Danilo Cabral anunciou sua demissão na Sudene após pressão do Ceará e Bahia
por Cynara Maíra
Publicado em 05/08/2025, às 11h45 - Atualizado às 12h27
Danilo Cabral confirmou nesta segunda-feira (5) que foi exonerado da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), após dois anos e dois meses à frente do órgão federal. A saída ocorre em meio a uma série de manifestações públicas de apoio por parte de parlamentares, prefeitos e entidades empresariais de Pernambuco, contrários à pressão feita por lideranças do Ceará e da Bahia para sua substituição.
“Fui comunicado de meu desligamento da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), após dois anos e dois meses de intensa dedicação. Foi uma honra servir ao Brasil, em especial ao povo nordestino, nesse período desafiador e transformador”, declarou Danilo. “Deixo o cargo com a convicção do dever cumprido. A Sudene voltou”, completou, em nota.
A demissão de Danilo Cabral foi antecipada pelo site Jamildo.com, que revelou com exclusividade a articulação política nos bastidores de Brasília para sua saída. Segundo apurou o site, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), pediu a substituição do superintendente ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, com o argumento de que Danilo teria favorecido o ramal da Transnordestina com destino ao Porto de Suape, em Pernambuco, em detrimento do trecho cearense.
Fui comunicado de meu desligamento da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), após dois anos e dois meses de intensa dedicação. Foi uma honra servir ao Brasil, em especial ao povo nordestino, nesse período desafiador e transformador.
Agradeço ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Waldez Góes pela confiança, e à valorosa equipe da Sudene pelo trabalho conjunto que realizamos.
Deixo o cargo com a convicção do dever cumprido. A SUDENE VOLTOU.
Agradeço também a todas as manifestações de apoio e solidariedade recebidas nos últimos dias. Continuarei atuando em favor do desenvolvimento do Nordeste — especialmente de Pernambuco, minha terra natal — com o olhar firme na superação das desigualdades e na melhoria da qualidade de vida do nosso povo.
A luta por Pernambuco é minha missão de vida. Seguiremos juntos.
A possibilidade de exoneração provocou reações de diferentes setores políticos do estado. Deputados federais e estaduais divulgaram notas oficiais em defesa de Danilo, classificando sua gestão como responsável pela retomada do protagonismo institucional da Sudene.
Em um manifesto assinado por integrantes da bancada federal de Pernambuco, como Augusto Coutinho (Republicanos) e Carlos Veras (PT), os parlamentares repudiaram o que chamaram de “pressões políticas originadas no Ceará e na Bahia”.
A senadora Teresa Leitão (PT) também se posicionou contra a troca no comando do órgão. Em nota, afirmou que “a gestão de Danilo devolveu à Sudene o protagonismo que há muito se esperava”, e criticou o movimento para retirar o comando da autarquia do campo político do PT de Pernambuco.
O presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Álvaro Porto (PSDB), liderou outro manifesto. O texto destaca que Danilo “reinseriu a Sudene no lugar de onde ela nunca deveria ter saído: no centro das decisões sobre o futuro do Brasil profundo”. A Alepe ressaltou ainda os avanços recentes, como a reativação do CORIF, a valorização dos fundos FNE e FDNE, além da liberação de recursos para a Transnordestina e novos projetos ferroviários no estado.
A exoneração também gerou críticas do setor produtivo. Em nota assinada por entidades como a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ciepe, CREA-PE e Lide Pernambuco, os representantes empresariais classificaram a gestão de Danilo como estratégica para viabilizar investimentos estruturadores.
A Fiepe destacou o papel da Sudene no apoio ao desenvolvimento da infraestrutura logística, especialmente no interior do estado.
O Consórcio dos Municípios do Agreste e Mata Sul (Comagsul), que reúne 23 prefeituras da região, também divulgou nota de apoio à permanência de Danilo antes da confirmação da demissão. O presidente da entidade, Marivaldo Pena, prefeito de Altinho, afirmou que “defender a Transnordestina é defender o Nordeste” e considerou que Danilo vinha conduzindo a Sudene com competência técnica e diálogo permanente com os municípios.
O episódio evidenciou a disputa política em torno do destino da ferrovia Transnordestina, obra que movimenta interesses de estados e da iniciativa privada. Como revelou o Jamildo.com, os cearenses teriam obtido apoio de Lula após queixas de Benjamin Steinbruch, empresário responsável pelo trecho da ferrovia no Ceará. Durante evento em julho, o governador Elmano chegou a afirmar que “os pernambucanos criavam dificuldades para a obra”.
O impasse ocorre enquanto o Ceará já executou 75% do projeto até o Porto de Pecém, enquanto o trecho pernambucano, previsto para Suape, segue sem licitação. A indefinição é atribuída, em parte, à mudança de posição do governo de Pernambuco, que na gestão Raquel Lyra rejeitou a concessão privada firmada por Paulo Câmara e passou a exigir financiamento público para a obra.
Durante sua gestão, Danilo Cabral foi responsável por aprovar R$ 1,5 bilhão em incentivos fiscais em 2024, além de definir a aplicação de R$ 50 bilhões em crédito até 2026.
Também iniciou a coordenação, junto à UFPE, estudos para reativar a linha de trem Recife-Caruaru e criar um novo ramal entre Petrolina e Salgueiro, conectando os polos produtivos do Sertão à malha da Transnordestina.
Na nota de despedida, Danilo afirmou: “Continuarei atuando em favor do desenvolvimento do Nordeste — especialmente de Pernambuco, minha terra natal — com o olhar firme na superação das desigualdades e na melhoria da qualidade de vida do nosso povo”.