Enquanto João Campos e Raquel Lyra mobilizam acenos, Lula se mantém neutro em agenda pernambucana

De olho na própria corrida eleitoral, Lula preferiu evitar citar Raquel Lyra ou João Campos em seus discursos. Ambos os adversários elogiaram o presidente

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 03/12/2025, às 08h10 - Atualizado às 08h56

Com as mãos unidas a de Lula, sorriem Raquel Lyra, Silvio Costa Filho, João Campos, Humberto Costa e outro homem
Lula, João Campos e Raquel Lyra estiveram juntos durante a agenda de Lula em Pernambuco, na terça (02)

Lula (PT) visitou Pernambuco nesta terça (2) e manteve neutralidade, sem citar Raquel Lyra (PSD) ou João Campos (PSB) em discursos.

A governadora e o prefeito trocaram acenos e elogios ao presidente, disputando a atenção e a "paternidade" das obras.

Raquel foi vaiada em Cupira e reagiu atribuindo o ato ao machismo: "Se eu fosse homem, não estaria sendo vaiada".

João Campos viajou com Lula e reforçou o discurso de lealdade, chamando o presidente de divisor de águas na história do estado.

A postura de Lula fortalece a tese de "dois palanques" para 2026, defendida por alas do PT pernambucano.

Na terça-feira (2), o presidente Lula (PT) visitou Pernambuco e dividiu o palanque com a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), os dois maiores nomes na eventual disputa ao Governo de Pernambuco em 2026.

Apesar das movimentações dos prováveis adversários para atrair o apoio presidencial, Lula adotou uma postura de neutralidade, evitando citar nomes ou endossar candidaturas em seus discursos.

O presidente participou do anúncio da ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, e da inauguração da Barragem Panelas II, em Cupira. Em ambas as ocasiões, preferiu focar em temas nacionais, como o combate ao feminicídio, e na exaltação de seu próprio legado no estado.

Acenos explícitos e "paparicos" ao presidente Lula

Se Lula manteve a distância regulamentar, Raquel e João não economizaram nos gestos. A governadora, que completou 47 anos no dia da visita, tentou capitalizar a data. Em Cupira, ela entregou uma bandeira de Pernambuco ao presidente e afirmou: "Hoje é o meu aniversário, mas o presente e o reconhecimento vão para o senhor".

Raquel também fez questão de posar para fotos ao lado de Lula e da primeira-dama Janja. A ideia poderia ser desfazer a imagem de distanciamento após a ausência da governadora na agenda anterior do petista, em agosto.

João Campos usou seu discurso para defender a lealdade histórica que teria com o presidente. "A história do nosso estado é uma história antes e depois do presidente Lula", declarou o prefeito em Ipojuca. Ele chegou ao estado no mesmo voo que o presidente e garantiu seu lugar nas fotos oficiais, uma forma de marcar território como o aliado "natural" do campo progressista.

Vaias e reação no Agreste

A visita também teve momentos de tensão. Em Cupira, no Agreste, Raquel Lyra foi vaiada por parte do público durante seu discurso. A governadora reagiu de forma direta, atribuindo a hostilidade ao machismo. "Eu tenho certeza de que, talvez, se eu fosse homem, não estaria sendo vaiada", disparou.

Apesar do constrangimento, Raquel aproveitou a oportunidade para dar recados velados ao prefeito do Recife, afirmando que "não foi eleita para estar em cima de palanque" e que não governa "de costas para o estado ou de frente para o mar".

O silêncio estratégico de Lula

A postura neutra de Lula alimenta as especulações sobre a estratégia do PT para 2026 em Pernambuco. Setores do partido, como o deputado Doriel Barros, defendem a tese de "dois palanques", permitindo que o presidente receba apoio tanto de Raquel quanto de João.

Ao não privilegiar nenhum dos lados publicamente, Lula pode manter as portas abertas para ambas as alianças.