João Campos prega aproximação com o centro às vésperas de assumir comando nacional do PSB

Prefeito do Recife conciliará presidência do PSB com mandato municipal e articulações para eleição de 2026. Aliados citam estratégia para dividir tarefas

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 31/05/2025, às 11h01 - Atualizado às 11h38

João Campos assumirá a presidência do PSB Nacional no domingo (01) - Edson Holanda/Arquivo
João Campos assumirá a presidência do PSB Nacional no domingo (01) - Edson Holanda/Arquivo

A um ano e meio das eleições de 2026, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), assume no domingo (2) a presidência nacional do Partido Socialista Brasileiro, em substituição a Carlos Siqueira.

Sem adversários internos e respaldado por diferentes alas da legenda, Campos se torna o dirigente partidário mais jovem do país aos 31 anos e se prepara para comandar o PSB com discurso centrado na reaproximação com setores sociais e políticos historicamente distantes da esquerda.

No início do XVI Congresso Nacional do PSB, iniciado na sexta (31) em Brasília, João usou seu espaço de discurso para posicionar sua gestão como uma que buscará fortalecer a legenda em todas as frentes, sem abrir mão de sua identidade, mas com ênfase em atrair o centro político e segmentos sociais mais distantes da esquerda, como igrejas, agronegócio e trabalhadores autônomos.

O mundo ideal é que a esquerda tenha a capacidade de puxar o centro para perto, e não jogá-lo para a direita”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo nesta semana.

Para o prefeito, a eleição de 2026 exigirá do campo progressista uma frente “realmente ampla”, e o PSB pode exercer papel estratégico nessa costura.

Campos também defende que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) permaneça na chapa do presidente Lula.

João aproveitou a entrevista para Folha de São Paulo para alfinetar, entre diversas siglas, o PSD, partido que está a governadora Raquel Lyra (PSD).

Segundo o prefeito do Recife, esse tipo de posicionamento que evita declarar apoio antecipado para Lula é o que geraria “descrédito à política”.

Promessas em discurso

Durante o evento em Brasília, João Campos evocou o legado familiar do pai Eduardo Campos e do bisavô Miguel Arraes e exaltou os valores históricos da legenda. “Nosso partido nasceu da luta contra a ditadura, dos movimentos sociais, do sonho por justiça social. Essa origem está viva e é inegociável”, declarou.

Em tom simbólico, comparou o PSB a um “rio perene”: “A água passa o tempo inteiro, e a gente precisa que os partidos sejam perenizados. Que tenham vida, movimento, escuta, diálogo o tempo inteiro".

João também afirmou que pretende ouvir a militância e se fazer presente “nos quatro cantos do país”, mesmo diante das responsabilidades na gestão municipal. “Tenho um banco de horas de trabalho bem feito no Recife”, afirmou, em referência à administração da capital.

Articulação e críticas à polarização

Ao analisar o cenário nacional, João Campos usou o espaço com a Folha para criticar a radicalização do debate político e aposta no esvaziamento da retórica polarizadora.

Para o socialista, a maioria da população “sente cansaço” diante da disputa entre extremos. “A grande fragilidade da política é não compreender que as coisas mudaram. O PSB quer fazer essa leitura”, argumenta.

A agenda do futuro presidente do PSB tem o objetivo de incluir a aproximação com setores religiosos e comunicação mais assertiva com nichos do agronegócio, áreas onde o governo Lula enfrenta resistência.

João também defende o aprofundamento de pautas voltadas aos autônomos, jovens e trabalhadores informais, citando a necessidade de compreender e representar esse público no debate institucional.

Nova fase de João Campos e acúmulo de funções

Com o novo posto, João Campos passará a acumular três papéis com impactos diretos sobre o tabuleiro político de Pernambuco: o comando do PSB nacional, o mandato de prefeito do Recife e a expectativa de uma possível candidatura ao governo estadual em 2026.

Para o Jamildo.com, um correligionário de João Campos afirmou que já há uma estratégia para conciliar as demandas.

A ideia é que, enquanto o gestor mantém a vitrine administrativa na capital pernambucana, o partido assuma as ações de articulação estadual.

A intenção é blindar João de eventuais críticas por uso político da estrutura municipal ou abandono da cidade no qual ao eleito, ao mesmo tempo, consolidá-lo como principal nome da oposição à governadora Raquel Lyra (PSD).

Apesar de já ser dado como certo por diversos aliados, na entrevista o prefeito do Recife mantém a cautela ao dizer que seu foco essencial é “é continuar cuidando do Recife. O tempo vai dizer como isso vai se cristalizar”.