Agronegócio brasileiro sob ataque: Trump mira setor estratégico e reacende guerra comercial

As ameaças de Trump e a resiliência do Agronegócio brasileiro: professor defende que trata-se de uma afronta que exige resposta

André Naves | Publicado em 22/07/2025, às 15h04 - Atualizado às 15h12

André Naves defende que resposta seja dada com inteligência porque o agro brasileiro é competitivo em todo mundo - Divulgação
André Naves defende que resposta seja dada com inteligência porque o agro brasileiro é competitivo em todo mundo - Divulgação

Por André Naves, em artigo enviado ao site Jamildo.com

Há uma sabedoria antiga, que ecoa no nosso Brasil caipira, que diz que tudo começa pelo solo. Antes da indústria, da tecnologia e do mercado financeiro, existe a terra. O Agronegócio não é chamado de setor primário por acaso; ele é a base, a viga mestra sobre a qual se ergue o edifício complexo de uma nação. Um Agro forte não é apenas uma questão de balança comercial, mas de Soberania, de Segurança Alimentar e, acima de tudo, de Dignidade para o nosso povo. Sem ele, o desenvolvimento econômico e a inclusão social se tornam promessas vazias, sem raiz para florescer.

É com profunda preocupação que vemos essa nossa preciosidade ser atacada de forma frontal e desleal. É parte de tudo o que temos de melhor! Os mais recentes rosnados de Donald Trump e seus porta-vozes contra o Agronegócio brasileiro nada mais são do que manobras que ofendem não apenas nossos produtores, mas a inteligência e a resiliência de todo um país. Usar a nobre e necessária bandeira da proteção ambiental como pretexto para uma guerra comercial é um ardil que não se sustenta diante dos fatos.

A recente declaração de Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, de que os Estados Unidos possuem padrões de segurança, saúde e qualidade superiores aos do Brasil, é mais do que uma inverdade; é uma falácia construída para minar nossa credibilidade e abrir caminho para que outros mercados nos fechem as portas. Eles tentam pintar um retrato de um Brasil devastador e irresponsável, ignorando deliberadamente a revolução que fizemos no campo.

A verdade é que o nosso Agro é um dos mais sustentáveis do planeta. É aqui que a ciência, com o protagonismo de instituições como a Embrapa, permitiu o desenvolvimento de tecnologias como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e o plantio direto, que aumentam a produtividade enquanto recuperam áreas degradadas e sequestram carbono. O produtor brasileiro, do familiar ao grande exportador, aprendeu a duras penas que preservar é a melhor forma de produzir a longo prazo. Nossos padrões de qualidade e sanidade são rigorosos e reconhecidos mundialmente, razão pela qual nossa comida está na mesa de mais de um bilhão de pessoas todos os dias.

O que os Estados Unidos veem, na verdade, não é um problema ambiental, mas um competidor formidável. Um país tropical que, com engenho e trabalho, transformou-se em uma potência agrícola que produz com eficiência e qualidade ímpar. A estratégia deles é clara: criar uma narrativa negativa para justificar protecionismos e garantir mercados para si. É a velha tática de quem é incapaz de competir de forma justa no campo aberto.

Para enfrentar essa “trumpulência”, o silêncio não é uma opção. A resposta do Agronegócio brasileiro, e de todo o país, precisa ser à altura do nosso tamanho. Mas não uma resposta com o fígado, e sim com a sabedoria de quem conhece o próprio valor. Precisamos saber mostrar ao mundo, com dados, transparência e histórias reais, a nossa verdadeira face. A face do agricultor que preserva suas nascentes, da tecnologia que otimiza o uso da água, da ciência que gera sementes mais resistentes e da cadeia produtiva que gera milhões de empregos.

Devemos continuar investindo em sustentabilidade rastreabilidade e inovação. A melhor resposta a uma acusação de má qualidade é entregar uma qualidade ainda maior, e deixar claro que a prosperidade do Agro é a prosperidade do Brasil. É o motor que financia a infraestrutura, que gera renda no interior e que garante o pão na mesa das grandes cidades.

Como nos ensina a sabedoria bíblica, "a árvore boa se conhece pelos frutos". Os frutos do nosso Agro são a abundância, a qualidade e a crescente consciência socioambiental. Cabe a nós não apenas colher esses frutos, mas também defendê-los com a força da verdade e o orgulho de quem sabe o valor do chão que pisa. A tentativa de minar nossa força deve servir de combustível para nos tornarmos ainda mais fortes, mais unidos e mais conscientes do nosso papel fundamental na construção de um Brasil mais Justo e Inclusivo para todos.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador cultural, escritor e professor.