No Ceará, trecho financiado pelo BNB já tem 676 km prontos; em Pernambuco, ramal até Suape está parado desde 2016 e depende de nova licitação
por Cynara Maíra
Publicado em 21/07/2025, às 08h42 - Atualizado às 09h08
Enquanto o Ceará avança nas obras da Ferrovia Transnordestina, com 75% do trecho concluído, o ramal em Pernambuco permanece com o cronograma travado.
Na sexta-feira (18), o presidente Lula (PT) e o presidente do Banco do Nordeste (BNB), Paulo Câmara, visitaram o canteiro de obras em Missão Velha (CE), onde já foram entregues 676 km da linha principal entre o Piauí e o Porto do Pecém.
O segmento visitado é financiado pelo BNB, que já investiu R$ 7,4 bilhões no projeto desde 2010. Em janeiro deste ano, foram repassados R$ 400 milhões, e outros R$ 600 milhões tiveram nova autorização de crédito.
Durante o evento, Lula falou sobre o impacto logístico e econômico da obra no semiárido, enquanto Paulo Câmara frisou que o transporte ferroviário pode reduzir custos e atrair investimentos privados à região.
O trecho total da ferrovia terá 1.207 km. Segundo a Transnordestina Logística S.A. (TLSA), o transporte de grãos do Piauí até o terminal seco de Iguatu deve começar ainda este ano.
Além disso, Lula assinou uma medida provisória para instalação de um data center no Complexo do Pecém, com investimento previsto de R$ 50 bilhões, e sancionou uma lei que destina R$ 816 milhões ao Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE).
Enquanto isso, o trecho pernambucano entre Salgueiro e o Porto de Suape, com 544 km de extensão, permanece paralisado desde 2016. Cerca de 38% da obra já foi executada, mas os demais lotes aguardam licitação.
A estatal Infra S.A. prevê lançar os editais no segundo semestre de 2025 e iniciar as obras até o primeiro semestre de 2026. A entrega final só deve ocorrer em 2029, segundo o cronograma oficial.
O governo federal destinou R$ 450 milhões via Novo PAC para destravar a obra, mas o custo total estimado do ramal é superior a R$ 5 bilhões.
A paralisação do trecho pernambucano tem origem na devolução da concessão feita pela TLSA em 2022, após decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que excluiu a ligação com Suape do escopo da empresa, por inviabilidade de operar em dois portos distintos.
Em junho deste ano, a Infra S.A. emitiu ordem de serviço para mais 46 km no Ceará, cruzando os municípios de Quixadá, Itapiúna, Capistrano e Baturité. A meta é entregar todos os trechos cearenses até 2026. Ao todo, a Sudene já liberou R$ 3,8 bilhões e assinou novo aditivo de R$ 3,6 bilhões para acelerar o andamento da obra.
Apesar das promessas, o avanço desigual entre os estados reacende críticas de empresários e prefeitos pernambucanos, que cobram tratamento isonômico. Durante o congresso da Amupe, gestores ligados ao Consórcio de Municípios do Agreste e Mata Sul (Comagsul) divulgaram carta em defesa do ramal de Suape e cobraram a construção de um porto seco para dinamizar a economia local.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, já afirmou que “porto precisa de ferrovia” e garantiu que o trecho até Suape será executado com recursos da União.
Entre os trechos que devem ser licitados ainda este ano estão o SPS 04, entre Custódia e Arcoverde (73 km), e o SPS 07, de Cachoeirinha a Belém de Maria (53 km). Segundo o governo, os contratos devem ser assinados até dezembro.