Políticos profissionais separam liberais e conservadores

Autores explicam que políticos querem o poder e separam as pessoas, com a técnica de joga liberais contra conservadores, para ampliar seguidores

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 15/08/2024, às 15h51

Polarização pode ser, também, definida como a divergência entre extremos - Foto: Isaac Fontana / CJPRESS / Estadão Conteúdo
Polarização pode ser, também, definida como a divergência entre extremos - Foto: Isaac Fontana / CJPRESS / Estadão Conteúdo

Com a chegada de mais um processo eleitoral, a polarização entre esquerda e direita, fabricada ou real, deve ganhar mais espaço no noticiário político ou nas redes sociais. Neste momento, poderia ser de alguma utilidade a leitura do livro Dopamina, a molécula do desejo, dos cientistas americanos Daniel Lieberman e Michael Long. Na obra, os dois professores dedicam um capitulo inteiro para falar sobre a questão política, à luz da ciência.

Os autores começam explicando que a dopamina, um neurotransmissor no cérebro, explica nada menos que toda a história do comportamento humano, uma vez que comanda as ações conscientes dos homens. Há dois tipos de dopamina, uma que estimula a tomada de ações para o futuro, ensejando mudanças, e uma que estimula ações de controle, buscando valorizar o que já temos no presente.

A maior quantidade de um tipo ou de outro, no cérebro, ou o desequilíbrio químico em um indivíduo, define o tipo de personalidade das pessoas.

Em suma, o livro defende a tese de que não existe compreensão mútua porque os cérebros de liberais e conservadores são diferentes.

Há um terceiro grupo, compostos por independentes, que são mais abertos à persuasão política. O grupo é essencial em uma eleição, e em uma campanha bem sucedida. É preciso influenciar as decisões deste grupo, em eleição apertadas, para chegar à vitória. Aqui, podemos lembrar as eleições presidenciais passadas, no Brasil, quando Lula sagrou-se vencedor. O cientista político Felipe Nunes, no livro Biografia do Abismo, explica, com números, como a pequena fatia de liberais deu a vitória ao petista.

Prover (liberais) ou proteger (conservadores)?

Os autores explicam que há uma diferença fundamental no modo como seus cérebros estão conectados. Em geral, os dopaminérgicos liberais são mais propensos a acolher mensagens que oferecem benefícios, como oportunidades para obter mais recursos.

Os conservadores (dominados pelas moléculas A&A) tem mais tendência a acatar mensagens que oferecem segurança, como manter o que possuem no momento. Assim, o medo funciona bem com o público conservador.

"Os liberais apoiam programas que, segundo acreditam, levarão a um futuro melhor, como educação subsidiada, planejamento urbano e projetos tecnológicos financiados pelo governo", explicam.

"Os conservadores preferem programas que protejam seu modo de vida atual, como gastos em defesa e ordem pública, e limites à migração"

O papel do medo na eleição e no debate político

"Quando o que temos está sob ameaça, surge o medo e a angustia. O medo funciona tão bem porque apela ou exploram as nossas necessidades primitivas. o medo também funciona porque apela a nossa aversão à perda. A dor da perda para os humanos é maior do que o prazer de ganhar", explicam.

"O medo pode ser o mais eficaz de todos os mecanismos. Os anúncios agressivos são tão populares por isso. Eles tratam os adversários como perigosos (Marina Silva sendo destroçada pelo PT é um caso clássico)... o medo fala às nossas preocupações mais primitivas", resumem.

Como se tornar liberal?

De acordo com os estudiosos, o melhor método seria reduzir os sentimentos de vulnerabilidade, dos mais conservadores, o que acabaria por suprir o medo de sofrerem perdas e assim permite-se que a dopamina (agente de mudanças) fosse acionada.

Outra receita seria ensinar empatia, transformando grupos abstratos (cita gays e lésbicas) em indivíduos concretos. Segundo eles seria uma boa forma de acionar os circuitos de empatia (moléculas A&A).

Como fazer de você um conservador?

O processo inverso também é possível e existem meios para isto, asseguram os cientistas. Eles partem do princípio de que os conservadores se concentram nas ameaças mais do que os liberais. "quando pessoas de qualquer inclinação se sentem ameaçadas, elas tornam-se mais conservadoras. É por isto que ataques terroristas aumentam a popularidade de candidatos conservadores. Mas mesmo pequenas ameaças - tão pequenas que não temos conhecimento delas - empurram as pessoas para a direita.

Conclusão: Afaste-se dos políticos profissionais para manter a sanidade

A conclusão dos dois professores americanos é magistral, apresentada aqui de forma resumida.

"A política é um jogo de antagonismos. Assim, a falta de compreensão acarreta a demonização da parte contrária. Alguns políticos se beneficiam de incitar a hostilidade entre os grupos. Isto fortalece a lealdade de seus seguidores"

"Os liberais querem ajudar as pessoas a melhorar de vida. Os conservadores querem deixar as pessoas felizes. Os políticos querem poder". Bingo!

@blogdojamildo