Governadora usou discurso em filiação de prefeitos ao PSD para criticar indiretamente João Campos e para repudiar intervenção nacional no PSDB
por Cynara Maíra
Publicado em 08/04/2025, às 08h15 - Atualizado às 09h18
Em ato político realizado na noite de segunda-feira (7), no Recife, a governadora Raquel Lyra (PSD) adotou um discurso com recados indiretos ao prefeito João Campos (PSB), provável adversário nas eleições de 2026.
Durante sua fala no evento, a governadora criticou uma suposta antecipação das eleições.
Os comentários ocorreram durante a filiação de 31 prefeitos ao PSD, legenda que a gestora passou a comandar em Pernambuco desde março, após deixar o PSDB.
O evento formalizou o ingresso de prefeitos que romperam com o PSDB após a intervenção da executiva nacional no diretório estadual. A mudança no diretório tucano em Pernambuco foi liderada pelo deputado Álvaro Porto (PSDB), atual presidente da Assembleia Legislativa, que passou a comandar a legenda após destituição do grupo ligado à governadora.
A cerimônia, realizada no auditório do Novotel Recife Marina, no Cais de Santa Rita, teve tom mais institucional que festivo. Sem palco ou bandeiras partidárias, a reunião consolidou a saída de todos os 32 prefeitos eleitos pela legenda em 2020; 31 participaram do ato, e apenas o prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro, se ausentou por motivos de agenda.
Raquel adotou um discurso que evitou nomes, mas sinalizou incômodo com movimentações do PSB e com o protagonismo recente de João Campos em congressos partidários.
“Eu não estou aqui para tratar da eleição de 2026. Estamos aqui porque temos muito o que fazer até lá. Nunca fizemos gestão cuidando de eleição. Aprendi em casa que o processo de reeleição é resultado de um trabalho e da entrega para mudança da vida do nosso povo. Se a gente se preocupa somente com a eleição, a mudança não acontece”, afirmou.
A governadora também vinculou críticas veladas sobre sua liderança no Executivo com questões de gênero:
“Nós não estamos aqui para esquentar cadeira, para quem quiser achar que mulher quando assume o governo é somente para esperar o próximo homem que vai assumir, com todo o respeito a eles. Fazemos política somando, não é com raiva”, completou.
Raquel não quis comentar publicamente a atuação do deputado Álvaro Porto, mas na fala aos presentes reiterou o foco em “olhar para frente”. Ao ser questionada pela imprensa sobre as declarações recentes de Porto, que citou “ingratidão” ao se referir à governadora, ela se limitou a dizer que o tema deveria ser tratado pelo próprio parlamentar.
Durante o evento, também se filiaram ao PSD a vice-governadora Priscila Krause e lideranças políticas ligadas à base estadual. Em seu discurso, Priscila evitou polêmicas com a legenda anterior, mas ressaltou a importância de manter o foco na gestão.
“O que a gente faz aqui é juntar pessoas em torno de um propósito, daquele que a gente combinou e que a gente vem cumprindo, de não perder o foco em relação a ele hora nenhuma”, disse.
A vice-governadora havia entrado no PSDB um dia antes da filiação de Raquel ao PSD, ainda em março, em movimento articulado para preservar espaço político.
No entanto, a nomeação de Porto para o comando estadual da legenda fez com que aliados de Raquel preferissem sair da legenda por entenderem que o presidente da Alepe ficaria mais próximo de João Campos.
Com os novos filiados, o PSD passa a ter 57 prefeitos no estado, tornando-se o partido com maior número de gestores municipais em Pernambuco. Antes da mudança, contava com 26. O PSDB, por sua vez, deixa de comandar qualquer prefeitura, após ter sido a legenda mais vitoriosa nas eleições de 2020.