Novo edital marca retomada da Transnordestina no Sertão de Pernambuco

Com investimento de R$ 415 milhões, governo lança edital para retomada da Transnordestina em Pernambuco; projeto soma 15 anos de atrasos e disputas

Plantão Jamildo.com

por Plantão Jamildo.com

Publicado em 13/11/2025, às 12h19

Imagem Novo edital marca retomada da Transnordestina no Sertão de Pernambuco

Edital federal prevê retomada de 73 km da Transnordestina em Pernambuco.

Projeto original acumula mais de 15 anos de atrasos e mudanças de traçado.

Ferrovia já tem 600 km prontos entre Piauí e Ceará, segundo a CSN.

Setor produtivo cobra transparência e defende impacto logístico positivo.

informe publicitárioO Ministério dos Transportes publicou o edital de licitação para retomada das obras da Ferrovia Transnordestina em Pernambuco, no início de novembro. O projeto contempla o trecho de 73 quilômetros entre Custódia e Arcoverde, no Sertão do Moxotó, com investimento estimado em R$ 415 milhões.

A execução ficará a cargo da estatal federal Infra S.A., responsável pela estruturação de rodovias e ferrovias de interesse nacional. O trecho integra o ramal entre Salgueiro e o Porto de Suape, dentro do lote SPS 04, e atravessa ainda os municípios de Sertânia e Buíque, no Agreste.

De acordo com o Ministério, a expectativa é que as obras sejam reiniciadas no início de 2026. O custo total do ramal pernambucano, de Salgueiro a Suape, deve variar entre R$ 3,5 bilhões e R$ 5 bilhões. Estima-se a geração de cerca de seis mil empregos diretos e indiretos durante a execução. Atualmente, 179 quilômetros do traçado em Pernambuco já estão concluídos, o que equivale a aproximadamente 38% da extensão total.

O anúncio representa um avanço no processo de reestruturação do projeto original da Transnordestina, uma das maiores obras de infraestrutura ferroviária do país, que liga Eliseu Martins (PI) ao Porto de Pecém (CE), com extensão até Suape (PE). A ferrovia é considerada estratégica para o escoamento da produção agrícola e industrial do Nordeste e integra o portfólio de obras prioritárias do Governo Federal.

Projeto emblemático de atrasos e disputas políticas

A Transnordestina é um dos projetos mais emblemáticos da infraestrutura brasileira. Concebida no início dos anos 2000, a ferrovia foi pensada para conectar o interior do Piauí aos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, com o objetivo principal de escoar a produção de grãos da região do Matopiba — área que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

No sentido inverso, a ferrovia transportaria insumos agrícolas, máquinas e combustíveis, impulsionando a industrialização do sertão nordestino. O traçado inicial previa 1.728 quilômetros de trilhos, passando por 80 municípios dos três estados, com custo estimado de R$ 4,5 bilhões e conclusão prevista para 2011, dentro do primeiro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Foto de um trem em um trilho

Nenhuma dessas metas se concretizou. Disputas políticas, revisões de traçado, contingenciamentos orçamentários e desistências de parceiros privados transformaram o projeto, que acumula mais de 15 anos de atraso. O orçamento original triplicou, e, atualmente, o traçado final encolheu para 1,2 mil quilômetros, conectando Eliseu Martins ao Porto de Pecém.

O trecho de 600 quilômetros até Suape, em Pernambuco, não está mais sob responsabilidade da concessionária privada, a Transnordestina Logística S.A., subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Mesmo sem essa parte, o custo total da ferrovia está projetado em cerca de R$ 15 bilhões.

Essa é a primeira vez que todos os intervenientes públicos estão pensando da mesma maneira. Antes, quando três ou quatro questionavam alguma coisa ou não atuavam em sintonia com a obra, você paralisava toda a engrenagem. Foi o que aconteceu ao longo dos anos”, afirmou Tufi Daher, presidente da Transnordestina Logística, ao Valor Econômico.

Segundo a empresa, já há 600 quilômetros prontos entre Paes Landim (PI) e Acopiara (CE). A expectativa é de contratar, até outubro, mais 100 quilômetros de obras. Para a CSN, 75% da ferrovia está concluída, considerando as etapas mais complexas de infraestrutura — pontes, viadutos e nivelamento do terreno.

Uma ferrovia pode ter uma elevação de apenas 1,5 grau, é muito diferente de uma rodovia, que pode subir e descer morros sem muito problema. Aqui não pode haver essa inclinação”, explicou Jocemar Caprini, gerente-geral de obras da Transnordestina Logística.

Impacto logístico e desafios

Transnordestina em obras

A retomada do projeto é vista pelo setor produtivo como essencial para reduzir custos logísticos, ampliar a competitividade regional e integrar os polos industriais ao mercado exportador. Representantes da indústria destacam que a ferrovia poderá beneficiar setores como o têxtil, o agrícola e o químico, além de facilitar o transporte de cargas até os portos nordestinos.

A Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) avalia que a obra tem potencial para impulsionar o desenvolvimento do interior e reforçar a logística nacional. “A conclusão da ferrovia é uma necessidade para a economia do Estado e da região”, disse o presidente da entidade, Bruno Veloso.

Especialista em infraestrutura e transportes avalia que, embora o edital represente um avanço, o projeto ainda requer clareza técnica e definição logística. O professor aposentado da UFPE Fernando Jordão afirma que a viabilidade do trecho entre Salgueiro e Suape precisa ser analisada à luz de estudos atualizados.

Suape, um dos portos mais importantes do país, está há anos sem ligação ferroviária eficiente. A Transnordestina precisa garantir que o traçado proposto seja tecnicamente sustentável e economicamente viável”, afirmou.

Segundo ele, o debate sobre o modelo de operação e o papel estratégico da ferrovia deve envolver especialistas, empresários e a sociedade civil. “É fundamental que o projeto seja discutido de forma transparente, para que a ferrovia cumpra sua função de integração e desenvolvimento regional”, completou.