Sem quórum para votações, esvaziamento da sessão abriu margem para articulação entre governo e mesa da Alepe, que tenta retomar diálogo sobre PL's
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 24/11/2025, às 17h58
Sessão com apenas 19 deputados facilitou movimentação discreta entre governo e mesa da Alepe.
Raquel Lyra reuniu parte da base antes de articulação com Álvaro Porto, mas encontro previsto foi cancelado.
Negociações envolvem o empréstimo de R$ 1,7 bi e a PEC 31/2025, que altera regras das emendas.
Deputados avaliam desmembramento da PEC e pressionam pela votação do crédito para obras em 2025.
Quando o deputado João Paulo (PT) subiu à Tribuna da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) para discursar sobre a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o placar anunciava quórum de 19 parlamentares na Casa. O esvaziamento, que não partiu de orientação da base governista segundo relato de bastidores, abriu espaço para uma movimentação discreta entre governo e mesa diretora para tentar reduzir a tensão instalada entre Poderes.
O ambiente, segundo um deputado aliado, foi marcado pela prática da chamada Realpolitik, termo de origem alemã que significa "política realista". Essa prática põe em consideração a estratégia em vez de ideologias ou princípios morais. Prioriza a eficiência, os interesses sociais e o principal: equilíbrio de Poder.
A movimentação ocorreu após uma reunião, no início da tarde, entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e parte da bancada governista. Logo depois, a líder do governo na Alepe, deputada Socorro Pimentel (União Brasil), iniciou articulações para uma conversa com o presidente da Casa, Álvaro Porto (PSDB). A expectativa era de que Porto se reunisse nesta terça-feira (25) com a própria Socorro e parlamentares governistas.
O encontro, entretanto, não deve ocorrer. Segundo informações apuradas, Socorro Pimentel viajará a Brasília, o que inviabiliza a reunião prevista.
A retomada do diálogo tinha um objetivo específico: criar um ambiente para que o Executivo consiga colocar em votação o pedido de empréstimo de R$ 1,7 bilhão, além de negociar a tramitação da PEC 31/2025, que amplia o percentual das emendas parlamentares de 1% para 1,55% do orçamento a partir de 2027.
As duas propostas estavam na Ordem do Dia do último dia 18, quando a base organizava enterrar a Proposta de Emenda à Constituição e aprovar o crédito suplementar ao Executivo.
A PEC 31/2025, no entanto, carrega outros dispositivos, além do aumento das emendas, que geraram reação no Palácio do Campo das Princesas. O governo encaminhou à Alepe uma nota técnica extensa apontando necessidade de mais debate sobre dispositivos relacionados à reforma tributária e previdenciária.
Um deputado que acompanha as discussões, e que falou sob reserva, disse que parte da Casa ainda tenta encontrar um caminho de consenso:
“Acho que deve haver alguma reunião daqui para amanhã para tratar da PEC 31/2025. Ela não é só sobre aumento das emendas. Tem pontos de reforma tributária, de previdência, temas que o governo pediu para não serem votados com urgência. A nota técnica foi bem robusta, mostrando que alguns trechos precisam ser discutidos com mais calma.”
O parlamentar afirmou que a possibilidade de desmembrar o texto é considerada. “Avançar o que for pacífico e coloca em outra PEC. O que precisar de mais debate, segue separado. Tem coisa que precisa ser analisada melhor.”
Apesar do impasse, há consenso entre deputados de que o governo precisa da autorização do empréstimo para executar obras previstas para 2025, segundo o parlamentar ouvido pela reportagem.
“Os deputados entendem que, para o volume de investimentos que o governo quer fazer, especialmente obras estruturais como a duplicação da BR-232, esse recurso é essencial. Os prazos foram extrapolados, não faz sentido não pautar", disse. E complementa com uma frase que tornou-se mote da governadora, apesar de não ser da base: "Pernambuco tem pressa.”
Ele acrescentou que essa defesa deve ser reforçada na reunião que ocorreria nesta terça — aparentemente cancelada — e que o tema tende a voltar à mesa ainda esta semana se houver disposição política de ambos os lados.
Tempo é ouro para a governadora, que tem menos de um mês para pautar os interesses do Palácio. A Assembleia Legislativa entrará em recesso administrativo - para Natal e Reveillón - a partir de 20 de dezembro. Na sequência, inicia o recesso parlamentar, durante o mês de janeiro.