Trump usa tarifaço contra Lula e o Brasil, para ajudar Bolsonaro e sua família, mas tiro acaba saindo pela culatra no primeiro momento
Arcênio Rodrigues | Publicado em 16/07/2025, às 09h28 - Atualizado às 09h49
Por Arcênio Rodrigues, em artigo enviado ao site Jamildo.com
A elevação da avaliação positiva da política externa do governo Lula está diretamente relacionada à percepção pública de um embate simbólico entre Brasil e Estados Unidos, personificado por Donald Trump.
As tarifas impostas pelos EUA, aliadas à retórica agressiva de Trump, ativaram um sentimento de defesa nacional que favoreceu Lula, reposicionando-o como defensor dos interesses brasileiros.
A narrativa nacionalista, mesmo instrumentalizada, ressoa fortemente em momentos de tensão internacional, especialmente em um país com histórico de dependência externa como o Brasil.
Além disso, a referência explícita feita por Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro durante o anúncio das tarifas contribuiu indiretamente para ampliar a percepção de Lula como representante internacional mais competente.
A interferência externa foi percebida negativamente pela população, favorecendo a posição do atual presidente ao contrastá-lo com a imagem isolacionista associada a Bolsonaro.
É importante destacar também o apoio crescente ao alinhamento com os BRICS, refletido na pesquisa, indicando um desejo de diversificação das alianças internacionais brasileiras.
Porém, embora esta estratégia de multipolaridade seja atrativa retoricamente, requer uma condução pragmática para evitar comprometer a posição brasileira perante mercados tradicionais e importantes como EUA e União Europeia.
Finalmente, a pesquisa revelou que a percepção das tarifas como retaliação política pela aproximação brasileira com o BRICS é consistente com a realidade diplomática atual.
As declarações recentes do presidente Lula nos fóruns internacionais, questionando a hegemonia do dólar e defendendo reformas nas instituições multilaterais, contribuíram para essa leitura. Trata-se, portanto, de uma disputa maior pela reconfiguração da ordem global, na qual o Brasil busca protagonismo.
Arcênio Rodrigues é advogado especialista em relações internacionais e análise política sob a perspectiva institucional.
Nesta quarta, uma pesquisa Genial/Quaest também mostrou que o enfrentamento com Trump ajuda o governo Lula a melhorar sua popularidade. A diferença entre desaprovação e aprovação, que era de -17 em maio, foi para -10 em julho.
O Governo Federal realizou, nesta terça-feira, 15 de julho, a primeira reunião do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais.
O encontro reuniu representantes da indústria nacional e autoridades do governo para discutir os impactos da decisão unilateral dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, e construir soluções conjuntas.
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