Inácio Feitosa explica como o uso de agentes de trânsito temporários pelos municípios pode anular as multas aplicadas aos motoristas e gerar insegurança
Inácio Feitosa * | Publicado em 20/03/2025, às 10h30 - Atualizado às 10h57
*Inácio Feitosa- Advogado e Fundador do Instituto IGEDUC
A contratação de agentes de trânsito por meio de seleções simplificadas ou contratos temporários tem sido adotada por diversos municípios brasileiros como uma solução emergencial.
No entanto, essa prática é ilegal e compromete a validade das multas aplicadas por esses profissionais. Sem investidura formal no cargo, não há legitimidade para o exercício do poder de polícia administrativa, tornando nulas as autuações feitas por esses agentes.
Os consultores e advogados do Instituto IGEDUC alertam que essa irregularidade pode ter consequências sérias para os gestores municipais e para os motoristas multados. Além de criar insegurança jurídica, a contratação irregular de agentes de trânsito pode resultar em sanções administrativas, civis e criminais para os prefeitos e secretários de trânsito.
Neste artigo, explicamos por que essa prática é ilegal, quais as implicações para os municípios e como os motoristas podem recorrer das multas aplicadas de forma irregular.
A Constituição Federal, no artigo 37, inciso II, estabelece que o ingresso no serviço público deve ser feito por concurso público, salvo em casos excepcionais previstos em lei.
Como o agentes de trânsito exercem poder de polícia administrativa, aplicando penalidades e fiscalizando infrações, é essencial que tenham nomeação formal e vínculo estatutário com a administração pública.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), no artigo 24, reforça essa exigência ao estabelecer que a fiscalização e aplicação de penalidades são atribuições exclusivas dos órgãos estaduais e municipais de trânsito.
Entretanto, essa atividade não pode ser delegada a agentes contratados de forma precária, pois sua atuação sem concurso configura usurpação de função pública.
Além disso, a Resolução nº 811/2020 do CONTRAN estabelece diretrizes para a atuação de agentes de trânsito, exigindo capacitação e vinculação formal a um órgão público. Isso significa que qualquer profissional contratado sem concurso não pode, legalmente, fiscalizar o trânsito ou emitir multas.
O IGEDUC, a maior banca de concursos do Norte-Nordeste, chama a atenção dos prefeitos para esse problema. A solução correta e legal é a realização de concursos públicos, garantindo que os agentes sejam qualificados e investidos na função pública.
Sim! Como os agentes temporários não possuem legitimidade para fiscalizar infrações de trânsito, as multas aplicadas por eles são juridicamente nulas. Para que um auto de infração tenha validade, ele deve ser emitido por um servidor legalmente nomeado para o cargo.
Os motoristas não são obrigados a pagar multas aplicadas por agentes temporários e podem recorrer administrativamente ou judicialmente para anular essas penalidades.
Muitos gestores municipais alegam falta de tempo ou recursos financeiros para realizar concursos públicos e, por isso, optam por contratar agentes temporários. Entretanto, essa prática não tem respaldo legal.
A Constituição e o CTB determinam que o poder de polícia administrativa só pode ser exercido por servidores estatutários, e não por contratados precariamente.
O Instituto IGEDUC alerta que a continuidade dessa prática pode gerar sanções severas aos gestores. A ausência de concursos públicos expõe os municípios a ações judiciais, processos administrativos e até responsabilização criminal dos prefeitos e secretários.
Sim! Prefeitos que permitem a atuação de agentes sem concurso público podem ser responsabilizados administrativa, civil e criminalmente.
Gestores que desrespeitam os princípios da legalidade e moralidade podem sofrer penalidades como:
Motoristas prejudicados têm o direito de ingressar com ações judiciais para anular multas e exigir restituição de valores pagos indevidamente.
Dependendo da situação, prefeitos e secretários podem responder por:
As penalidades podem incluir detenção, multa e, em casos mais graves, reclusão.
Sim! Se você recebeu uma multa aplicada por um agente temporário, pode e deve recorrer. Como esses profissionais não têm competência legal para lavrar autos de infração, todas as penalidades impostas por eles são nulas.
O recurso pode ser feito nas instâncias administrativas, como a JARI (Junta Administrativa de Recursos de Infrações), e, se necessário, por meio de ação judicial.
A contratação de agentes de trânsito sem concurso público é ilegal e prejudica tanto os motoristas quanto a administração pública. De acordo com a Constituição Federal, o Código de Trânsito Brasileiro e as normativas do CONTRAN, apenas servidores concursados podem exercer poder de polícia administrativa e aplicar multas de trânsito.
Os municípios que insistem nessa prática violam os princípios da administração pública, correm o risco de processos judiciais e deixam gestores municipais expostos a punições severas.
Os motoristas não devem aceitar multas aplicadas por agentes temporários e devem recorrer sempre que identificarem essa irregularidade.
Portanto, a única solução segura e legal é a realização de concursos públicos para agentes de trânsito. Isso garante legalidade, segurança jurídica e um trânsito fiscalizado corretamente, sem prejuízos para os cidadãos.