Relatório Quem Paga a Banda revela concentração de investimentos da extrema-direita e fragmentação progressista na disputa digital
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 27/08/2025, às 21h29
O Projeto Brief lançou na segunda-feira (26) um novo relatório da série Quem Paga a Banda, iniciativa dedicada a investigar o financiamento de campanhas, narrativas digitais e redes de influência. O estudo foi produzido a partir dos dados disponíveis na Biblioteca de Anúncios da Meta e pode ser acessado no site da plataforma.
A edição reúne os dez maiores anunciantes da categoria Sociedade no primeiro semestre de 2025, entre 1º de janeiro e 28 de junho. Não entram no ranking partidos políticos, figuras públicas, campanhas comerciais de marcas, arrecadações de organizações sociais ou perfis assistencialistas. O objetivo é mapear o investimento em narrativas e conteúdos impulsionados no período.
Entre os resultados, o levantamento aponta que a Brasil Paralelo foi o segundo maior anunciante com selo político do país e investiu quatro vezes mais do que o próprio Governo do Estado de São Paulo. Ao todo, foram R$ 1,6 milhão em anúncios pagos, contra R$ 398 mil do governo estadual. O relatório também identifica nomes como o ex-ministro da Economia Paulo Guedes, quarto colocado em volume de recursos, e o influenciador Victor Doné, que lidera em quantidade de anúncios: mais de 16 mil peças publicadas em seis meses, doze vezes mais do que o Brasil Paralelo.
Anunciante | Valor investido (R$) | Volume de anúncios | Valor por anúncio (R$) |
---|---|---|---|
Brasil Paralelo | 1.613.410 | 1.320 | 1.222 |
Revista Oeste | 923.778 | 836 | 1.105 |
Paulo Guedes | 624.493 | 54 | 11.565 |
Victor Doné | 469.756 | 16.087 | 29 |
Greenpeace Brasil | 355.999 | 820 | 434 |
GloboNews | 330.022 | 97 | 3.402 |
ICL Notícias | 248.234 | 745 | 333 |
Canal Meio | 237.062 | 191 | 1.241 |
Oxfam Brasil | 221.539 | 663 | 334 |
Brasil Paralelo Select | 150.744 | 78 | 1.933 |
Doné investe em narrativas conspiratórias e místicas. Vende o chamado “Código de Deus”, apresentando-o como um segredo milenar acessado apenas pelo 1% mais rico e poderoso. Seus anúncios exploram a frustração popular sobre trabalhar muito e ganhar pouco, mas deslocam a causa da desigualdade do sistema econômico para o campo espiritual.
O estudo examina ainda as principais estratégias utilizadas pelas mídias conservadoras em torno do conceito de liberdade. De acordo com a análise, o termo aparece em três dimensões: liberdade de expressão, frequentemente vinculada ao discurso de perseguição e censura; liberdade financeira, associada a cursos, promessas de prosperidade e investimentos em criptomoedas; e liberdade política, usada para sustentar a ideia de um suposto “estado de exceção” no país.
Outro ponto destacado é a exploração de catástrofes climáticas e situações de vulnerabilidade social em conteúdos digitais, apresentados sob uma ótica de resistência popular e responsabilização do governo federal. O relatório aponta que esse tipo de narrativa amplia o engajamento e reforça a credibilidade por trazer relatos pessoais da população afetada.
Do lado progressista, o levantamento mostra fragmentação de agendas e ausência de coordenação em campanhas pagas nas redes da Meta. Temas como meio ambiente, diversidade, justiça social, saúde e democracia são tratados de forma dispersa, sem um fio condutor comum. Enquanto isso, a extrema direita atua de forma organizada, repetindo palavras de ordem como “liberdade”, “família” e “fé”.
"São investimentos milionários destinados a influenciar como as pessoas percebem o mundo, mas com uma diferença fundamental: de um lado, um campo que entende plenamente o papel da comunicação para a disputa cotidiana da opinião pública, do outro, um campo que usa anúncios de modo essencialmente tático, quase como um recurso auxiliar de campanhas", afirma Ricardo Borges Martins, coordenador-geral do Projeto Brief.
Segundo o relatório, a diferença entre os campos políticos está na forma de uso da comunicação. Enquanto a direita investe de modo estratégico, apresentando promessas claras, a esquerda tende a concentrar esforços em denúncias e críticas, com menor apelo mobilizador.