O historiador Jones Manoel denunciou ameaça de célula neonazista internacional com discurso de ódio, extorsão e exposição de dados pessoais
por Plantão Jamildo.com
Publicado em 23/08/2025, às 13h08
O historiador e influenciador Jones Manoel denunciou, em suas redes sociais, ter recebido uma ameaça por e-mail de uma organização neonazista internacional. O ataque ocorreu na quarta-feira (20), duas semanas após os perfis dele no Instagram e no Facebook serem suspensos temporariamente. Ex-candidato ao governo de Pernambuco em 2022, ele afirmou que a mensagem tinha discurso de ódio e continha informações pessoais.
“Ataque racista, ameaça de morte, demanda por pagamento em dinheiro para não morrer, exposição de dados meus e várias viagens que fiz nos últimos anos (para criar medo e dizer que estão me vigiando)”, disse Jones em publicação no Instagram.
Segundo nota divulgada por sua defesa, o e-mail foi assinado pela Brigada Hitlerista Brasileira (Atomwaffen Brasil), grupo neonazista fundado em 2015 e apontado como organização terrorista internacional. O texto continha injúrias raciais, exigia pagamentos e afirmava que Jones estaria “na linha da bala por mais de 6 meses”. De forma ilícita, também foram compilados dados pessoais e informações financeiras.
Em contato com a reportagem, Jones Manoel informou que uma reunião com o CNDH foi marcada para esta segunda-feira (25). Ele também disse que já protocolou representação no Ministério Público Federal, solicitando investigação e a entrada da Polícia Federal no caso.
O Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) manifestou apoio ao historiador Jones Manoel, alvo de mensagens ameaçadoras atribuídas a uma célula nazista. A entidade informou que o caso foi reportado ao Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), para acompanhamento pela Relatoria Especial para o Enfrentamento às Formas Contemporâneas de Discriminação e Propagação do Discurso de Ódio.
A coordenadora-executiva do Gajop, Edna Jatobá, destacou a gravidade do episódio. “Casos como o das ameaças a Jones Manoel evidenciam como o discurso de ódio cria um terreno fértil para a violência extrema. Precisamos de ação firme, monitoramento contínuo e coragem política para interromper esse ciclo”, disse em informe ao site Jamildo.com.
O CNDH já apura o crescimento de grupos neonazistas no país desde o ano passado e passará a acompanhar também este caso. Em julho, uma comitiva do conselho esteve em Pernambuco em uma agenda de três dias, que incluiu visita ao centro de formação do MST em Caruaru, no Agreste, alvo de ataque com pichações de símbolos nazistas. A investigação confirmou que o incêndio no local foi criminoso, sem identificação dos responsáveis.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) apresentou à Organização das Nações Unidas (ONU) um relatório preliminar sobre o crescimento de grupos neonazistas no Brasil. O documento, entregue em 2024, reúne levantamentos de diferentes instituições e classifica o cenário como preocupante.
Entre as referências citadas está a pesquisa da antropóloga Adriana Dias, falecida em 2023. O estudo apontou um aumento de 270,6% no número de células neonazistas no país entre janeiro de 2019 e maio de 2021, com registros em todas as regiões. Segundo o levantamento, no início de 2022 havia mais de 530 núcleos extremistas ativos, que propagavam discursos de ódio contra mulheres, judeus, negros e a população LGBTQIAP+.
O relatório do CNDH também menciona que, em 2021, a Central Nacional de Crimes Cibernéticos — mantida pela ONG SaferNet em parceria com o Ministério Público Federal — recebeu 14.476 denúncias anônimas de práticas relacionadas ao extremismo. Há ainda referência a dados do Observatório Judaic
o sobre episódios de antissemitismo no Brasil entre 2019 e 2022.
O documento traz registros de apreensão de fardas, bandeiras, armas e objetos com símbolos ligados ao nazismo, como a suástica e imagens de Adolf Hitler. O CNDH destaca ainda a relação entre o crescimento dessas células e ataques em escolas. Um dos casos citados ocorreu em dezembro de 2022, em Aracruz (ES), quando um estudante de 16 anos matou quatro pessoas em duas escolas. O jovem usava farda militar e uma braçadeira com símbolo nazista.