Desigualdade social tem impacto direto no envelhecimento, revela estudo

Pesquisa internacional com dados de 40 países mostra que viver em contextos de desigualdade e instabilidade pode acelerar o declínio cognitivo

Plantão Jamildo.com

por Plantão Jamildo.com

Publicado em 21/07/2025, às 14h58

Mão de uma pessoa mais nova sobre a mão da mão de uma pessoa idosa, segurando uma bengala
Mão de uma pessoa mais nova sobre a mão da mão de uma pessoa idosa, segurando uma bengala

Um estudo publicado na revista Nature Medicine revela que o envelhecimento do cérebro humano não é influenciado apenas por fatores individuais, como genética e estilo de vida, mas também por condições sociais e políticas do país onde a pessoa vive. A pesquisa analisou dados de 161.981 pessoas em 40 países, incluindo o Brasil, e aponta que contextos de alta desigualdade social, instabilidade política e poluição ambiental aceleram o declínio cognitivo e funcional da população.

A investigação foi realizada por 41 cientistas, entre eles três brasileiros vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com apoio do Instituto Serrapilheira. Os pesquisadores utilizaram modelos de inteligência artificial e modelagem epidemiológica para estimar as chamadas “diferenças de idade biocomportamentais” (BBAGs, na sigla em inglês), que medem a distância entre a idade real de uma pessoa e a idade estimada com base em variáveis como saúde, cognição, funcionalidade, escolaridade e fatores de risco, como doenças metabólicas e deficiências sensoriais.

Os resultados mostram, de maneira marcante, que o local onde vivemos pode nos envelhecer de forma acelerada, aumentando o risco de declínio cognitivo e funcional. Em um país desigual como o Brasil, esses achados são extremamente relevantes para políticas públicas”, afirmou Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e um dos autores do estudo.

Ambiente político e desigualdade impactam diretamente o cérebro

Os cientistas identificaram que viver em países com baixa renda média, alta desigualdade de gênero, pouca representação política e fraca qualidade democrática pode contribuir para o envelhecimento precoce. Fatores como liberdade partidária limitada, poluição do ar e corrupção também aparecem como aceleradores desse processo. De acordo com o estudo, a desconfiança no governo e a polarização política aumentam a mortalidade e fragilizam as respostas de saúde pública.

Antes de focar em riscos individuais, as autoridades de saúde devem priorizar a diminuição das desigualdades sociais e o desenvolvimento regional para promover um envelhecimento populacional mais saudável”, avaliou Lucas da Ros, também pesquisador da UFRGS e coautor da pesquisa.

Entre os países com envelhecimento mais lento do cérebro estão França, Alemanha, Suíça, Coreia do Sul, China, Israel e Índia. Já entre os mais afetados estão Egito e África do Sul. O Brasil aparece em posição intermediária.

O local de nascimento e de moradia influenciam de maneira desigual o cérebro de todos. Viver na Europa, na África ou na América Latina tem níveis diferentes de impacto no envelhecimento por causa da disparidade na disponibilidade de recursos e acesso à saúde”, explicou Wyllians Borelli, outro dos brasileiros que assinam o estudo.

*Com informações da Agência Brasil