar o ex-presidente.

Uma pena longa pode alijar Bolsonaro das próximas disputas presidenciais. (Já está inelegível até 2030, por atacar as urnas eletrônicas).

A segunda resposta será dada pelo próprio ex-presidente: mesmo enfrentando na Justiça uma situação adversa, ele tem que demonstrar resiliência suficiente para não perder a capacidade de manter sob seu controle o processo da sucessão presidencial na direita.

Conta a seu favor a popularidade em todo o país, que faz dele o único líder conservador capaz de reunir multidões nas ruas. 

Bolsonaro sabe a força desse trunfo, especialmente quando a esquerda por enquanto não dispõe de um líder de massas para enfrentá-lo, além de Lula, o que é muito pouco. Lula, ou outro candidato do centro-esquerda, dependerá do bom desempenho do governo até meados de 2026 para largar bem.

Apesar do bom desempenho em algumas áreas – como a redução do desemprego – a situação geral da economia não é um trampolim seguro para saltos no próximo ano.

Com seu cacife eleitoral, Bolsonaro aguarda. Na hipótese de sua candidatura presidencial tornar-se impossível, por conta de processos e da prisão, planeja apresentar seu filho, o senador pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro, como candidato em seu lugar.

É um grande desafio ao centro-direita. Recusar a indicação de Flávio Bolsonaro pode significar a retirada do ex-presidente da campanha, com consequências eleitorais imprevisíveis. As articulações já começaram. Trata-se de briga de cachorro grande, onde late o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas.
 
A volta do bolsonarismo ao poder é uma ameaça real à democracia e a possibilidade do retorno da tutela militar na administração federal, se preciso por meio de um golpe, como na tentativa de dezembro de 2022. A questão é antiga.

A Proclamação da República – que em 15 de novembro passado completou 135 anos – foi um golpe militar contra o Império. Quando Getúlio Vargas instaurou a ditadura do Estado Novo, em 1937, os militares estavam ao seu lado.

No entanto, em 1945, abandonaram Vargas. Atentados da direita pipocaram na transição democrática, até seu ápice: a tentativa frustrada de explodir bombas em um show para 20 mil pessoas, no Rio de Janeiro, em 1 de maio de 1981.

O plano golpista de 2022 dá à democracia a oportunidade rara de se apartar da tutela militar. É urgente estabelecer um cordão de isolamento entre a política e as Forças Armadas, exatamente o contrário do que fez Bolsonaro.

Entre os mais trágicos efeitos dessa decisão, está a transformação do Palácio do Planalto em ninho de generais e tenentes-coronéis golpistas. O Brasil será melhor quando os cidadãos fardados se limitarem a cumprir seus deveres constitucionais, que não incluem intervenções em crises da República.

Será uma mudança histórica, porém terá de ser feita  com a coragem e a determinação que exijam novos corações e novas mentes.

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