Nem Lula, nem Bolsonaro: um terço do eleitorado quer novo nome em 2026

Para o economista Maurício Romão, alta taxa de indecisos e desgaste do governo criam cenário para novo nome fora da polarização

Ana Luiza Melo

por Ana Luiza Melo

Publicado em 30/06/2025, às 14h50 - Atualizado às 16h04

Pesquisa MDA/CNT, com questionamento estimulado, revelou que 32,6% dos entrevistados votariam em Bolsonaro ou em alguém indicado por ele, 30,9% em Lula e 30,6% em um candidato que não estivesse vinculado a nenhum dos dois. - Foto 1: Ricardo Stuckert | Foto 2: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Pesquisa MDA/CNT, com questionamento estimulado, revelou que 32,6% dos entrevistados votariam em Bolsonaro ou em alguém indicado por ele, 30,9% em Lula e 30,6% em um candidato que não estivesse vinculado a nenhum dos dois. - Foto 1: Ricardo Stuckert | Foto 2: Marcelo Camargo / Agência Brasil

As pesquisas eleitorais divulgadas em junho pelos institutos Quaest e MDA/CNT reacenderam o debate sobre a viabilidade de uma candidatura de terceira via nas eleições presidenciais de 2026. Embora o pleito ainda esteja a 16 meses de distância, os levantamentos já indicam possíveis mudanças na dinâmica política tradicionalmente polarizada entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista ao Jamildo.com, o economista Maurício Romão, especialista em pesquisas de opinião pública, analisou os dados mais recentes. Ele destaca que a pesquisa Quaest, de formato espontâneo, apontou que 80% dos eleitores ainda estão indecisos — um dado expressivo que reforça o caráter ainda incipiente da disputa.

Já a pesquisa MDA/CNT, com questionamento estimulado, revelou que 32,6% dos entrevistados votariam em Bolsonaro ou em alguém indicado por ele, 30,9% em Lula e 30,6% em um candidato que não estivesse vinculado a nenhum dos dois.

“Esse último número mostra que há um terço do eleitorado aberto à possibilidade de uma alternativa fora dos dois polos tradicionais, o que não se via com a mesma força em 2022", avaliou Romão.

Desgaste do governo e impacto nas intenções de voto

Ao comentar a avaliação do governo Lula, Romão lembrou que o presidente iniciou o mandato com uma leve vantagem na aprovação sobre a desaprovação, ao longo de 2023. No entanto, esse cenário começou a se inverter no segundo semestre de 2024.

"A desaprovação crescente ao governo é um dos fatores que ajuda a explicar o espaço aberto para a terceira via", pontuou. 

Na opinião do economista, os embates entre direita e esquerda que se estendem há alguns anos está desgastando também a opinião pública, refletidos nos 30,6% de eleitores que não votam nem em lula nem em Bolsonaro.

"Esse contingente de brasileiros que está cansado dessa polarização, Dessa ausência de conformidade. Está cansado desse diálogo interrompido", opinou. 

Fator Bolsonaro e indefinição na direita

Segundo Romão, a indefinição sobre a participação de Bolsonaro nas eleições de 2026 também contribui para a abertura de espaço político. Atualmente Inelegível, o ex-presidente ainda não indicou quem poderá herdar seu capital eleitoral — se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, outro político ou até mesmo alguém da própria família.

A decisão de Bolsonaro será central para o desdobramento eleitoral à direita. Sua influência permanece relevante, mesmo que ele não esteja na disputa. Então tem que se aguardar mais um pouco os  desdobramentos e principalmente essa decisão", afirmou.

Conhecimento dos pré-candidatos ainda é limitado

Romão também chama atenção para o baixo grau de conhecimento do público em relação aos nomes que aparecem nas pesquisas estimuladas. Segundo ele, a visibilidade de figuras como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Jr. e Ronaldo Caiado ainda é limitada.

"À medida que esses nomes forem sendo mais expostos ao público, por meio da mídia ou das redes, seu potencial eleitoral poderá ser melhor avaliado", disse o economista.

Cenário aberto e em formação

Embora a disputa presidencial de 2026 ainda esteja distante, os dados de junho apontam para um cenário mais fluido do que em eleições anteriores, com alta taxa de indecisos, aumento da desaprovação ao governo federal e possível reorganização do espectro político.

A eleição de 2022 foi marcada por uma escolha entre rejeições. O que vemos agora é um eleitorado menos mobilizado, mas que começa a dar sinais de busca por novas alternativas", concluiu Maurício Romão.