Após o viral de Felca, Jones Manoel e Thiago Medina comentam em episódios distintos do PodJá sobre a adultização e a responsabilidade das redes sociais
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 17/08/2025, às 11h27
O debate sobre a exposição e exploração de crianças e adolescentes na internet ganhou força nos últimos dias após a viralização de um vídeo do influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. O material denuncia a chamada “adultização” de menores, abordando fenômenos como “coachs mirins” e adolescentes que produzem conteúdos sobre investimentos online.
Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o mês de agosto concentrou o maior número de denúncias de violência sexual física e psicológica contra crianças e adolescentes no ambiente virtual, com 261 registros. Dessas, 243 foram realizadas após a publicação do vídeo de Felca. No período de 2020 a 2024, foram registradas 7.524 denúncias dessa natureza no país. Até a segunda-feira (11), de 2025, já haviam sido contabilizadas 1.057 denúncias, das quais 72% apontam homens como principais suspeitos e 43% das vítimas são meninas.
No vídeo, Felca relaciona a adultização de crianças à pedofilia e à manipulação de algoritmos nas plataformas digitais, tornando os menores alvos mais vulneráveis. O influenciador também critica pais e responsáveis, alternando entre ironia e seriedade, e alerta que o conteúdo se tornaria mais sério à medida que avançasse. O vídeo já soma mais de 40 milhões de visualizações.
Com a ampla repercussão, pessoas mencionadas pelo influenciador estão presas, como o influenciador paraibano Hytalo Santos e seu marido, Israel Natã Vicente. Eles estão em um presídio de São Paulo, em decorrência de investigações do Ministério Público da Paraíba sobre exploração de menores em redes sociais.
O tema foi amplamente discutido no PodJá - o podcast do Jamildo, com participações de Jones Manoel e Thiago Medina. No episódio de sexta-feira, o historiador e militante comunista destacou a necessidade de fortalecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em vez da criação de novas leis.
“Primeira coisa, eu acho um erro gravíssimo parlamentares de esquerda, estadual ou federal, virem com esse negócio de lei Felca, esquecendo que já temos o ECA. Precisamos debater por que ele não está sendo aplicado e por que os mecanismos de proteção e prevenção à violência têm sido desmontados", comentou.
"Não se faz proteção sem orçamento, sem creches, escolas, abrigo, assistência médica e psicológica. Isso vem sendo fragilizado por políticas econômicas de austeridade”, continuou Jones Manoel.
O comunicador também destacou o papel das plataformas digitais e big techs. “O vídeo mostra como é possível treinar algoritmos para expor menores."
Em seguida, Jones defendeu uma rede social nacional. "Precisamos de redes sociais brasileiras, integradas a um complexo produtivo de internet, informática e armazenamento de dados, porque as big techs têm posições políticas e geopolíticas. Elas servem interesses externos e controlam a comunicação de milhões de brasileiros.”
No sábado, Thiago Medina reconheceu a importância do vídeo, mas contextualizando o debate sobre o desejo do governo Lula em regular as redes sociais e como outros parlamentares do campo da direita já haviam proposto o tema.
“É um tema muito importante, mas antes de Felca já havia discussões sobre isso. Políticos como Nikolas Ferreira e projetos apresentados desde 2023 tentaram regular redes sociais. O que vemos agora é que o governo utiliza esse episódio para tentar aprovar um projeto de lei, mas ainda há dúvidas sobre abordagem e impacto real. Historicamente, redes sociais escapam do controle centralizado da mídia tradicional, e é isso que incomoda alguns setores.”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na terça-feira, 12 de agosto, que o Governo Federal vai concluir e enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei para regulamentar as big techs e redes sociais no Brasil. Em entrevista à BandNews FM, Lula explicou que a proposta está em elaboração há dois meses e foi discutida na quarta-feira (13), em reunião com ministros.
"Vamos regulamentar, porque é preciso criar o mínimo de comportamento, o mínimo de procedimento no funcionamento de uma rede digital que fala com crianças e com adultos e que, muitas vezes, ninguém assume a responsabilidade pelo conteúdo”, disse o presidente ao jornalista Reinaldo Azevedo.
Está parado desde 2024 no Congresso Nacional o PL 2630/2020, chamada de PL das Fake News, apresentada pelo relator Orlando Silva (PCdoB-SP). O projeto busca regular as redes sociais com o objetivo de combater a desinformação e a publicação de conteúdos ilícitos ganhou força após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e ataques a escolas, mas está parado na Câmara dos Deputados após pressão das grandes empresas de tecnologia, conhecidas como bigtechs.
“Adultização pode gerar confusão sobre identidade, vínculos e limites pessoais, impactando a autoconfiança e equilíbrio emocional das crianças”, avalia Maurício Okamura, médico psiquiatra, à CNN.
O contato precoce a este tipo de conteúdo, principalmente aos sexualizados, pode causar ansiedade ou vergonha, e até mesmo sintomas de depressão. "Quando a imagem de uma pessoa é tratada como um objeto antes dela se tornar completamente independente e madura, há possibilidade de criação de expectativas externas difíceis de atender", destacou Okamura.
"A comparação constante, o medo de não corresponder a padrões e eventuais críticas ou assédio online podem agravar vulnerabilidades emocionais, gerando preocupação com aceitação, irritação, tristeza e sintomas de ansiedade ou depressão", pontuou o psiquiatra.