Representantes de empresas instaladas no Porto Digital alertam para insegurança e falta de incentivos como riscos à permanência no bairro do Recife
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 21/06/2025, às 10h40
A ambiência do Recife Antigo, valorizada como um dos principais polos de tecnologia e inovação do país, enfrenta hoje desafios que ameaçam diretamente a permanência de empresas na região. No mais recente episódio do PodJá - o podcast do Jamildo, os empresários Inácio Feitosa (advogado e membro da Rectech) e Everson Oliveira (CEO da Suporte Gerencial) defenderam o fortalecimento da atuação conjunta entre poder público e iniciativa privada como estratégia para garantir a sustentabilidade do ecossistema do Porto Digital.
Durante a entrevista, os dois destacaram que a valorização da região não pode se sustentar apenas no ambiente colaborativo e inovador. Segundo eles, o cenário atual é marcado por problemas estruturais, como insegurança, oscilações no fornecimento de energia e internet durante grandes eventos, como o carnaval, escassez de estacionamentos e a falta de diálogo entre governo e empresários. A percepção, afirmam, é de que o setor produtivo tem assumido uma parcela crescente de responsabilidades sem contrapartidas adequadas do poder público.
“Temos problemas de segurança real. Um domingo desses, eu não consegui chegar à minha empresa na Rua da Guia porque o bairro estava fechado por causa da feirinha. No caminho, vi um casal de turistas quase sendo atacado por cães. Isso em 2025”, contou Inácio Feitosa, que defende uma participação mais ativa das secretarias estaduais e municipais nas decisões sobre o bairro.
“A crítica pela crítica não serve. É preciso agir. E por isso criamos duas associações: a ANBR, com proprietários de imóveis, e a Rectech, voltada para empresas de tecnologia, educação e comunicação.”
Everson Oliveira reforçou que o papel das novas associações é somar esforços e buscar soluções coletivas. “O Recife nasceu aqui, e a gente precisa preservar esse espaço. Não dá para jogar tudo no colo do Estado ou da Prefeitura. Precisamos de sinergia para encontrar respostas, com união entre empresários, gestores e a sociedade”, pontuou.
Ambos também chamaram atenção para o impacto que a reforma tributária poderá causar no setor. O fim dos incentivos de ISS para empresas de tecnologia, previsto para 2032, pode esvaziar o polo. “Já levei uma das minhas empresas para a Paraíba. E dos dez empresários com quem conversei ontem, todos afirmaram que não continuarão aqui após a mudança tributária. O ecossistema é ótimo, mas não paga conta”, declarou Inácio.
A partir de 2032, com a entrada em vigor do novo modelo tributário previsto pela reforma em curso, o Recife — assim como demais municípios — deixará de aplicar benefícios fiscais relacionados ao ISS (Imposto Sobre Serviços), como a alíquota reduzida de 2% praticada em áreas como o Recife Antigo. Isso porque, ao final do período de transição, será adotada a alíquota cheia do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), sem possibilidade de descontos ou compensações fiscais locais.
A mudança faz parte da substituição gradual de cinco tributos atuais (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois novos: o IBS, de competência compartilhada entre estados e municípios, e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), de âmbito federal. O processo de transição começou em 2023 e será concluído em 2032, com fases distintas. Entre 2027 e 2028, o IBS será cobrado de forma simbólica, com alíquota de 0,1%, e a CBS sofrerá redução de 0,1 ponto percentual. A partir de 2029, ICMS e ISS serão reduzidos em 10% ao ano, enquanto o IBS começará a ser cobrado progressivamente até alcançar sua alíquota total em 2033.
Outro ponto de preocupação levantado foi o uso do espaço urbano: flanelinhas, bloqueios em vias e a ausência de estrutura adequada para receber eventos são citados como entraves ao funcionamento regular das empresas. “Estamos discutindo em 2025 como resolver questões básicas. Se não há estímulo, infraestrutura e segurança, por que permanecer aqui sem incentivo fiscal?”, questionou Inácio.
Apesar das críticas, ambos elogiaram iniciativas como a gestão do Porto Digital e o trabalho da secretária Ana Paula Vilaça (Gabinete do Centro do Recife - Recentro), mas reforçaram a necessidade de mais escuta e participação efetiva de gestores públicos. “O que queremos é mais: mais diálogo, mais soluções e mais compromisso com esse polo que é vital para a cidade”, concluíram.
Apesar das críticas dos empresários, o Gabinete do Centro realizou duas edições do Conexão Recentro. Na segunda, onde teve participação da Caixa Econômica Federal, o banco estatal lançou uma nova linha de financiamento imobiliário exclusivo para o retrofit, vinculada ao programa Minha Casa Minha Vida. Essa prática é para que haja, além das empresas, moradia na região.
"Além do benefício da Lei do Recentro, que concede benefícios de IPTU e ITBI, estamos atuando junto com instituições bancárias para oferecer linhas de financiamento especial", disse Ana Paula Vilaça ao Jamildo.com
A conversa completa com Inácio Feitosa e Everson Oliveira vai ao ar neste sábado (21), às 14h, no YouTube do Jamildo Melo. No episódio do PodJá, eles analisam os impactos da insegurança, da infraestrutura precária e das mudanças tributárias sobre o ecossistema do Recife Antigo e do Porto Digital.