Pesquisa do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social mostrou que 7,6 milhões de beneficiários saíram completamente do Cadastro Único
por Clara Nilo
Publicado em 05/11/2025, às 13h38 - Atualizado às 13h56
Um levantamento do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds) revelou que 48,9% dos jovens beneficiários do Bolsa Família em 2012 deixaram completamente o Cadastro Único até 2024, o que equivale a 7,6 milhões de pessoas.
O estudo, intitulado “Determinantes da Saída do Cadastro Único: Evidências Longitudinais a partir dos beneficiários do Bolsa Família em 2012”, acompanhou 15,5 milhões de jovens ao longo de 12 anos para identificar os fatores que influenciaram sua permanência ou desligamento da rede de proteção social.
A análise observou crianças e adolescentes que tinham entre 7 e 16 anos em dezembro de 2012 e estavam cadastrados como dependentes do programa. O período foi escolhido por representar uma fase de estabilidade institucional do Bolsa Família e pela disponibilidade de microdados detalhados do Cadastro Único.
De acordo com o levantamento, 17,6% dos jovens, cerca de 2,7 milhões, deixaram o Bolsa Família, mas permaneceram no Cadastro Único, o que indica melhora relativa de renda, embora ainda dependessem de políticas sociais.
Assim, 66,45% do total acompanhado deixaram o programa de transferência de renda. Por outro lado, 33,5% (5,2 milhões de pessoas) continuaram no Bolsa Família, o que sinaliza a persistência de condições de pobreza e vulnerabilidade social.
Em 2012, o grupo era majoritariamente composto por jovens pretos e pardos (73,4%). Embora 96% estivessem matriculados na escola, 27,4% apresentavam defasagem idade-série.
Além disso, 14,3% das famílias viviam em moradias precárias e menos da metade (40,4%) tinha acesso à rede de esgoto.
O estudo mostra que o desligamento do programa foi mais comum entre jovens com melhores condições iniciais. Fatores como alfabetização precoce, trabalho formal e responsáveis com maior escolaridade aumentaram a probabilidade de saída do Cadastro Único.
Famílias com renda per capita acima de R$ 140 em 2012 também apresentaram mais chances de desligamento.
Já entre os que permaneceram, prevaleceram jovens pretos e pardos e famílias em moradias precárias, reforçando o vínculo entre vulnerabilidade social e dependência de programas de transferência de renda. O tempo de participação no Bolsa Família até 2012 também influenciou o desfecho: famílias com menos de dois anos no programa foram as que mais se desligaram até 2024.
O estudo concluiu que a mobilidade dos jovens foi determinada por uma combinação de fatores individuais, familiares e contextuais. Enquanto a saída total do Cadastro Único representa trajetórias de ascensão socioeconômica, a permanência indica persistência da desigualdade e limitações estruturais no enfrentamento da pobreza.