Por que o Serpro e a 'nuvem soberana' importam (ainda mais agora)

Jamildo Melo | Publicado em 08/09/2025, às 17h27 - Atualizado às 17h35

Sede da estatal Serpro no Recife - Divulgação
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Por Ermes Costa, em artigo enviado ao site Jamildo.com

Em um mundo em que dados representam poder, o Brasil faz uma escolha estratégica ao manter sua infraestrutura crítica sob gestão pública e em território nacional.

No Dia da Independência de 2025, o governo Lula anunciou a consolidação da Nuvem de Governo, a chamada “nuvem soberana”, um marco da soberania digital que coloca o país no rumo da independência tecnológica e da proteção dos dados do povo brasileiro.

Com essa iniciativa, as informações que sustentam serviços e políticas públicas passam a ser processadas e armazenadas em uma infraestrutura controlada inteiramente pelo Estado, assegurando autonomia e segurança ao país.

O Serpro, empresa pública criada em 1970, exerce papel essencial nessa construção. Em 2023, Lula retirou a estatal do programa de privatizações, deixando claro que ela não poderia ser tratada como mercadoria.

Hoje, o Serpro lidera a implantação da nuvem soberana, com datacenters próprios e gestão pública, garantindo que os dados da sociedade permaneçam sob as leis e o controle do Estado brasileiro.

O projeto mobiliza mais de R$ 1 bilhão em investimentos e assegura proteção contra ameaças cibernéticas por meio de duas camadas de segurança: a soberania dos dados — com armazenamento sob as leis brasileiras e infraestrutura localizada no país — e a soberania operacional — com gestão realizada por empresas públicas em datacenters próprios.

Tecnologias de grandes corporações globais podem ser utilizadas, mas apenas quando instaladas em ambientes controlados pelo Estado e sob gestão direta do Serpro, com chaves criptográficas e infraestrutura pública.

Essa abordagem traduz soberania operacional, territorial e informacional, algo que o Serpro ajudou a formular e implantar desde 2023, assumindo protagonismo na política de Estado que consolida a soberania digital.

No cenário internacional, a urgência dessa decisão é ainda mais evidente. Em julho de 2025, os Estados Unidos anunciaram tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, acirrando tensões comerciais. Paralelamente, plataformas digitais pressionam o país em temas como tributação e regulação.

O governo brasileiro respondeu instalando comitês de negociação com o setor industrial e sinalizando medidas fiscais voltadas às big techs. Essas corporações, que exploram dados e resistem à regulação, representam risco à autonomia nacional. Depender exclusivamente delas significaria abrir mão da soberania.

A Nuvem de Governo, operada por uma empresa pública estratégica como o Serpro, surge como resposta institucional para enfrentar esses desafios e reforçar a soberania digital.

Defender o Serpro e consolidar a Nuvem de Governo não é um detalhe tecnológico, mas sim uma política de Estado voltada ao interesse público: proteger os dados dos brasileiros, garantir a continuidade de serviços essenciais, assegurar previsibilidade regulatória e blindar o país contrachoques externos.

Em tempos de pressões internacionais, lobby das big techs e desigualdades tecnológicas, soberania significa ter os dados sob controle público. Ao priorizar essa agenda, o Brasil avança de forma decisiva em defesa de sua autonomia.

Ermes Costa é diretor do SERPRO, professor da UPE e conselheiro regional do CREA-PE. Ele foi secretário de habitação da Prefeitura do Recife, na primeira gestão de João Campos, diretor da COMPESA e chefe de gabinete do CREA-PE

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