Mulheres do Nordeste têm mais escolaridade, mas enfrentam dupla jornada e menor renda

Novo estudo da Sudene mostra que as mulheres do Nordeste têm mais que o dobro de jornada doméstica, enquanto têm maior escolaridade que homens

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 07/03/2025, às 10h42 - Atualizado às 12h00

Mulheres do Nordeste têm maior tempo de escolaridade, mas menores salários e grande jornada de trabalho doméstico - Marcos Pastich/PCR
Mulheres do Nordeste têm maior tempo de escolaridade, mas menores salários e grande jornada de trabalho doméstico - Marcos Pastich/PCR

Um levantamento divulgado nesta sexta-feira (7) pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) revelou que as mulheres nordestinas têm média maior de escolaridade do que os homens da região.

Apesar disso, a análise mostra que as figuras femininas do Nordeste são penalizadas por desigualdade na renda e na carga de trabalho doméstico.

Os dados fazem parte do boletim temático “Mulheres do Nordeste”, lançado em alusão ao Dia Internacional da Mulher, que será no sábado (08). 

De acordo com o estudo, as mulheres nordestinas têm, em média, 8,9 anos de estudo, contra 8,1 anos registrados entre os homens.

Elas também são maioria entre os concluintes de cursos de pós-graduação, 56,98% do total.

Mulheres que completam o ensino médio são 34,9%, no ensino superior 14,1%. Todos esses índices são maiores com relação aos homens nordestinos. 

Desigualdade de renda e carga de trabalho

Apesar da maior qualificação educacional, a desigualdade salarial continua entre o público feminino.

As mulheres nordestinas têm rendimento médio mensal de R$ 1.699,00, valor 15% inferior ao recebido pelos homens.

A disparidade econômica se soma à sobrecarga de trabalho doméstico. Segundo o boletim, as mulheres dedicam, em média, 23,5 horas semanais a tarefas de cuidado e afazeres domésticos, enquanto os homens destinam apenas 11,8 horas a essas atividades, mais que o dobro.

O estudo também apontou que o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) entre as mulheres nordestinas é de 0,313, o mais alto do país.

Essa realidade se reflete na participação feminina nos programas de transferência de renda: atualmente, 81,7% dos lares beneficiados pelo Bolsa Família na região têm mulheres como responsáveis.

Representatividade feminina na política

As mulheres compõem a maioria do eleitorado nordestino, correspondendo a 53% do total de votantes.

No entanto, a subrepresentação ainda é marcante. Com índices ainda abaixo do ideal, o Nordeste apresenta o segundo maior percentual de mulheres eleitas para o Legislativo municipal (19,5%) e lidera a participação feminina no Executivo municipal, com 21% das prefeituras sendo comandadas por mulheres.

"As mulheres nordestinas possuem um nível educacional superior ao dos homens, mas ainda enfrentam desafios como desigualdade salarial, dupla jornada de trabalho e subrepresentação política. Por isso, estamos investindo em políticas que ampliem as oportunidades e reconheçam o protagonismo das mulheres no crescimento regional", afirmou Gabriela Nascimento, estatística da Sudene.

A superintendência indicou que continuará no processo de implementação de ações voltadas à inclusão e ao fortalecimento da presença feminina em setores estratégicos.

"O Nordeste só cresce com a força de suas mulheres, e nosso papel é garantir que elas tenham as condições ideais para transformar a realidade econômica e social da região", destacou o superintendente Danilo Cabral.