Durante 8º Congresso da AMUPE, Leandro Karnal e especialistas discutem o uso da IA e a urgência de gestores se atualizarem para servir melhor à população.
por Ana Luiza Melo
Publicado em 30/04/2025, às 15h29 - Atualizado às 16h41
O historiador e professor Leandro Karnal participou do encerramento do 8º Congresso da Associação Municipalista de Pernambuco (AMUPE) conduzindo o painel “Inteligência Artificial na Gestão Pública”.
Logo na abertura, Karnal fez uma ponte entre história e atualidade ao exaltar a identidade pernambucana, marcada por resistência e luta. Segundo ele, é preciso transformar esse orgulho local em ação concreta para o bem comum.
"Identidade não pode ser apenas vaidade; deve gerar políticas coerentes e transformadoras”, afirmou, lembrando que a política precisa se atualizar ao tempo presente e compreender as novas ferramentas, como as redes sociais e a inteligência artificial (IA).
Karnal ressaltou que, apesar do nome, a inteligência artificial não é verdadeiramente “inteligente”, pois não cria nem sente como os humanos. No entanto, ela pode ser usada como ferramenta poderosa. “A IA é como um estagiário: rápido, esforçado, mas precisa de supervisão humana”, brincou.
Segundo ele, é essencial que os gestores aprendam a usar essas novas tecnologias de forma consciente, evitando tanto o medo exagerado quanto a adoção cega.
O painel contou com a participação dos especialistas Álvaro Farias e Débora Arocha, que trouxeram recomendações práticas para prefeitos e secretários municipais.
Ambos defenderam o “letramento digital” como passo inicial para a aplicação da IA na gestão pública. “Os prefeitos precisam capacitar suas equipes para que possam dialogar com uma sociedade cada vez mais conectada e exigente”, destacou Débora.
Entre as aplicações práticas da IA nos municípios, foram citadas desde diagnósticos personalizados na saúde até provas adaptadas para alunos com transtornos de aprendizagem.
Além disso, os especialistas também enfatizaram a importância da análise preditiva: usar dados disponíveis para antecipar problemas e planejar ações eficazes, como políticas educacionais de longo prazo ou prevenção de desastres naturais.
Além de destacar a importância de os gestores municipais se atualizarem, Leandro Karnal enfatizou a necessidade de abandonar a ideia de que “seu tempo passou”. Para ele, o tempo dos prefeitos e vereadores é agora — e exige ação, curiosidade e disposição para aprender constantemente.
"Parou de aprender, morreu. Esforço é como banho: precisa ser diário”, reforçou.
Karnal também falou sobre o impacto das transformações sociais e tecnológicas no cotidiano das cidades. Ele provocou os presentes a refletirem sobre como a inteligência artificial pode ser aliada, desde que usada com consciência.
“Você pode não gostar da IA, mas ela vai continuar existindo. A questão é: como você vai usá-la para servir melhor à população?”
Os especialistas convidados, Álvaro Farias e Débora Arocha, explicaram que a inteligência artificial já está presente em diversos dispositivos usados diariamente, como celulares, e que pode ser aplicada para tornar o serviço público mais eficiente.
Eles ressaltaram que o primeiro passo é investir em capacitação: o chamado letramento digital, que permite aos servidores compreenderem e explorarem essas ferramentas com responsabilidade.
Débora Arocha defendeu que cada município deve começar analisando sua própria realidade e principais demandas. A partir disso, é possível utilizar IA para oferecer serviços mais personalizados, como adaptar avaliações para alunos com TDAH ou facilitar o acesso a prontuários médicos. “A inteligência artificial pode tornar o atendimento mais humano, não o contrário”, afirmou.
Álvaro Farias complementou com um alerta: é essencial tratar da cibersegurança. Com a digitalização dos serviços, os municípios se tornam alvos potenciais de ataques cibernéticos.
Ele sugeriu que consórcios municipais podem ser uma solução para cidades com menos recursos, além de reforçar que o maior risco ainda é a “engenharia social” — a manipulação humana, e não apenas técnica, que compromete sistemas.
Encerrando com recomendações práticas, os especialistas sugeriram a adoção de ferramentas gratuitas de IA para testes iniciais, a criação de grupos de troca de experiências entre municípios e a leitura de livros como Transformação Digital, de Stephen Rogers, e Algoritmos de Destruição em Massa, de Cathy O’Neil. Para eles, o futuro da gestão pública passa por inovação, colaboração e educação contínua.