Carta de Bolsonaro antes de cirurgia define Flávio Bolsonaro como sucessor para eleições 2026

Em documento escrito à mão, Bolsonaro indicou Flávio Bolsonaro como pré-candidato ao Planalto em 2026. Ação busca preservar capital político da família

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 26/12/2025, às 08h36 - Atualizado às 08h56

Flávio Bolsonaro lê papel, ao redor diversos microfones de veículos de imprensa
Flávio Bolsonaro leu carta escrita em próprio punho por Jair Bolsonaro antes de cirurgia - Reprodução

Sucessor Definido: Em carta escrita na prisão, Jair Bolsonaro indicou o filho Flávio Bolsonaro (PL) como seu pré-candidato à presidência em 2026.

Controle Político: A escolha prioriza a manutenção do controle do bolsonarismo pela família, descartando nomes mais competitivos eleitoralmente, como Tarcísio de Freitas.

Cirurgia: O ex-presidente passou por uma cirurgia de hérnia inguinal nesta quinta (25); o procedimento foi considerado um sucesso e sem intercorrências.

Recuperação: Bolsonaro deve ter alta em sete dias; médicos avaliam tratar soluços crônicos durante a internação.

Visitas Restritas: Michelle Bolsonaro acompanha o ex-presidente; visitas de filhos foram liberadas, mas outros aliados precisam de aval do STF.

Antes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passar por uma cirurgia de hérnia inguinal na quinta-feira (25), o senador Flávio Bolsonaro (PL) leu uma carta de próprio punho do pai, indicando-o como pré-candidato à presidência da República em 2026.

A leitura ocorreu em frente ao hospital DF Star, em Brasília. Segundo Flávio, o documento foi escrito à mão no dia 23 de dezembro, na Superintendência da Polícia Federal, onde Bolsonaro cumpre pena de mais de 27 anos por tentativa de golpe de Estado.

"Diante desse cenário de injustiça e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à presidência da República em 2026", diz o texto.

A carta tenta encerrar a disputa interna pelo espólio político do bolsonarismo. Com o ex-presidente inelegível após condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vários nomes estavam entre os cotados.

O principal deles era o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O senador surgiria como um candidato funcional, que mantém o protagonismo simbólico do pai e evita que o capital político da direita vá para uma liderança autônoma, como seria o caso de Tarcísio.

A decisão também afeta o comportamento do centro político. Sem uma candidatura de oposição favorita e unificada em torno de um nome "agregador", partidos como PSD, MDB e Republicanos tendem a operar com mais cautela em relação ao governo Lula (PT).

Como foi a cirurgia de Jair Bolsonaro

O ex-presidente passou pelo procedimento cirúrgico na manhã de quinta-feira. Segundo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a operação para correção de uma hérnia inguinal bilateral foi bem sucedida  sem intercorrências.

Os médicos aguardam a recuperação anestésica para uma avaliação completa. A previsão é de alta hospitalar em sete dias.

Durante a internação, a equipe médica, liderada pelo cirurgião Cláudio Birolini, também deve analisar os soluços frequentes do ex-presidente, que chegam a 40 por minuto. Existe a possibilidade de aplicação de anestesia no diafragma para controlar o sintoma.

O ministro Alexandre de Moraes autorizou Michelle a acompanhar o marido no hospital e liberou a visita dos filhos, seguindo as regras da unidade de saúde. Outras visitas precisam de autorização prévia do STF.

"Entrego o próprio filho"

Na carta lida por Flávio, que estava ao lado do irmão Carlos Bolsonaro, o ex-presidente utiliza um tom emocional para justificar a escolha.

"Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para resgatar o nosso Brasil", escreveu Bolsonaro.

O texto não menciona a cirurgia, focando na narrativa de "injustiça" e "batalhas". Flávio afirmou que a carta garante a sua candidatura para quem ainda duvidava do apoio do pai e confirmou a "missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação".

A sugestão para que Bolsonaro escrevesse cartas partiu de aliados como uma forma de manter a comunicação com a base eleitoral mesmo estando preso. Esta foi a primeira vez que o recurso foi utilizado.

Veja íntegra da carta de Bolsonaro

Ao longo da minha vida tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto com minha saúde e família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil.

Diante desse cenário de injustiça e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à presidência da República em 2026.

Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para resgatar o nosso Brasil. Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim.

Ele é a continuidade do caminho da prosperidade que iniciei bem antes de ser presidente, pois acredito que precisamos retomar a responsabilidade de conduzir o Brasil com justiça, firmeza e lealdade aos anseios do povo brasileiro.

Que Deus o abençoe e o capacite na liderança dessa corrente de milhões de brasileiros que honram a Deus, a pátria, a família e a liberdade.