Sete em cada dez moradores de favelas desprezam carteira assinada e veem mais futuro em negócio próprio

Jamildo Melo | Publicado em 11/08/2025, às 17h46 - Atualizado às 17h51

Programa de ajuda social atende mais de um milhão e meio de pessoas em Pernambuco - Lyon Santos/ MDS
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No contexto nacional de renda insuficiente, informalidade e descrença no trabalho formal, os programas de renda mínima, como o Bolsa Família, ganham novos significados nas favelas e periferias.

Para sete em cada dez moradores desses locais, esse tipo de auxílio ajuda a começar um novo negócio, para quem deseja empreender.

Segundo pesquisa do Data Favela, 73% dos moradores acreditam que empreender é um caminho mais efetivo para melhorar de vida do que trabalhar com carteira assinada.

Na visão dos entrevistados, a carteira assinada oferece pouca flexibilidade e não dialoga com a realidade das periferias, que exige múltiplas fontes de renda, autonomia e adaptação à rotina local.

“Empreender, para boa parte da favela, deixou de ser uma resposta emergencial e passou a representar um projeto de futuro. O negócio próprio oferece o que muitas vezes o emprego formal não consegue: flexibilidade para conciliar trabalho com a vida familiar, evitar horas de deslocamento entre casa e trabalho, e adaptar a rotina às necessidades do território"afirma Renato Meirelles, fundador do Data Favela.

"Mais do que isso, permite começar pequeno e sonhar grande, com autonomia, identidade e a chance de colher diretamente o resultado do próprio esforço. É por isso que, nas favelas, o empreendedorismo tem deixado de ser alternativa para se tornar escolha. Uma escolha que faz sentido na prática e projeta possibilidades reais de mobilidade econômica” , completa, em informe ao site Jamildo.com.

Segundo a pesquisa, mais de um terço (36%) dos moradores das favelas e periferias já possui algum tipo de negócio próprio, incluindo atividades informais, autônomas ou por conta própria.

Desses, 23% têm o empreendimento como principal fonte de renda.

Apesar da relevância do empreendedorismo nesses territórios, a informalidade ainda predomina: apenas 26% dos empreendedores possuem CNPJ ou MEI.

O ato de empreender tem ganhado novos contornos nas periferias urbanas. O que antes era uma saída emergencial para tempos de desemprego ou crise agora se consolida como um projeto de futuro. Prova disso é que 79% dos empreendedores das favelas pretendem ampliar seus negócios ou abrir um novo empreendimento nos próximos 12 meses.

Em contrapartida, apenas 9% manifestam o desejo de conquistar um trabalho com carteira assinada.

"Na quebrada, o Bolsa Família não é só comida no prato, é também ponto de partida pra quem quer empreender. Com esse apoio, muita gente consegue dar o primeiro passo: comprar material, montar uma barraquinha, começar um negócio na cozinha de casa. É o empurrão que falta pra transformar necessidade em oportunidade, e sonho em renda. Investir na favela é isso: dar condições pra que o talento e a força de vontade que já existem aqui virem negócio, sustento e autonomia”, destaca Marcus Vinicius Athayde, presidente da CUFA.

A pesquisa aponta para uma mudança estrutural no modo como os moradores das favelas e periferias constroem suas trajetórias econômicas.

O empreendedorismo, sustentado por apoios como os programas de transferência de renda, surge como escolha estratégica e conectada à realidade do território.

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