Imposto de Renda puniu mais pobres, enquanto mais ricos não pagam nada sobre maior parte dos rendimentos

O IR puniu os mais pobres. Alíquota de quem ganha mais de R$ 400 mil por mês teve queda de 2,56 pontos percentuais em 18 anos, redução de 37% no IR

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 01/10/2025, às 10h19 - Atualizado às 10h49

Vista do Congresso Nacional
Congresso Nacional deve votar hoje medida que isenta quem ganha até R$ 5 mil por mês - © Marcello Casal JrAgência Brasil

O Imposto de Renda (IR) no Brasil tem se mostrado cada vez mais injusto, aprofundando a desigualdade entre os contribuintes. Um estudo do Sindifisco Nacional, sindicato dos auditores-fiscais da Receita Federal, analisou as alíquotas efetivas de IR pagas por diferentes faixas de renda entre 2007 e 2023, mostrando um sistema tributário cada vez mais regressivo.

Nos últimos 18 anos, o percentual da renda total cobrada de imposto caiu 2,56 pontos percentuais, o que representa uma redução de 37% no pagamento real do IR. Ao mesmo tempo, quem ganha entre 5 e 7 salários mínimos viu seu imposto aumentar em 2.900%. Por exemplo, essa faixa salarial pagava cerca de R$ 12,60 por mês de IR em 2007 e passou a pagar R$ 397,80 em 2023, um aumento de mais de R$ 4.600 anuais.

Essa injustiça fiscal ocorre por causa do congelamento da tabela do IR, que não acompanha a inflação, e pelo fim da tributação sobre lucros e dividendos, renda da qual os ricos passaram a ficar isentos. Enquanto isso, os trabalhadores assalariados e as classes médias pagam relativamente mais, já que seus descontos não foram corrigidos.

Em informe ao site Jamildo.com, Dão Real, presidente do Sindifisco, critica o modelo atual que faz o Estado cobrar mais dos pobres para redistribuir para os pobres. Para ele, é fundamental que o Estado enfrente a sonegação e a baixa cobrança dos mais ricos para reduzir as desigualdades e fomentar o desenvolvimento econômico.

Esse debate ganha ainda mais relevância neste momento em que o Congresso discute um projeto que busca isentar do IR quem ganha até R$ 5 mil e tributar os mais ricos, tentando corrigir distorções históricas. A votação, marcada para esta quarta-feira, enfrenta forte resistência dos setores beneficiados pela atual estrutura. A mudança na tributação é vista como essencial para transformar o Brasil em um país mais justo e igualitário, com um sistema que faça os mais ricos contribuírem de forma proporcional à sua capacidade financeira.