Cynara Maíra | Publicado em 05/08/2025, às 07h05 - Atualizado às 08h08
Apesar de ter feito um gesto à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) com o repasse de emendas parlamentares e a criação de uma nova plataforma para facilitar a execução dos recursos, a governadora Raquel Lyra (PSD) sofreu um revés logo no retorno dos trabalhos legislativos.
Aliados da governadora afirmam que a oposição tenta criar motivos para prejudicar a imagem da governadora e que a situação manterá as dificuldades na tramitação de projetos importantes para Pernambuco.
No primeiro dia de sessões, foi aprovada a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis irregularidades em contratos de publicidade da gestão estadual.
Com os membros da comissão ainda a serem indicados pelos partidos, o governo tenta agora reorganizar suas articulações para evitar que a investigação se transforme em um desgaste político contínuo. Uma decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco garantiu a retomada dos contratos na semana passada.
"O Parecer Técnico da DEX não mencionou prejuízo financeiro com a continuidade do contrato. Constata-se assim, neste juízo sumário de cognição, a ausência de fundado receio de grave lesão ao erário, requisito necessário para a decretação da medida cautelar", afirmou o desembargador Fernando Cerqueira Norberto dos Santos, do TJPE, como justificativa para permitir a atuação das agências contratadas pelo governo.
A CPI foi proposta pela deputada Dani Portela (PSOL) e conta com o apoio de 18 parlamentares, incluindo o presidente da Casa, Álvaro Porto (PSDB), um dos principais críticos da governadora.
O contrato em questão prevê gastos de até R$ 120 milhões por ano, durante dez anos, totalizando R$ 1,2 bilhão. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) chegou a suspender a execução por meio de medida cautelar, mas a decisão foi derrubada por liminar do Tribunal de Justiça.
O governo afirma que “todo o processo licitatório foi conduzido de acordo com a legislação vigente” e que segue a jurisprudência do Tribunal de Contas da União. “O contrato firmado tem vigência inicial de 12 meses e pode ser renovado por até 10 anos, conforme previsto na Lei 14.133/2021”, disse a gestão em nota.
A oposição, no entanto, levanta suspeitas sobre aditivos ilegais, favorecimento e conflito de interesses. A deputada Dani Portela alega ainda a possível utilização de recursos para ataques institucionais e questiona o fato de a sede da empresa E3 Comunicação, uma das vencedoras da licitação, supostamente funcionar em imóvel de parente da governadora.
Poucas horas antes desse procedimento, Raquel Lyra recebeu no Palácio do Campo das Princesas a bancada do Progressistas, maior grupo partidário da Alepe.
O encontro, articulado com o deputado federal Eduardo da Fonte, contou com a presença de 10 deputados estaduais e da deputada federal Clarissa Tércio.
Em nota, o PP declarou que o objetivo foi “reforçar o alinhamento político no estado”. Eduardo da Fonte afirmou que “a governadora tem feito um trabalho importante de reestruturação do estado” e que o partido seguirá ao lado dela. Estiveram na reunião nomes como Antônio Moraes, Adalto Santos, Claudiano Martins, Romero Sales, Júnior Tércio, entre outros.
Aliados da governadora argumentam que a CPI é uma tentativa da oposição de criar um ambiente desfavorável antes do ano eleitoral de 2026.
Para o Jamildo.com, o deputado estadual Antônio Moraes (PP) afirmou que a atitude da oposição seria natural, como forma da oposição criar motivos para tentar prejudicar a imagem da governadora.
"Quem conhece Raquel sabe da maneira correta de agir e do cuidado que ela tem com a coisa pública [...] Não temos nenhum receio, embora a gente lamente porque, quando a gente esperava que a Casa desse agora uma sinalização que a gente teria um ano ou pelo menos seis meses de paz para que a gente pudesse trabalhar e fazer aquilo que a população espera... [acontece isso]. Estamos vivendo um momento muito difícil", afirmou para o site.
A tensão entre Executivo e Legislativo já vinha se intensificando desde o primeiro semestre, agravada após a saída de Raquel do PSDB.
Com impasse no pagamento das emendas e a eleição das principais comissões da Alepe indo para oposição, projetos do governo passaram a ter tramitação travada, incluindo pedidos de empréstimos superiores a R$ 3 bilhões e sabatinas.
Durante o recesso, a governadora intensificou os apelos públicos e voltou a pressionar os deputados. Apesar das ações, a instalação da CPI sinaliza que a base governista ainda enfrenta dificuldades de articulação, especialmente diante do cenário pré-eleitoral.
O governo tenta agora evitar que o processo investigativo ganhe força política e comprometa a capacidade de negociação dentro da Casa, principalmente com o envio da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026. Como os nomes da comissão ainda serão definidos, o Executivo aposta em composições que limitem o desgaste institucional.
Mesmo que movimentado por outros atores políticos, os protagonistas dessa tensão entre Governo e Alepe são Raquel Lyra e Álvaro Porto. Para auxiliar no processo de entendimento, o Jamildo.com preparou uma linha do tempo interativa com as tensões entre os políticos desde o começo da gestão da ex-tucana, confira:
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