O Analfabetismo infantil em 2025: a dívida histórica do Estado Brasileiro e a urgência de uma transformação educacional

Mesmo com avanços, o Brasil ainda enfrenta a exclusão escolar e o analfabetismo infantil, refletindo falhas sistêmicas

Inácio Feitosa * | Publicado em 28/01/2025, às 13h52

Confira mais detalhes - Foto: Joédson Alves / Agência Brasil
Confira mais detalhes - Foto: Joédson Alves / Agência Brasil

* Inácio Feitosa é advogado e fundador do Instituto Igeduc.

A educação como direito negado

Em 2009, escrevi sobre o analfabetismo infantil no Brasil, um problema que, à época, já era uma chaga aberta em nossa sociedade. Passados mais de 15 anos, chegamos a 2025, e o cenário, infelizmente, ainda é desolador. Apesar dos avanços tecnológicos e das promessas de governos, o Estado brasileiro continua falhando em garantir o direito mais básico de toda criança: o acesso à educação de qualidade. Como dizia Dom Helder Câmara, "não há nada pior do que a resignação que nos leva a cruzar os braços diante das injustiças". E a injustiça educacional é uma das mais perversas, pois condena gerações inteiras à invisibilidade e à exclusão.

Os números que não mentem: a lenta redução do analfabetismo

Em 2009, os dados do IBGE mostravam que 11,5% das crianças entre 8 e 9 anos eram analfabetas. Em 2025, esse número caiu, mas não o suficiente. A redução foi lenta e desigual, refletindo a falta de prioridade dada à educação pelo Estado brasileiro. Enquanto países vizinhos investiram massivamente em políticas públicas educacionais, o Brasil continuou patinando em meio a cortes orçamentários, gestões ineficientes e uma visão míope que trata a educação como despesa, e não como investimento.  

Josué de Castro, em sua obra clássica "Geografia da Fome", já alertava que a fome não é um fenômeno natural, mas sim uma construção social. O mesmo pode ser dito sobre o analfabetismo: ele não é um acidente, mas o resultado de escolhas políticas que perpetuam a desigualdade. Em 2025, ainda temos crianças que não sabem ler ou escrever, enquanto o Estado gasta bilhões em projetos faraônicos e subsídios para setores privilegiados.

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O plano nacional de alienação

O que está por trás desses números é um projeto de exclusão que beneficia as elites. Como Gramsci já apontava no século XX, o controle da educação é uma das formas mais eficazes de manter o status quo. No Brasil, isso se traduz em um sistema educacional que reproduz desigualdades, onde crianças pobres são condenadas a escolas precárias, enquanto as elites frequentam instituições de excelência.  

Em 2025, o Estado brasileiro ainda não conseguiu romper com essa lógica perversa. A falta de investimento em infraestrutura escolar, a desvalorização dos professores e a ausência de políticas públicas eficazes para a primeira infância são sintomas de um sistema que não prioriza a educação. Como dizia Dom Helder, "quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista". Questionar o sistema educacional brasileiro é, portanto, um ato de resistência.

As consequências do analfabetismo: cidadãos invisíveis

Crianças que não são alfabetizadas na idade certa têm suas vidas marcadas pela exclusão. Elas enfrentam dificuldades para acompanhar o ritmo escolar, muitas vezes abandonando os estudos para trabalhar ou ajudar em casa. Na fase adulta, tornam-se cidadãos invisíveis, sem acesso ao mercado de trabalho formal e sem condições de participar plenamente da vida política e social.  

Essa exclusão não é apenas individual, mas coletiva. Como Josué de Castro nos lembra, "a fome é a expressão biológica de males sociológicos". O analfabetismo, por sua vez, é a expressão educacional de uma sociedade que escolheu marginalizar milhões de pessoas. Em 2025, ainda vemos crianças analfabetas se tornando adultos sem perspectivas, presos em um ciclo de pobreza e marginalidade que o Estado parece incapaz (ou não interessado) em romper.

A responsabilidade do estado e da sociedade

A exclusão escolar não é um problema isolado; é um reflexo das escolhas de uma sociedade que prioriza o lucro sobre a dignidade humana. O Estado brasileiro, que deveria ser o garantidor dos direitos constitucionais, falha sistematicamente em cumprir seu papel. Enquanto isso, a sociedade civil, muitas vezes, fecha os olhos para essa realidade, preferindo culpar as vítimas pela própria exclusão.  

Dom Helder Câmara nos ensina que "o clamor dos pobres é o clamor de Deus". Em 2025, o clamor das crianças analfabetas ainda ecoa, mas parece não encontrar ouvidos atentos. É preciso que todos nós — sociedade civil, movimentos sociais, educadores e governantes — assumamos nossa parcela de responsabilidade e trabalhemos juntos para transformar essa realidade.

Conclusão: o caminho para uma educação inclusiva

O Brasil de 2025 não pode mais conviver com o analfabetismo infantil. É urgente uma transformação profunda no sistema educacional, que coloque a educação no centro das prioridades nacionais. Isso significa investir em escolas de qualidade, valorizar os professores, garantir acesso à tecnologia e criar políticas públicas que atendam às necessidades das famílias mais vulneráveis.  

Como dizia Josué de Castro, "a fome não espera". E a educação também não pode esperar. O futuro do Brasil depende da capacidade de garantir que todas as crianças tenham acesso ao conhecimento e à oportunidade de sonhar. Em 2025, mais do que nunca, é preciso agir com determinação e responsabilidade, para que o direito à educação deixe de ser um privilégio e se torne uma realidade para todos.

@blogdojamildo