Sidônio Pereira assumiu a comunicação do governo Lula 3, por indicação de Ruy Costa. Ambos são baianos. Costa planeja ser candidato a sucessão de Lula
Ricardo Leitão | Publicado em 24/01/2025, às 12h12
Por Ricardo Leitão, em artigo especial para o site Jamildo.com
Apetrechado com pesquisas e gráficos, pronto para o seu batizado oficial, o publicitário Sidônio Palmeira foi o destaque na reunião ministerial convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, em Brasília.
Baiano, marqueteiro eleitoral bem sucedido, Palmeira é agora o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), nomeado por Lula para uma missão espinhosa: dar um fim à batalha de tiros no pé da administração e levar informações sobre as ações do governo aos seus beneficiários mais pobres.
Esse é o segundo foco do novo ministro. O primeiro, e mais importante, é contribuir para aplainar a estrada da sucessão de Lula. Na parte final de seu governo, o presidente precisa recuperar imediatamente seus índices de popularidade, o que inclui vencer a guerrilha diária da oposição bolsonarista nas redes sociais.
No último confronto, os lulistas perderam: com uma ação gigantesca e coordenada, a oposição massificou a falsa narrativa de que os pagamentos com Pix seriam taxados pela Receita Federal. Lula desmentiu, mas nada adiantou. Foi obrigado a publicar decreto garantindo que o Pix continuava o mesmo. Milhões de pessoas foram prejudicadas, o governo se desgastou e a oposição explorou a fraude durante dias.
Em seu batizado ministerial, Sidônio Palmeira apresentou uma receita feijão com arroz para superar a crise na comunicação: definição de cinco prioridades por ministérios; suas divulgações apenas após consulta à Casa Civil; participação do presidente em todos os eventos de destaque; monitoramento constante dos ataques da oposição e unidade política – vital a um ano e meio das urnas presidenciais de 2026.
A receita poderia ter sido adotada desde o início da gestão, em 2023. O problema é que, passado o tempo, o cardápio azedou, no fogo baixo da disputa entre ministros e na dificuldade de serem vencidas crises que se arrastam por meses.
Sidônio Palmeira conhece o presidente de outros tempos, já tendo colaborado em suas campanhas. No entanto, foi alçado à Secom por indicação de Rui Costa, ministro da Casa Civil. Ex-governador da Bahia, Costa lidera a chamada “ala desenvolvimentista”, que exige mais investimentos públicos, colidindo com o rigor fiscal defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Costa e Haddad são candidatos à sucessão de Lula; Sidônio Palmeira veio fortalecer o ministro da Casa Civil.
A disputa pela sucessão entre dois dos mais poderosos ministros; a inflação dos alimentos, que não cede, e a instabilidade provocada por Donald Trump resultam em uma conjuntura danosa, que para ser superada exige mais do que divulgação de ações administrativas.
Assim observa Gaudêncio Torquato, veterano professor da USP: “Até agora, a comunicação no governo Lula não passou de um repeteco do que tem sido o exercício de transmitir feitos da administração, os programas dos ministérios e as opiniões desencontradas de alguns protagonistas. Lula e seus assessores não enxergam um Brasil mutante, que interage por outros meios, enquanto o presidente continua achando que o discurso no palanque é a melhor forma de conquistar a opinião pública”.
Um número para sublinhar a opinião de Torquato: estima-se que existam no Brasil cerca de 800 mil Organizações Não Governamentais (Ong’s), com representatividade social e capacidade de pressionar o governo e o Congresso. Formam opinião, porém tradicionalmente são avessas a informações oficiais.
Com quantas o governo tem diálogo?
Quais os planos para estreitar relações com elas?
Sidônio Palmeira escolheu como ponto central de sua atuação a construção ou reconstrução dessas relações, mediante um intenso trabalho nas redes sociais, onde operam as Ong’s. O objetivo é transformar “um governo analógico em um governo digital”.
Contudo, não bastará o meio, sem mudar a mensagem. Vídeos publicitários geniais e campanhas de relações públicas espalhadas por todo o país não solucionaram o problema. Antes, o governo precisa somar força política e pautar o debate público – e não deixar ser pautado pela oposição; combater diariamente ações de desinformação; restaurar sua credibilidade e controlar o processo da sucessão de Lula. É muito em um horizonte curto.
No entanto, trata-se de um esforço coletivo obrigatório, que exigirá a participação de todo o governo, de preferência sob a coordenação de uma Secom também orientada por objetivos políticos e não só publicitários.
Ocupando pela primeira vez um cargo público, o ministro Sidônio Palmeira já deve ter consciência do tamanho do vespeiro em que foi metido. Não apenas por ter nas mãos a maior parte da responsabilidade de mudar a imagem de um governo cercado de ceticismo, como também por saber que seu trabalho influenciará o futuro político e eleitoral do maior líder da esquerda do país.
Lula não sabe se será candidato a uma segunda reeleição, nem tem, declaradamente, um candidato preferido para sucedê-lo. Do lado da centro-direita, não faltam nomes.
Além de Jair Bolsonaro (no momento inelegível), a oposição apresenta seis candidatos: Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul; Pablo Marçal, empresário da extrema direita; Ratinho Jr, governador do Paraná; Romeu Zema, governador de Minas Gerais; Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Todos bem avaliados e administrando os mais ricos e importantes estados brasileiros.
Nessa briga de cachorros bem criados, os apetrechos do publicitário Sidônio Palmeira são de pouca eficiência. Valerá muito mais o combate político, para impedir o retorno da direita e da centro-direita ao poder no Brasil, mobilizando-se todos os instrumentos que nos dão a democracia e a Justiça, como nos ensina o filme “Ainda Estou Aqui”.
E não basta apenas vencer nas urnas uma direita que planejou um golpe de Estado e arriscou a deflagração de uma guerra civil. Seus líderes devem ser julgados, punidos e encarcerados, como fizeram todos os países comprometidos com o seu futuro.
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