Projeto de refino em Pernambuco, parte do Trem 2 da refinaria, vai gerar cerca de 1.500 empregos e impulsionar a economia do Nordeste
por Jamildo Melo
Publicado em 16/10/2025, às 08h34 - Atualizado às 08h58
A Refinaria de Abreu e Lima (RNEST), no litoral sul de Pernambuco, está prestes a entrar numa nova etapa decisiva de expansão. Recentemente foram assinados contratos de quase R$ 5 bilhões para a retomada de parte do “Trem 2”, cujo objetivo é dobrar a capacidade de processamento da refinaria — de cerca de 130 mil barris por dia para 260 mil barris/dia — com previsão de conclusão em 2029.
Um dos projetos estratégicos desse bloco é a Unidade de Hidrotratamento de Nafta (UHDT‑N), também referida em alguns documentos como U‑34. Ela está sendo contratada via o lote HDT‑N do Trem 2, cuja proposta vencedora foi apresentada pela empresa Tenenge, no valor de aproximadamente R$ 832,5 milhões.
Reportagem do Jamildo.com antecipou a retomada das obras do Trem 2 já em dezembro de 2022, logo após as eleições presidenciais. Na época, o site informou que o projeto voltaria à agenda federal, em especial como contraponto às políticas do governo anterior, que chegaram a considerar a venda da refinaria. Sem sucesso.
Desde então, o Trem 1 foi modernizado: em março de 2025, saiu do estado anterior para refino de 115 mil barris/dia para aproximadamente 130 mil barris/dia, com investimentos como o revamp (reforma e ampliação) e unidades de controle ambiental como a SNOX, que reduzem emissões atmosféricas de gases como NOx e SOx.
De acordo com a estatal, a Unidade de Hidrotratamento de Nafta será peça-chave para tratar a nafta produzida na refinaria em tecnologia de refinamento mais avançada — o que permite obter derivados com melhores especificações, maior valor agregado e menor dependência de importados.
Com a conclusão do Trem 2, espera‑se não apenas duplicar o volume processado, mas elevar a produção de combustíveis mais limpos, como o diesel S‑10, e reforçar a autonomia da Petrobras no Nordeste. Com a produção concentrada no Sudeste, entende-se a forte reação que o projeto industrial regional sofreu no seu início.
Emprego: A RNEST estima a geração de cerca de 30 mil empregos diretos e indiretos com todo o Trem 2.
Fornecedores locais: É esperado que haja uma movimentação importante na cadeia de fornecedores locais, de materiais industriais, construção civil, montagem eletromecânica etc.
Suape e infraestrutura portuária: O Trem 2 também trará impactos no porto de Suape, dobrando sua movimentação de graneis líquidos, que já estava em expansão com o Trem 1. A previsão é de que o porto assuma papel ainda mais central.
Ambiental: Há compromisso formal nos contratos para observância de normas de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, controle de emissões, gestão de resíduos e uso eficiente de água. Também já estão operando unidades como a SNOX, que reduzem poluentes atmosféricos.
Enquanto há muita expectativa positiva, também surgem desafios técnicos, financeiros e institucionais:
Cronograma rígido: A previsão é que as unidades do Trem 2 comecem a operar em 2028‑2029, mas há etapas de licitação, equipagem e montagem que dependem de continuidade de investimento. Qualquer atraso pode comprometer metas.
Financiamento e custos: O valor dos contratos iniciais é de cerca de R$ 4,9 bilhões, mas o custo total do Trem 2 deve envolver muitos outros pacotes contratados. As estimativas anteriores variavam de R$ 6 a R$ 8 bilhões.
Capacitação técnica local: Há pressão para que a maior parte possível da mão de obra seja local, exigindo programas de formação e qualificação. O risco é que, se não houver preparo suficiente, parte significativa da força de trabalho venha de fora, diminuindo o impacto socioeconômico local.
Sustentabilidade ambiental: Embora existam cláusulas de controle de emissões e uso de água, grandes unidades de refino enfrentam riscos ligados ao descarte de resíduos, poluição e à necessidade de atender padrões cada vez mais rigorosos, especialmente em regiões costeiras. Monitoramento e fiscalização serão cruciais.
Políticas de continuidade: O sucesso do projeto depende de estabilidade institucional, orçamentária e de política pública favorável. Em administrações anteriores, houve paralisias ou cortes de investimentos. O Jamildo observou desconfiança sobre a possibilidade de venda da refinaria, o que contribuiu para que a retomada fosse antecipada como promessa eleitoral.
A RNEST está se reposicionando como um dos pilares do refino nacional, sobretudo para abastecimento do Norte e do Nordeste. A UHDT‑N, dentro do Trem 2, evidencia não só avanço técnico, mas uma mudança de modelo: aquele de depender de importados ou de unidades distantes para refino de produtos mais sofisticados, para uma concepção de cadeia produtiva mais autônoma e local.
Além disso, o projeto tem forte peso simbólico. O site Jamildo.com destacou com exclusividade, já em 2022, a retomada como uma possibilidade real, parte de um compromisso de políticas federais para reativar investimentos industriais no Nordeste.
Se bem-sucedida, a expansão da RNEST pode afetar positivamente preços de combustíveis, segurança energética, cadeia de empregos e até equilíbrio regional, reduzindo assimetrias históricas entre Sul/Sudeste e Norte/Nordeste.