"Para além do debate ideológico: Segurança Pública é direito fundamental do povo" é um artigo do presidente do Sinpol-PE, Áureo Cisneiros
Áureo Cisneiros | Publicado em 01/06/2025, às 11h28 - Atualizado às 11h39
O debate sobre segurança pública no Brasil foi sequestrado por uma polarização rasa, limitada e estéril. De um lado, discursos autoritários que transformam a polícia em braço da repressão cega e salvadora de tudo. Onde muitos colocam armas como garantidoras de um direito, mas na verdade estão a serviço da indústria bélica, uma das mais perversas da humanidade De outro, setores que evitam um debate sério e real sobre ações e políticas repressivas do Estado, sem demonização demagógica das forças policiais. No meio disso tudo, a população continua refém da violência e os profissionais da segurança, abandonados e instrumentalizados pelo Estado.
Eu falo com a vivência de quem está há mais de duas décadas nas ruas, delegacias, nas lutas sindicais, nos movimentos sociais e mobilizações por segurança pública. E afirmo: segurança pública não é mercadoria, não é serviço, não é pauta de marketing político, não é palco para lacração em rede social. É direito. E precisa ser tratada com seriedade, responsabilidade e compromisso, principalmente por quem governa.
Minha trajetória política sempre foi marcada por um viés progressista. Fui filiado ao PSOL por muitos anos, onde aprendi muito, fiz amigos, mas me desfiz da filiação quando percebi que era necessário ter mais autonomia para lutar pela valorização dos policiais civis e pela construção de uma segurança pública verdadeiramente cidadã.
Continuo acreditando na mudança, na consciência de classe, na justiça social e no combate às desigualdades. E nunca essa minha visão tradicionalista de esquerda foi incompatível em defender uma política de segurança píblica cidadã, uma polícia civil forte, valorizada e atuante.Pelo contrário. É o alimento que me energiza todos os dias a levantar e agir.
E faço questão de destacar: não há segurança pública efetiva sem investigação criminal qualificada. Em outras palavras, não há política de segurança pública sem o fortalecimento da Polícia Civil. Somos nós que esclarecemos homicídios, desarticulamos quadrilhas, combatemos crimes de violência doméstica, investigamos corrupção, violência sexual, tráfico de drogas, entre tantos outros. Mas, apesar da nossa importância, somos tratados como uma força secundária. Isso precisa mudar.
A falta de investimentos na polícia investigativa impacta diretamente nos resultados e na sensação de justiça. Enquanto isso, governantes preferem apostar em ações midiáticas, no uso maquiado da repressão, em supostos programas de segurança pública sem diálogo com a sociedade e trabalhadores da segurança, além de não investir no básico e elementar: Carreira de Estado para a Polícia Civil, Lei Orgânica moderna, concursos públicos, inteligência, valorização salarial, estrutura mínima para as unidades policiais funcionarem.
A violência que vemos todos os dias não será reduzida unicamente com mais viaturas nas ruas porque o crime não teme viatura, teme investigação. Precisa-se de polícias valorizados, condições de trabalho, inteligência, ações integradas e presença do Estado.
Se quisermos de fato construir um país mais seguro e justo, precisamos parar de tratar a segurança pública como palanque ideológico e passarmos a tratá-la como política pública como direito fundamental, baseada em dados, ciência, planejamento, conscientização e valorização de quem está na linha de frente.
Nós, da Polícia Civil, queremos trabalhar. Queremos proteger a sociedade, resolver crimes, garantir justiça. Mas não podemos continuar fazendo isso sob adoecimento, desvalorização e abandono institucional.
Por isso, deixo aqui um apelo, não apenas como sindicalista, mas como servidor público, pai de família e cidadão: a segurança pública é direito e o Brasil não pode mais esperar.