Com a popularidade em queda, Lula aposta em mudanças ministeriais para fortalecer sua base e enfrentar crises. Assim, centro-direita pode avançar mais
Ricardo Leitão | Publicado em 13/01/2025, às 12h49 - Atualizado às 12h50
Por Ricardo Leitão, especial para o site Jamildo.com
Até o final do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclui a primeira reforma de seu ministério, iniciada pela substituição do deputado federal Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira, publicitário, na chefia da Secretaria de Comunicação.
Outras mudanças são aguardadas nos Ministérios da Defesa, da Justiça, do Desenvolvimento Econômico, de Portos e Aeroportos e na Secretaria Geral da Presidência. Lula está decidido a melhorar a divulgação das ações do governo; o desempenho da administração e estabilizar sua base de apoio no Congresso.
É a segunda grande aposta do presidente, a dois anos das urnas de outubro de 2026. A primeira foi a eleição municipal do ano passado, quando a esquerda só venceu em duas capitais – no Recife, com João Campos (PSB), e em Fortaleza, com Evandro Leitão (PT).
Em todas as outras capitais, partidos aliados a Lula elegeram o menor número de candidatos desde 1985, ano em que todas as sedes estaduais passaram a ter eleições diretas para o Executivo. Uma derrota incontestável, que pode repercutir na sucessão presidencial.
A reforma ministerial - segunda aposta de Lula – tem riscos. Como se ensina nos campos minados de Brasília, mudanças nos escalões superiores fazem parte da rotina, principalmente quando se avizinham disputas majoritárias. O problema é quem entra e qual cargo ocupará.
A fundada suspeita é que aportarão no ministério figuras não escolhidas por mérito, mas por indicação do Centrão, núcleo duro do centro-direita no Congresso. Um bloco parlamentar para o qual não importa o que se pode fazer em favor do público, mas o tamanho do orçamento da sinecura que tem em mãos.
Se assim for, o centro-direita vai ampliar sua presença no primeiro escalão, enfraquecendo Lula e a esquerda. Em troca, o presidente passaria a contar com o apoio do Centrão nas votações no Congresso, onde a base governista enfrenta permanente dificuldade de se articular.
No entanto, é preciso andar rápido: o centro-direita vai eleger os dois próximos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, em fevereiro, continuando no comando do Parlamento, na metade final do governo liderado pelo PT.
O risco de uma crise política é real, agravado pelo sentimento negativo da população em relação ao governo. Dados da pesquisa PoderData, de dezembro de 2024, apontam que apenas 37% dos brasileiros consideram a gestão de Lula melhor do que a de Jair Bolsonaro.
Entre os mais pobres, só 35% apontam o governo de Lula como melhor. É para esse extrato populacional – com renda familiar de até dois salários mínimos - que a gestão petista tem voltado suas prioridades.
Outra pesquisa não contribui para desanuviar o horizonte. Dados do Datafolha, do início deste mês, indicam que a avaliação positiva de Lula, como dirigente do País, é de 35% e a negativa de 34%.
Isso significa metade do índice de 70% de popularidade medido em meados do segundo mandato do presidente, há dezesseis anos. É semelhante aos marcados para Bolsonaro na altura do mesmo período, com pandemia, enchentes e surtos de desgoverno.
O que aconteceu?
No final do ano passado, análises sobre os dois primeiros anos do governo Lula tentaram responder a pergunta. Apesar dos diagnósticos muitas vezes contraditórios, houve concordância de que, em 2024, o Brasil fez o sexto maior ajuste fiscal do mundo, sendo o terceiro maior entre os países emergentes, segundo o FMI.
Apesar dos gastos extraordinários com as inundações no Rio Grande do Sul, o déficit primário foi só de 0,4% do PIB – um dos melhores resultados em uma década.
E, ao contrário de outros tempos, o ajuste fiscal veio acompanhado de crescimento econômico e do emprego, juntamente com a manutenção de programas sociais de grande abrangência, como o Bolsa Família.
Contudo, outras cartas também estão na mesa. A inflação anual de 4,8% superou a meta; o dólar se estabilizou no patamar de R$ 6,00; a balança comercial teve queda de 24%; o déficit das empresas estatais, de R$ 5,1 bilhões, atingiu recorde em 15 anos e a saída de dólares foi a terceira maior da história.
Não bastasse, 2025 começa sem que se conheçam os impactos da alta dos juros, que tende a prejudicar as receitas, e o pacote tímido de contenção de gastos, afrouxado pelo Congresso.
A inflação mensal de 0,5%, registrada em dezembro último, embute uma inflação de 8% nos alimentos, atingindo frontalmente os mais pobres, eleitores preferenciais de Lula.
A resposta inevitável do Banco Central será elevar os juros, com repercussão na tomada de crédito pelas empresas e na oferta de empregos. O preço dos alimentos continuará a subir.
Nesse sentido, 2025 será pior do que 2024, agravado ainda pelo confronto sem solução do Supremo Tribunal Federal com o Congresso e a tensão da esquerda com a extrema direita, incluindo suas conexões militares.
Os ministros do STF não recuarão da exigência de completa transparência para liberar bilhões de reais de emendas de parlamentares ao Orçamento. Por outro lado, as conexões da extrema direita com militares não legalistas podem se evidenciar, à medida que se aproxima o julgamento de oficiais envolvidos na tentativa golpista de dezembro de 2022.
Lula será candidato a nova reeleição?
No final do atual mandato, em dezembro de 2026, o presidente estará com 81 anos e então será o mais velho a comandar o País na história da República. Hoje com 79 anos, Lula já é o mais velho a ocupar o Palácio do Planalto. Antes, o título era de Michel Temer, que governou até 2018, com 78 anos.
Atrás de Lula e de Temer, pelo critério de idade ao final do mandato, estão os ex-presidentes Getúlio Vargas (72 anos), Ernesto Geisel (71 anos) e Fernando Henrique Cardoso (71 anos). Até o momento, a idade e a saúde de Lula – que já teve câncer – não entraram no debate de 2026. Mas nada impede que entrem.
Outro ponto a se considerar é a ausência de candidato da esquerda, além do presidente. Em eleições anteriores, definições apressadas resultaram em desastres políticos: a gestão de Dilma Rousseff terminou em crise econômica e impeachment; a escolha de Fernando Haddad como candidato, na undécima hora, em meio à divisão da esquerda, facilitou a vitória de Bolsonaro.
De início lembrado como o nome para 2026, o atual ministro da Fazenda perdeu força, já mergulhado na crise econômica que se prenuncia para este ano e vai se desdobrar no próximo. Não há outros nomes, portanto, além de Lula, o que é muito pouco e muito ruim.
Os militares que se dizem legalistas permanecem atentos aos acontecimentos. É fato que o Alto Comando das Forças Armadas, consultado por Bolsonaro para adesão ao golpe, se opôs em maioria. Porém, também é fato que há um general de quatro estrelas preso e 25 oficiais indiciados pela Polícia Federal, entre as 40 pessoas que foram investigadas por atentado ao Estado Democrático de Direito.
O presidente Lula assegurou que todos serão julgados e, se culpados, “punidos exemplarmente”. A data provável para os julgamentos é o final deste ano, a fim de não coincidir com a campanha eleitoral de 2026.
A luta vai continuar. Ainda mais porque lutar pela consolidação da democracia é fundamental para todos, especialmente para os que têm o privilégio de comer todos os dias. Somos a minoria. Para a maioria, que acorda com fome e assim permanece, não bastaria apenas democracia. É também uma questão de vida ou de morte.
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