Julgamento de Bolsonaro no STF: Flávio Dino usa ironias no voto e segue relator Alexandre de Moraes

Ministro do STF alternou ironias e análises jurídicas para explicar alcance da trama golpista e reforçar condenação dos réus

Plantão Jamildo.com

por Plantão Jamildo.com

Publicado em 09/09/2025, às 20h05

Ministro do STF, Flávio Dino - Gustavo Moreno/STF
Ministro do STF, Flávio Dino - Gustavo Moreno/STF

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta terça-feira (9) pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus por golpe de Estado, durante o julgamento da Primeira Turma da Corte. Com isso, o placar atual é de 2 a 0 pela condenação, após o voto do relator Alexandre de Moraes.

Dino alternou explicações jurídicas com ironias e imagens fortes para mostrar a gravidade dos atos e desconstruir a narrativa apresentada pelos réus. Ele ressaltou que, apesar da tentativa de envolver militares, a adesão das Forças Armadas não ocorreu, fator determinante para o fracasso da trama.

“O plano não era Bíblia verde e amarela, era Punhal verde e amarelo”

Em uma das falas mais repercutidas, Dino mencionou o documento que circulou entre aliados de Bolsonaro, com propostas para assassinar autoridades, incluindo o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Alexandre de Moraes:

“O nome do plano não era Bíblia Verde e Amarela. Era Punhal Verde e Amarelo.”

“Os acampamentos não foram em igrejas, foram em quartéis”

Ao tratar da tentativa de envolver militares na ofensiva, Dino destacou a escolha dos locais para os atos:

“Os acampamentos não foram nas portas de igrejas. Foram nas portas de quartéis, onde há fuzis, metralhadoras e tanques.”

“Não se rompe linha policial com flores e chocolates”

O ministro também ironizou a versão de que atos de violência poderiam ser minimizados:

“Não existe forma de enfrentar a polícia com flores e chocolates. Houve confrontação física para se chegar à Praça dos Três Poderes.”

“É exótico dizer que tribunal constitucional é tirânico”

Dino rebateu críticas feitas ao Supremo, afirmando:

“É no mínimo exótico dizer que tribunal constitucional é tirânico. É exatamente o oposto: tribunais são anteparos contra tiranias.”

“A ‘musiquinha de Heleno’ e a participação de menor importância”

Sobre o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o ministro recordou episódios irônicos:

“Ele não cantou, graças a Deus. Mas, salvo engano, foi aquele que cantava uma musiquinha rimando Centrão com ladrão, ou ladrão com Centrão, algo assim.”

Dino ressaltou que Heleno, Alexandre Ramagem e Paulo Sérgio Nogueira tiveram menor participação na trama e, por isso, suas penas devem ser menores.

Julgamento em andamento

Além de Dino e Moraes, os demais ministros da Turma – Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, presidente do colegiado – ainda precisam se posicionar. A expectativa é de que o julgamento seja concluído até a próxima sexta-feira (12).

O voto de Dino reforça o entendimento de que os réus formaram o núcleo crucial da organização criminosa, que tentou impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder.

Todos foram condenados pelos crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Também houve condenação por dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado, exceto no caso de Ramagem.