Durante congresso que empossou João Campos como presidente nacional do PSB, fala de Lula aparenta desejo de criar um palanque duplo entre Raquel e João
por Cynara Maíra
Publicado em 02/06/2025, às 08h08 - Atualizado às 09h14
Durante o congresso nacional do PSB, que oficializou João Campos como novo presidente nacional do partido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma fala que sugere a possibilidade de um palanque duplo entre o prefeito do Recife e a governadora Raquel Lyra (PSD) nas eleições estaduais de 2026
Ao lembrar a campanha de 2006, quando dividiu o palanque com Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT), ambos candidatos ao governo de Pernambuco, Lula afirmou que é possível repetir a estratégia “em muitos estados”.
A fala, feita diante da cúpula socialista reunida em Brasília, pode ser interpretada como um recado direto à direção nacional do PSB, e especialmente ao próprio João Campos, de que o Planalto cogita a hipótese de manter pontes tanto com o prefeito quanto com Raquel Lyra, possíveis adversários na próxima disputa estadual.
“Eu não podia ser contra Eduardo, que era meu ministro da Ciência e Tecnologia, nem contra Humberto, que era meu ministro da Saúde. Então a gente decidiu que os dois seriam candidatos, e eu faria campanha com os dois. Em uns comícios, Humberto falava primeiro; em outros, Eduardo. E quem fosse ao segundo turno teria o apoio do outro”, contou Lula. “Fizemos uma disputa civilizada, e podemos repetir isso em muitos estados”, completou.
A fala segue a tese ventilada por setores do PT pernambucano de que Lula pretende construir uma aliança eleitoral dupla no estado, replicando o modelo que adotou em outras unidades da federação, como na Paraíba, em 2022.
À época, o então candidato a presidente não subiu no palanque de nenhum dos candidatos ao governo estadual no primeiro turno, mas contou com o apoio de ambos no segundo.
Um dos defensores do palanque duplo em Pernambuco é o deputado estadual João Paulo (PT). Em entrevista ao PodJá- O Podcast do Jamildo, o petista citou que os apoios de Raquel e João ao nome de Lula para presidente seria o ideal, já que ampliaria as bases aliadas de Luiz Inácio para conseguir se reeleger.
Aparentemente tentando seguir esse plano, Lula já tem tentado juntar João e Raquel em espaços. Na quarta-feira (28), o presidente dividiu o palanque com João Campos e Raquel Lyra durante evento em Salgueiro, no Sertão, para a assinatura da ordem de serviço de uma das obras do Novo PAC.
A governadora chegou a discursar em tom de união e fez questão de cumprimentar Lula e João publicamente.
Apesar dos sinais públicos, um eventual palanque duplo em Pernambuco esbarra em disputas locais e na própria composição das chapas.
O senador Humberto Costa, uma das principais lideranças petistas no estado, mantém cautela. Embora mantenha cordialidade com ambos os lados, Humberto já disse que qualquer apoio do PT estará condicionado ao projeto de reeleição de Lula.
“Essa decisão será tomada levando em conta a estratégia nacional do partido”, afirmou recentemente.
A construção das chapas para as duas vagas no Senado também geram debate, já que João Campos tem ao menos quatro outros nomes que desejam se candidatar para Casa ao seu lado, o que pode prejudicar a presença de Humberto dentro da coligação do PSB.