Metroviários decretam estado de greve e afirmam que Lula descumpriu promessa sobre Metrô do Recife

Metroviários entram em estado de greve e prometem ampliar mobilizações contra concessão privada do Metrô do Recife. Grupo critica atuação de Lula

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 30/05/2025, às 09h05 - Atualizado às 10h08

Metroviários entram em estado de greve permanente - Foto: Divulgação
Metroviários entram em estado de greve permanente - Foto: Divulgação

Os metroviários de Pernambuco aprovaram, em Assembleia Extraordinária realizada nesta quinta-feira (29), a instauração de estado de greve permanente em protesto contra o avanço do processo de concessão do Metrô do Recife à iniciativa privada.

A decisão foi acompanhada por duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acusado pela categoria de não cumprir a promessa de retirar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) do Programa Nacional de Desestatização (PND).

Durante a assembleia, ocorrida na Estação Central do Recife, os trabalhadores reafirmaram a rejeição à Resolução nº 324 do Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI), publicada na semana passada.

A resolução estabelece as diretrizes para a concessão do sistema ferroviário à iniciativa privada, incluindo a transferência de ativos da CBTU ao Governo de Pernambuco, que ficará responsável por outorgar o serviço.

Antes da Assembleia, os metroviários aproveitaram a visita do presidente Lula para pressionar o Líder do Executivo Nacional contra o processo. O Sindmetro-PE colocou em telões de LED uma mensagem que igualava Lula ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que realizou concessão semelhante no Metrô de Belo Horizonte.

A mensagem apareceu em painéis de Salgueiro e Cabrobó, locais em que o presidente passou durante sua visita a Pernambuco. Segundo os metroviários, fontes próximas a Lula sinalizaram que o petista viu a mensagem.

O estado de greve aprovado funciona como um alerta: uma paralisação poderá ser deflagrada caso o processo avance sem diálogo com a categoria.

Entre as deliberações da assembleia, foi decidido o lançamento de uma campanha massiva de comunicação para denunciar os impactos negativos da privatização, além da criação de um Comitê Permanente em Defesa do Metrô Público e de Qualidade.

A crítica central dos metroviários recai sobre o suposto rompimento de compromisso assumido por Lula ainda durante a campanha eleitoral de 2022.

Naquele ano, o então pré-candidato recebeu um manifesto da categoria relatando a precariedade do sistema e Lula teria se comprometido a tirar a CBTU do Plano Nacional de Destatização (PND). Passados quase três anos de governo, os investimentos esperados não foram concretizados, e o processo de desestatização avançou.

Segundo o BNDES, responsável pela modelagem do projeto, a concessão do sistema metroferroviário está prevista para o fim de 2026, com início das operações privadas no ano seguinte.

A proposta inclui a gestão, operação e manutenção da malha, além da transferência de bens da União para o Estado. A modelagem segue o mesmo padrão adotado para o metrô de Belo Horizonte, já entregue à iniciativa privada.

Para o Sindmetro-PE, a privatização representaria risco à continuidade do serviço, possibilidade de aumento de tarifas e fechamento de estações, especialmente em áreas periféricas.

Uma nova assembleia da categoria foi marcada para o dia 9 de julho, mesmo dia em que os metroviários participarão de uma audiência pública convocada pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) na Câmara Municipal do Recife. Até lá, a categoria pretende intensificar as mobilizações, dialogar com a sociedade e cobrar uma posição oficial da gestão Lula sobre o futuro do sistema.