Como governadores podem enfrentar os prefeitos tiktokers em 2026 ?

A personalização digital aproxima prefeitos da população, enquanto governadores enfrentam desafios em narrativas

Rodrigo Ambrosio | Publicado em 13/01/2025, às 09h03

Dr Furlan, de Macapá: Prefeitos como influenciadores políticos utilizam redes sociais para mostrar ações diretas e gerar conexão emocional com o público - Divulgação
Dr Furlan, de Macapá: Prefeitos como influenciadores políticos utilizam redes sociais para mostrar ações diretas e gerar conexão emocional com o público - Divulgação

Por Rodrigo Ambrosio, para o site Jamildo.com

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma transformação notável na forma como a política é comunicada ao público. Prefeitos de diversas capitais e cidades de médio porte têm se destacado por estratégias de comunicação digital que aproximam sua imagem pessoal da identidade da própria gestão pública, criando uma percepção de liderança próxima e acessível.

Essa nova abordagem, que tem gerado um crescimento expressivo de popularidade em diversos estados, baseia-se em uma estratégia de personalização intensa, onde o prefeito não apenas divulga as realizações da gestão, mas se posiciona como o principal responsável e símbolo do progresso local.

Um caso emblemático desse fenômeno é o do prefeito de Macapá, Dr. Antônio Furlan. Reeleito com 85,08% dos votos em 2024, Furlan se tornou o prefeito mais bem avaliado do país, construindo uma imagem pública fortemente associada à sua gestão. Ele utiliza as redes sociais como ferramenta principal para expor as ações da prefeitura, como obras de pavimentação, requalificação de espaços públicos, eventos culturais e melhorias urbanas. Essas ações são amplamente divulgadas de forma visual e direta, criando uma percepção de eficiência e proximidade.

Esse modelo de comunicação digital e personalização, no entanto, não tem se mostrado tão eficaz ou acessível para governadores. Políticas estaduais são amplas e complexas, dificultando a criação de uma narrativa emocionalmente envolvente e de fácil assimilação para o público. Essa limitação não reflete uma falha de competência individual, carisma ou da equipe de comunicação, mas sim as diferenças estruturais entre as esferas de governo.

O governador Clécio Luís, do Amapá, por exemplo, também busca uma presença digital ativa, mas enfrenta o desafio de traduzir políticas estaduais complexas e de longo prazo em conteúdo de impacto imediato. Por outro lado, Furlan, ao adotar uma estratégia focada em ações diretas e de fácil visualização, colheu resultados mais expressivos em popularidade local, superando até mesmo o governador em termos de percepção pública.

A abordagem centrada em serviços públicos visíveis e comunicação digital intensiva posicionou Furlan como o principal influenciador político de sua região, evidenciando como a comunicação municipal de impacto imediato pode gerar maior conexão emocional com o público do que políticas mais estruturais e de longo prazo típicas da esfera estadual.

Enquanto prefeitos têm o poder de entregar serviços públicos visíveis e de impacto direto, como a reforma de praças e a manutenção de ruas — ações facilmente capturadas e divulgadas em redes sociais — os governadores lidam com iniciativas mais complexas e de longo prazo, como requalificação de rodovias ou investimentos estruturais em setores amplos.

Embora essas ações sejam mais relevantes em termos de impacto coletivo, elas não geram o mesmo efeito de proximidade e conexão emocional com o público. O cidadão médio tende a valorizar mais o que está diretamente ao seu redor e de efeito imediato, uma lógica que tem sido explorada de forma muito eficaz pelos prefeitos.

No Brasil, a construção de uma imagem de gestão associada a grandes obras remonta ao período de Getúlio Vargas, quando a magnitude das realizações era vista como o principal símbolo de progresso e modernização. No entanto, em tempos de redes sociais, a comunicação política mudou. A estratégia que se destaca hoje é a narrativa emocional, centrada em resultados diretos e pessoais.

O fenômeno dos prefeitos tiktokers, impulsionado pela personalização digital e a exposição constante de serviços diretos, pode ter um prazo de validade. As estratégias digitais que funcionaram em 2024 não necessariamente serão eficazes em 2026. O Brasil já assistiu a ciclos de transformação na comunicação política online que não se repetiram com a mesma força.

O período das manifestações de 2013, as campanhas de memes em 2014, a onda das fake news e o forte apelo bolsonarista digital entre 2018 e seu revés em 2022 ilustram essa tendência. Esses ciclos demonstram que, embora impactantes, estratégias digitais podem perder força ao longo do tempo.

Dentro desse cenário, o turismo e a cultura surgem como ferramentas importantes para governadores se conectarem com a população de forma emocional e autêntica. Mais do que atrair visitantes, o turismo, quando bem explorado, tem o poder de valorizar o sentimento de pertencimento, despertando orgulho regional e reforçando a identidade local.

Campanhas de marketing voltadas para o turismo cultural, a valorização de patrimônios históricos, festividades e belezas naturais criam uma narrativa positiva que conecta a população ao seu território.

Quando um estado exalta sua diversidade e enaltece sua cultura, o governador se posiciona como um promotor e guardião dessa identidade, aproximando-se emocionalmente do público de forma genuína. Essa conexão emocional pode equilibrar a vantagem dos prefeitos em sua estratégia de proximidade digital.

Embora o fenômeno dos prefeitos tiktokers tenha sido eficaz até o momento, governadores podem explorar a valorização da identidade regional como uma alternativa poderosa. Fortalecer o orgulho local e se associar a iniciativas culturais e turísticas permite que a liderança estadual alcance uma conexão emocional com o eleitor, ao mesmo tempo em que destaca políticas de impacto coletivo e de longo prazo.

O crescimento da figura do prefeito como influenciador político não deve ser interpretado como um enfraquecimento da gestão estadual, mas como uma mudança na forma como cada esfera de governo se comunica com a sociedade. Prefeitos têm a proximidade natural com a população devido à natureza dos serviços que prestam, enquanto governadores lidam com temas mais amplos e complexos que exigem outras abordagens de comunicação.

A chave para o futuro da comunicação política não está em replicar fórmulas de prefeitos para governadores ou até mesmo presidentes, pois estratégias municipais focadas em ações visuais e de impacto imediato nem sempre se adequam às demandas complexas das esferas estaduais e federais. Replicar esse modelo em níveis mais amplos pode gerar uma percepção superficial de gestão, reduzindo o foco em políticas estruturais e resultados de longo prazo, essenciais para essas esferas de poder.

Para 2026, a grande questão não é como governadores podem competir no mesmo campo dos prefeitos, mas como podem desenvolver sua própria estratégia de comunicação, focada no pertencimento regional, na valorização cultural e no impacto emocional, sem abrir mão da responsabilidade e da entrega de resultados de grande escala.

@blogdojamildo