Entre o Legado e o Abandono: Reflexões sobre a Crise na Gestão da FUNDAJ

Diogo Helal, pesquisador FUNDAJ, fala em artigo sobre preocupação gestão de pessoal da fundação e os avanços implementados em outras instituições

Diogo Henrique Helal | Publicado em 18/06/2025, às 12h53 - Atualizado às 14h13

FUNDAJ - Foto: reprodução da internet
FUNDAJ - Foto: reprodução da internet

A Fundação Joaquim Nabuco enfrenta hoje um desafio que pode determinar seu futuro: a necessidade urgente de modernizar sua gestão de pessoas. Como pesquisador da instituição há 16 anos, acompanho com preocupação uma defasagem crescente entre as práticas adotadas pela FUNDAJ e os avanços que estão sendo implementados no restante da administração pública federal.

Na semana passada, participei do Encontro Nacional de Gestão de Pessoas, em Brasília, promovido pelo Ministério da Gestão e da Inovação. A experiência revelou um contraste marcante.

De um lado, o governo federal apresenta o Modelo Referencial do Ciclo Laboral, uma proposta moderna e sistêmica que organiza a gestão de pessoas em seis fases integradas: planejamento da força de trabalho, alocação e ambientação, desenvolvimento e desempenho, carreiras e progressão, remuneração e reconhecimento, e aposentadoria.

O modelo considera o ciclo laboral como um percurso profissional dinâmico, interligado e multidimensional, e propõe políticas e práticas baseadas em dados, inovação, transparência e valorização das pessoas.

Do outro lado, a FUNDAJ ainda adota práticas que necessitam urgente atualização. Servidores seguem registrando frequência manualmente em folhas de ponto. A instituição não dispõe de sistemas para definição de metas, planos de trabalho ou avaliação de desempenho.

E o mais grave: optou por não aderir ao Programa de Gestão e Desempenho (PGD), que fortalece a cultura de resultados, moderniza formas de trabalho e valoriza entregas institucionais. As justificativas para essa não adesão carecem de fundamento técnico sólido e revelam uma compreensão limitada sobre as transformações em curso na administração pública.


A situação se agrava com a iminente chegada de novos pesquisadores aprovados no Concurso Nacional Unificado. Como serão acolhidos em um ambiente institucional sem planejamento de ambientação abrangente — que vá além da disponibilidade de espaço físico, envolvendo cultura organizacional, integração, liderança e propósito?

Como desenvolverão suas carreiras, especialmente na área de Ciência e Tecnologia, em um contexto em que faltam políticas estruturadas de desenvolvimento profissional e reconhecimento de desempenho?

Outro ponto crítico é o tratamento burocrático — e não estratégico — dado ao Dimensionamento da Força de Trabalho. Previsto como fase inicial no Modelo do Ciclo Laboral, esse processo deveria orientar a alocação eficiente de pessoas conforme as necessidades institucionais.

No entanto, na FUNDAJ, o dimensionamento ainda é tratado como mera formalidade administrativa, sem articulação com planejamento institucional, diagnóstico de capacidades ou políticas de mobilidade.

A gestão atual da Fundação tem se caracterizado por centralização excessiva, escasso diálogo com os servidores e resistência a inovações, frequentemente vistas com desconfiança. Como consequência, observam-se desmotivação, evasão de talentos, isolamento institucional e redução progressiva da capacidade de entregar valor público à sociedade.

O próprio Ministério da Gestão adverte que a ausência de visão sistêmica compromete a eficácia institucional, a continuidade das políticas e a segurança jurídica das ações.

Essas observações não são pessoais, mas institucionais. Como membro da comunidade acadêmica da FUNDAJ, sinto-me responsável por contribuir para o debate sobre seu futuro. Apontar fragilidades é um exercício de responsabilidade pública e de compromisso com a missão que nos foi historicamente confiada.

A FUNDAJ possui todas as condições para superar esses desafios: corpo técnico qualificado, uma missão relevante e recursos públicos que, se bem administrados, podem gerar impacto expressivo. Mas isso exige uma guinada de gestão: adoção de melhores práticas, adesão aos programas federais, capacitação contínua dos servidores, critérios claros e republicanos para seleção de lideranças, e construção de uma cultura organizacional que valorize a inovação como aliada, não como ameaça.

Mais do que isso, é preciso recuperar a memória institucional da FUNDAJ — construída ao longo de décadas por servidores comprometidos — e com ela reconstruir as bases do planejamento, do diálogo e da valorização das pessoas.

Se for capaz de realizar essa transição, a Fundação poderá retomar seu protagonismo nacional e ampliar sua contribuição para o país. Caso contrário, corre o risco de se tornar uma instituição anacrônica, desconectada da sociedade e incapaz de cumprir sua missão histórica. O momento de decidir esse caminho é agora.

Por Diogo Henrique Helal
Pesquisador Titular (FUNDAJ)
Bolsista Produtividade em Pesquisa (Pq – CNPq)
Membro Titular e Representante da Câmara de Avaliação e Assessoramento 
(Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas)

O texto publicado não reflete a opinião do site Jamildo.com. Este espaço é plural e respeita o contraditório. Ficando aberto para manifestações, réplicas ou contrapontos que desejem se posicionar sobre o conteúdo publicado.