De malas prontas para o PT? PSOL-PE enfrenta desfiliações e possível saída de Dani Portela

Pelos bastidores, "desgastes" geram debandada do PSOL-PE e possível saída da deputada estadual Dani Portela da sigla

Yan Lucca

por Yan Lucca

Publicado em 31/10/2024, às 13h45

Dani Portela foi candidata à Prefeitura do Recife - Foto: Fran Silva / Equipe Dani Portela
Dani Portela foi candidata à Prefeitura do Recife - Foto: Fran Silva / Equipe Dani Portela

Findadas às Eleições municipais de 2024, pelos bastidores, uma movimentação no Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de Pernambuco indica uma possibilidade de mudanças nos quadros do partido no estado.

O que se comenta é que a deputada estadual Dani Portela, filiada ao PSOL desde 2016, pode estar com as "malas prontas" para deixar o partido que norteou sua vida pública.

No início da manhã desta quinta-feira (31), o companheiro de Dani Portela, o advogado Jesualdo Campos, um dos fundadores do partido, pediu a sua desfiliação da sigla e levou consigo outros dois membros do diretório do PSOL-PE.

Jesualdo, que foi uma das vozes ativas para a consolidação do partido no estado ao lado de outras figuras políticas já foi filiado ao Partido dos Trabalhadores e enxerga a possibilidade de retornar ao PT como natural, embora não tenha decidido nada publicamente.

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De acordo com informações dos bastidores, a saída dos três já estava sendo estudada ainda no início da corrida eleitoral pela prefeitura do Recife, e o motivo seria uma suposta divergência sobre a distribuição do Fundo Partidário - o money - para os candidatos proporcionais. Para não prejudicar a campanha e criar ruídos que eventualmente atrapalhassem a sigla o assunto foi deixado em segundo plano pelos psolistas.

O diretório nacional foi acionado para intervir na situação e diminuir as tensões internas, mas não respondeu às queixas.

Dani Portela, um dos principais quadros do PSOL, não falou publicamente sobre o assunto, mas de acordo com fontes ouvidas pelo Blog do Jamildo, o "PT é logo ali". A deputada, que disputou a prefeitura ficando em terceiro lugar e tendo uma das maiores votações da sigla no estado, é bem relacionada com o PT e teve como cabo eleitoral o deputado e ex-prefeito do Recife João Paulo, a quem a deputada não poupa em elogios e comentários.

Vale ressaltar que João Paulo foi uma das vozes que se opôs a ideia do PT integrar a Frente Popular do Recife, apoiando irrestritamente João Campos e não lançando um candidato próprio, onde historicamente, desde o processo de redemocratização, o PT participou das disputas majoritárias.

Além de João Paulo, Dani Portela esteve ao lado de outros e outras petitas, como a influenciadora e recém eleita, Karina Santos, além de "entrar de cabeça" no apoio a Vini Castello em Olinda no segundo turno.

De futuro, resta saber se após 2026, final do mandato de Dani Portela na Alepe, ela seguirá na sigla. A conferir.

Pelas redes sociais, Jesualdo publicou uma "carta aberta", confira:

"Depois de 20 anos de construção do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL, anúncio minha desfiliação.
Nossa luta sempre foi para colocar o PSOL numa condição de ser ouvido no cenário nacional e local. E neste objetivo conseguimos fazer o partido ser decisivo em momentos importantes da história política da esquerda, inclusive na sábia decisão de apoiar Lula no primeiro turno de 2022.

O PSOL se tornou o segundo maior partido da esquerda no congresso nacional, cumpriu um papel importante para ser inicialmente um guarda chuva para os descontentes em 2003, quando concentrou as centenas de militantes que poderiam ter desistido da luta se não tivessem o PSOL para se apoiar e hoje o partido cumpre um papel essencial na luta contra a extrema direita e pela defesa do governo Lula.

A existência do PSOL tem se mostrado essencial para a democracia brasileira com a atuação política e parlamentar em todos os espaços, sobretudo na Câmara Federal, na qual a bancada de deputados(as) tem sido gigante em todos os embates.

Por divergências internas anúncio juntamente com a companheira Fran Silva e o companheiro Anderson Barbosa a nossa desfiliação do PSOL.

Esperamos que essa ferramenta continue firme e possa refletir seu papel na sociedade brasileira.

Aos nossos companheiros(as) e camaradas que ficaram, deixamos o mais profundo abraço, na certeza de que estaremos sempre juntos na defesa de uma sociedade socialista.
Recife-PE, 30 de outubro de 2024"

Atualizado 17h56 | Presidente do PSOL lamenta saída de membros ligados a Dani Portela

"Nós, que construímos o PSOL Pernambuco, fomos pegos de surpresa com as desfiliações de Jesualdo Campos, Fran Silva e Anderson Barbosa, militantes vinculados ao mandato da deputada estadual Dani Portela. Os três anunciaram sua saída do partido publicamente antes que tivéssemos ciência e argumentam supostas divergências internas como a motivação.

Desde as eleições de 2018, o setor majoritário do partido apoiou, com grande ênfase, a trajetória política da atual deputada estadual Dani Portela. Foi assim na sua candidatura ao governo em 2018 e quando, após esse processo, o partido a contratou como advogada. Também apoiamos com grande ênfase nas candidaturas à Câmara Municipal do Recife em 2020 e a deputada estadual em 2022, quando o campo majoritário abraçou e deu condições estruturais necessárias para o êxito eleitoral. 

Neste ano, o apoio deste campo foi fundamental para a consolidação de sua candidatura à Prefeitura do Recife. Não é por acaso que a parlamentar teve, nessas eleições, o maior orçamento de campanha da história do PSOL em Pernambuco. Além disso, brigamos publicamente pela candidatura de Dani em disputas dentro da Federação, como foi de conhecimento da sociedade.

O PSOL é um partido de construção coletiva. Divergências fazem parte dos processos internos de deliberação. A composição do Diretório Estadual reflete a correlação de forças entre as organizações do partido. Tanto a deputada quanto os quadros que pediram desfiliação já haviam solicitado saída de sua organização interna no início do processo eleitoral por não aceitar deliberação legítima da maioria de sua organização. Esse movimento levou os dirigentes vinculados a Dani Portela a uma aproximação política com o setor minoritário e antipetista do partido. 

Nós, do PSOL, sabemos que, na construção coletiva, nem sempre a tese que um quadro defende será vencedora. É preciso construir na vitória ou na derrota e respeitar a decisão da maioria.  O PSOL Pernambuco lamenta a saída desses quadros, mas reafirma seu compromisso inabalável com os princípios da coletividade, da representatividade e da democracia, para além de interesses de um ou outro grupo. Espero que os recém-desfiliados encontrem seu caminho político. Seguimos na luta pela construção de um Pernambuco e um Brasil radicalmente igualitário e com soberania popular.

Samuel Herculano
Presidente do PSOL Pernambuco"

@blogdojamildo